quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Voltando aos juros

É mais do que certo que o país não pode manter estas taxas de juros indeterminadamente. Se pagamos pelos empréstimos juros mais altos do que o crescimento do PIB, é óbvio que em algum momento nossa capacidade de saldar estes empréstimos será ultrapassada. E quanto mais alta for esta diferença, mais rápida será alcançado este limite de solvência. Portanto, estamos jogando fora a capacidade de endividamento e estamos conseguindo com isto apenas mais dívidas.
Há apenas duas possibilidades em que torna moral e economicamente possível aceitar o endividamento de um poder público. Quando estes empréstimos possibilitam que um serviço essencial seja exercido ou quando eles fazem com que a infra-estrutura fornecida pelo estado possibilite um crescimento econômico maior do que as taxas de juros, tornando a sociedade como um todo mais rica, e - por tabela - aumentando a capacidade de estes empréstimos serem saldados.
Estas duas possibilidades lógicas não estão sendo cumpridas, então as taxas de juros que nosso estado está pagando, voluntariamente, estão empobrecendo toda a sociedade, em benefício de uns poucos que possuem capacidade para aplicar em títulos públicos, tanto aplicadores estrangeiros quanto brasileiros.
Esta política de juros altos é até o momento subsidiada pelo aumento de tributação da sociedade, e será assim até que a sociedade impeça que esta expropriação continue.
Uma expropriação que começa hoje através de impostos e continuará no futuro pela divida crescente ou pela moratória que certamente virá pela incapacidade de pagamento caso este processo persista.
Isto não é uma questão de pensamento de esquerda, que certamente não tenho, mas de pura lógica.
Tentar assassinar a lógica com base em falsas premissas de combate a inflação é um crime de responsabilidade, que o atual governo está cometendo com todo o “fervor revolucionário”.

Gigante desnaturado

Os dias vão passando e continuamos a ter a maior taxa de juros reais do mundo.
Por quê?
Todos os defensores afirmam que é devido ao combate a inflação, mas será verdade?
Juros altos combatem a inflação com características brasileiras? Tenho minhas dúvidas.
Juros são eficazes em situações em que há uma grande demanda reprimida e facilidades de crédito para que as pessoas possam atender esta demanda, o que poderia fazer com que a oferta ficasse desequilibrada.
No Brasil certamente existe uma grande demanda reprimida, sem dúvida, mas o crédito é tão restrito que chega a ser ridículo que tenhamos que tentar dificultá-lo ainda mais.
Outro detalhe é que o crédito é dificultado indistintamente. Mesmo o aumento de produção, que certamente faria a oferta maior, combatendo possíveis surtos inflacionários, tem taxas altamente desencorajadoras.
Ainda mais se calculamos as taxas de retorno das empresas, na média menor do que 10% ao ano, com as taxas de retorno dos investimentos em títulos públicos, atualmente maiores do que 14% no mesmo período. Que capitalista quereria arriscar seu capital e ainda trabalhar se pode emprestar seu dinheiro para o governo, viver de juros e com riscos muito menores; concordo com vocês, só um capitalista louco.
Desta maneira, ao invés de diminuirmos as condições para que tenhamos inflação baixa, estamos criando uma bomba que poderá ter um efeito inflacionário no futuro, quando esta demanda for liberada.
O pior de tudo é que estamos utilizando este instrumento contraditório como se nossa economia fosse totalmente submetida às compras no crédito, quando estas estão presentes apenas em uma pequena parcela da economia formal.
Como esta economia formal é responsável por perto da metade da economia real, estamos utilizando o remédio com doses exageradas em uma parcela para tentar conter os preços de todo o sistema.
E todas as medidas que poderiam fazer com que a realidade se aproxime da oficialidade são deixadas para lá, pois é mais fácil descontentar a uma grande e amorfa parcela de brasileiros que tentar mudar as regras atuais do jogo, que têm vencedores ativos e que se aproveitam do gigantismo do Estado em relação à nossa economia.
Não precisamos de choques de gestão, de capitalismo, de eletricidade; precisamos apenas acordar para o óbvio, que os agentes públicos devem pensar no público e restringir-se isso.
Esta já seria a grande revolução, e problemas como este do gigantismo do Estado e de sua dívida seriam coisas do passado.

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Golaço?

Admito que o gol do Robinho cause admiração pois passou por todos os "mágicos" do quarteto, só que não vamos fingir que aquilo foi combinado.
Depois do lançamento açucarado de Robinho para o Adriano, e do eficiente drible que o centravante deu para se desmarcar, este deu uma engrossada fenomenal.
O cruzamento que o Adriano deu foi digna de zagueiro de roça. Temos que exaltar a recuperação do Kaká, que conseguiu do jeito que deu, que deixou a bola em condições boas para que Ronaldinho pudesse presentear Robinho com o gol.
Se tudo somado foi plasticamente bonito, foi um acidente.

sábado, 3 de setembro de 2005

A maior nação da terra

Esta é a expressão mais ouvida em qualquer reunião de norte-americanos falando de seu próprio umbigo.
Como qualquer um que fala, pensa e vive olhando para seu próprio umbigo, não conseguem ver um palmo adiante dos narizes, talvez devido à protuberância adiposa em meio ao qual este umbigo está.
Se conseguissem olhar um pouco ao redor de si próprios, os norte-americanos teriam percebido que há muito não há nada que os possa por em posição que justifique esta expressão.
Primeiro por que não existe esta grande nação americana. Como podemos ver claramente nos vídeos sobre a catástrofe, há pelos menos duas nações bem distintas e não comunicantes. A afro-americana e a dos outros; particularmente acredito que há muitas outras naquele país.
Estas duas não se comunicam, não se misturam e não se gostam. Vivem se afrontando mutuamente e consideram a outra culpada pelas mazelas de sua sociedade.
O segundo ponto que não tem nenhuma conexão com a expressão é o de ser a mais avançada tecnologicamente. De fato houve uma época em que eles primavam pela mais avançada tecnologia na face da Terra, só que isto foi a muito, muito tempo atrás; talvez nos primórdios da revolução digital.
Hoje, a tecnologia está bastante disseminada, e todas as novas “maravilhas” apresentadas dia após dia parecem ter em seu coração dna europeu ou asiático. Para não dizer que os norte-americanos não contribuem com nada, está aí o marketing dos quais eles ainda são os reis.
Só que como são os reis do assunto, eles devem saber que marketeirismo necessita de um substrato, por menor que seja, para prosperar.
Esta aí a razão da forma pela qual a popularidade de George W. Bush está fazendo água tão rápido quanto a cidade de Nova Orleans. Em tudo, tudo - repito, tudo - que se propôs, o governo Bush fracassou.
Como querer que os outros creiam que um fracasso atrás do outro demonstre que uma nação é a maior.
A população dos Estados Unidos deveria pegar o exemplo de seu presidente e derrubar o líder de uma nação que atrapalha seus planos e bem-estar.
O derrubado seria certamente um tal de W. Bush.

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

A força do terrorismo

Enquanto os ocidentais ficam se lamentando de sua sorte por ter que lidar como terrorismo islâmico, os iraquianos são forçados a carregar um fardo muito mais pesado.
Este é uma combinação de guerra civil pelo poder, revanchismo étnico, ocupação estrangeira, luta contra esta ocupação e terrorismo puro e simples.
Este caldo trágico mostrou sua força assassina ontem, com a tragédia que vitimou mais de mil pessoas, durante procissão xiita.
O pânico foi tão grande que provocou estas mortes e ferimentos baseados unicamente nos gritos de que haveria um homem-bomba no meio do cortejo, de existência não comprovada.
Esta é a verdadeira vitória do terrorismo. Desde a mais famosa ação deste conflito, aquela de 11 de setembro, ocorreram mudanças de regimes, de governos e de políticas; tudo motivado por atos e contra-atos terroristas.
Embora algumas destas ações tenham sido menos motivadas pelo terrorismo, e sim utilizado esta bandeira anti-terrorismo como diversionismo, tudo agora passa a formar uma enorme corrente de transmissão que passa a levar frustrações e problemas locais para um nível local.
Tomemos um caso isolado, o assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes. Aquele foi claramente um caso terrorista, no sentido de dizer para os possíveis “atentadores”: olhem o que faremos com vocês; nós não importamos com os da sua laia; vocês não são nada.
O maior problema para os policiais que o executaram foi que estes foram de uma incompetência a toda prova. Além de matarem um inocente, perderam todas as chances de neutralizar aquele que poderia ser um terrorista – lembrando que ele esteve em um ônibus e em um vagão de metrô, no qual foi executado, e, caso fosse esta sua intenção, poderia ter explodido um dos dois. Sem contar com a tentativa má-sucedida da Scotland Yard de fraudar as investigações independentes sobre o caso.
O próprio Iraque se converteu de um Estado autoritário, mas estável, em um território em balbúrdia. Sem segurança, sem governo e em colapso econômico. E com milhares de terroristas circulando livremente.
Em resumo; os estados democráticos pioraram, os autoritários pioraram, as perspectivas de vida pioraram. Portanto os objetivos dos terroristas islâmicos estão mais próximos, eles estão vencendo.