sexta-feira, 25 de novembro de 2005

A cara da crise (você, eu e todos que nada fazemos para que os "responsáveis" o sejam)

Só o que se ouve atualmente é que a crise disto, crise daquilo e, talvez, até uma crise institucional entre os poderes da República.
Porém, se há uma crise de fato, é a crise de responsabilidade das autoridades constituídas.
A estas não se cobra a responsabilidade pelos seus atos; como se imagina que eles próprios se sentirão responsáveis por estes? Só a fé na raça humana mesmo poderia nos fazer crer nisto, e ela está desacreditada não apenas nestas paragens.
Tomemos como parâmetro o notório caso do juiz de Contagem que anda soltando condenados. Se aos possíveis, na verdade prováveis, delitos destes ex-detentos fosse imputada co-autoria ao excelentíssimo juiz, nenhum deles estaria nas ruas. Estariam todos muito mal-confinados em Contagem, de modo que os crimes seriam de outros.
E quem seriam estes outros. Em última instância de nosso presidente, Lula, e do governador do estado de Minas Gerais, Aécio Neves – mas podemos dizer o mesmo de todos os governadores do Brasil, uma vez que não existe nenhum estado no qual este problema está equacionado. Se as cadeias e prisões estão neste estado lastimável, é por que os administradores públicos não dão a mínima para o problema da população encarcerada deste país.
Todos os administradores deveriam, já há muito, ter resolvido estes problemas. Mas quem liga para os presos? Boas condições destes dão votos para quem? Aqueles que morrem ou ficam doentes quando internos destas instituições podem cobrar de quem?
No máximo pinta um processo contra o Estado, este eterno provedor.
O diretor da prisão pode eventualmente ser trocado, o juiz corregedor pode eventualmente ter uma noite mal dormida para se defender das acusações. O Secretário de Segurança Pública nem ao menos fica sabendo, imaginem o Governador ou o Presidente.
Só que esta situação não ocorre apenas neste quesito da administração pública. Está em todos os aspectos de nossa administração.
Está na lei mal escrita, na decisão mal tomada, na estrada mal construída e na investigação mal conduzida. Em tudo então.
No dia em que as ações ou omissões irresponsáveis começarem a trazer conseqüências aos hímens públicos desta nação este país estará automaticamente consertado. Tudo funcionará como em uma orquestra de virtuoses e todos poderemos dormir tranqüilos.
Até lá, estaremos no Brasil.

Obs: aparentemente o juiz de Contagem (o nome é muito complicado para que eu atreva a tentar escrevê-lo) está coberto de razão, perante a lei. Se a sociedade não tem condições de manter os detentos em situação ao menos decente, como podemos querer que ela os mantenha detidos?

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

E o cínico sou eu?

Nada mais desagradável do que assistir aos depoimentos destes deputados acusados de receber verbas “não-contabilizadas” das contas de Marcos Valério ou, como preferem alguns, do Valerioduto.
Hoje, João Paulo Cunha teve a cara de pau de dizer que não havia nada de errado em com o que havia feito. Recebeu sim, os recursos, e daí?; disse.
A culpa tinha toda sido do tesoureiro, aquele demoníaco ser que faz brotar dinheiro, não se sabe de onde, para toda e qualquer necessidade.
O deputado do partido amigo está sendo ameaçado de perder o cargo; chama o tesoureiro.
Precisamos de uma pesquisa eleitoral, chama o tesoureiro.
Queremos um álibi, tesoureiro.
Assinei sem ler, o culpado é o mordomo, quer dizer, o tesoureiro.
O partido está metido em um atoleiro financeiro, é claro que o culpado é o tesoureiro.
Culpado, não, desculpe, me expressei mal. O responsável é o tesoureiro.
Nesta crise toda não há culpados, além de Roberto Jefferson.
Os outros são apenas vítimas da situação. Todos têm bom coração, querem o melhor para o povo.
Se andam recebendo caixas de conteúdo suspeito, é para melhorar as relações com os países amigos.
Obras suspeitas financiadas pelo BNDS mundo afora? Oras, são países amigos.
Carros de presentes? Mas quanta desconfiança, são primeiros-secretários amigos.
Centrais de negócios em Brasília? São apenas ex-amigos.
E os indícios de irregularidade? Todos baseados em denuncismo irresponsável, todas as denúncias são vazias, nada ficou provado, mesmo quando as provas estão aí aos olhos de todos.
Quem não acredita nas desculpas; esfarrapadas, diga-se de passagem? Um bando de militantes da elite, desgostosa com os lucros crescentes de suas aplicações financeiras. Ou não era este o raciocínio de Joãozinho Trinta, que quem gosta de luxo é o pobre. Nossas elites devem estar fartas de verem o seu aumentando.
Já fui acusado muitas vezes de ser cínico, mas se quero mesmo aprender a sê-lo, terei que fazer um estágio em Brasília. É lá que estão os mestres.

quarta-feira, 23 de novembro de 2005

Volta das férias

Após dois meses de ócio e preguiça, estou de volta.
Como não tenho que me preocupar com os leitores, que ainda não tenho, começo amanhã, ou depois, ou depois ainda....