domingo, 30 de julho de 2006

Excessos

Não me dou bem com os excessos, a não ser o de sono.
Devido a isto estou me abstendo de comentar esta semana, pois há muito a ser dito. Os jornais andam até gordinhos.
Mas tenho que fazer dois breves comentários.
Primeiro, Israel está mesmo querendo se suicidar frente a opinião pública internacional. Nem Mr. Bush e os seus cristãos renascidos - aqueles que querem reconstruir o templo de Salomão em cima da Mesquita de Al-Aqsa - gostam de ver criancinhas sendo retiradas dos escombros. Ele deve ter ligado para o primeiro-ministro Olmert e dito: assim não dá, o que vou dizer lá em casa.
Pois foi um excesso de força por parte dos israelenses.
O segudo comentário é a respeito do nosso presidente; ele achou mais uma coisa para não saber agora.
Depois de não saber nada sobre o caixa dois da própria campanha, de ter chorado (ou não, dependendo da versão) quando foi informado do mensalão (também depende da versão se foi ou não, já que depois disso ele voltou a não saber de nada) e de não - precavidamente - saber de nada que acontecerá nos Correios cedidos a título de feudo ou porteira fechada ao PMDB; o que ele imagina o espiará das culpas que tem, mesmo que subjetivamente, agora deu pra não saber quando é presidente e quando é candidato.
Eu não sou muito sabido também, porém posso dar umas dicas para o homem, tirada de um dos muitos discursos de improviso que um certo Luís Inácio dá por aí. Político está em campanha da hora que acorda à hora que dorme, todos os dias da sua vida.
Presidente também deveria ser assim, durante o seu mandato pelo menos, só que não me lembro de ter ouvido o sábio Inácio falar a respeito, então creio que não seja assim.
Portanto, presidente lembre do que o Inácio disse quando estiver em dúvida. Você certamente está em campanha; se governa algum minuto ou ao menos o fez no passado recente, tenho cá minhas dúvidas.
De qualquer forma, há excesso de ignorância no mandatário-mor do país.
Vou-me, mas circunstâncias me lembraram de outro excesso com a qual me dou bem. O de gols quando o Santos faz; como fez com o pobre time reserva do São Paulo agora a pouco.

segunda-feira, 24 de julho de 2006

O que vale é a capa

Em tempos de exaltação da educação é desalentador o que se infere do texto de Celso Ming no Estadão de ontem.
Nele se mostra que as praticas de consumo das famílias brasileiras - principalmente as de classe média – se modificaram profundamente.
Com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) –mais precisamente da Pesquisa de Orçamento Familiar (PDF) – percebe-se que se gasta cada vez menos com alimentos e mais com itens como serviços de telecomunicações e aparelhos eletrônicos.
Porém o que mais me chamou a atenção foi a desproporção entre o que se gasta com cursos extracurriculares e o que se gasta com higiene e beleza. E o pior, a diferença está aumentando com o tempo.
Os números apresentados demonstram que com cursos as famílias gastam 0,39% da renda (no passado 0,36%) e com higiene e cuidados pessoais 2,17% (anteriormente 1,96%).
Como vemos há um gasto cinco vezes maior com beleza do que com aprimoramento educacional.
É a prova de que esta marola de exaltação do conteúdo ainda não é nada frente o vagalhão de valorização da forma.
Portanto não se deixe enganar, na nossa sociedade mais vale investir no “lay-out”. O curso de aperfeiçoamento pode até ser um diferencial caso ocorra um empate no item mais importante.
E isto não ocorre só com relação às pessoas, ocorre com todos os itens comercializáveis também.
Então deixemos com este papo-furado de que somos preocupados com o interior; o que vale mesmo é a capa, e não se fala mais nisso.

quarta-feira, 19 de julho de 2006

Desindustrialização

Diz-se por aí que o país está passando por um processo de desindustrialização; que seria a diminuição do peso da indústria manufatureira na economia do país.
Vamos aceitar que ela está ocorrendo, o que de fato não tenho elementos para confirmar ou negar (apesar de eu acredito que não esteja, pelo menos em níveis absolutos); carece de perguntar, e daí? O que perdemos ou ganhamos com isso?
E resposta das pessoas que ficam nos dizendo que isto está ocorrendo é que isso é ruim; escandalosamente ruim, contra os interesses nacionais.
Que transfere empregos de alta qualidade e melhor remunerados para outros países, enquanto temos que nos contentar com os maus empregos fornecidos pelos setores primários e terciários da economia.
Isto envolve uma série de preconceitos por parte de quem diz isso.
O primeiro é que o setor manufatureiro (ou segundo setor, de transformação) é mais nobre do que os demais.
Isto não é verdade, nem absoluta nem relativa. Todos os setores são igualmente necessários e nobres; pois igualmente servem para a mesma função, cobrir as necessidades humanas.
Sendo assim, os empregos de um setor não são necessariamente melhores do que os de outro. Nem na condição de trabalho e nem na remuneração oferecida.
Na verdade, os empregos mais valorizados e bem pagos costumam ser no terceiro setor; e mesmo quando nos demais setores, em atividades que se aproximam das características deste.
Portanto a qualidade dos empregos não é uma boa explicação para se lamentar uma possível desindustrialização.
Tampouco o é a transferência absoluta de empregos. Primeiro porque não está ocorrendo um comércio de uma única via nos itens manufaturados. Tanto as importações quanto as importações estão crescendo e as possíveis demissões provocados por uma podem ser compensadas pela outra.
E o segundo fato é que de modo geral as empresas estão transferindo suas plantas industriais dentro do Brasil e não para outros países.
A verdade é que os defensores de que o Brasil está vivendo uma crise de desindustrialização e de que é preciso fazer algo para impedi-la são lobistas, muitos involuntariamente, das empresas ineficientes que querem alguma compensação financeira para manter-se no mercado; ou seja, eles querem tornar más empresas economicamente viáveis com o dinheiro alheio – no caso dos contribuintes. Socializar o prejuízo, como é o costume por aqui.
Usar recursos públicos para defender empregos industriais em fábricas ineficientes não é mais produtivo para o país do que aplicá-los na defesa de ineficientes estabelecimentos rurais. Por que privilegiar um em detrimento de outros?
Não há dúvidas que precisamos de políticas que auxiliem a criação de empregos e que reforcem os que já existem, mas não é perpetuando estes artificialmente que faremos um Brasil melhor no futuro.
Temos que empregar os recursos do modo mais eficiente possível. E isto inclui debelar as ineficiências.

segunda-feira, 17 de julho de 2006

Lixo da história

Não sei bem a que esta expressão se presta mas desconfio que é para lá que os dirigentes de Israel estão tentando levá-lo.
Todo país é uma abstração histórica, mas Israel é isso elevado a máxima potência.
Foi criado a pouco menos de 60 anos; fruto do gênio de alguns de seus líderes no movimento sionista, a simpatia mundial provocada pela repulsa ao Holocausto judeu e o desapego de uma Inglaterra destroçada por uma de suas colônias menos lucrativas.
A partir destes fatores foi criado por uma resolução da Onu e prosperou pela solidariedade religiosa dos imigrantes provenientes de comunidades judaicas ao redor do mundo e encontra-se hoje entre as nações mais desenvolvidas do mundo, sendo uma potência militar dominante no Oriente Médio.
Por quê estaria sendo levada para o lixo da história então?
A razão é que Israel está erodindo seu maior patrimônio frente a comunidade das nações: a simpatia que a maior parte da opinião pública internacional nutria pelo país e seu povo “sofrido”.
As aspas estão aí pelo fato que o povo que vive em Israel agora não tem nada de sofrido, pois reside em uma democracia com alto padrão de vida e são muito poucos os
sobreviventes entre os desafortunados que viveram as agruras dos campos de concentração nazistas ou dos gulags soviéticos.
Em oposição à antiga imagem sofredora, começa a surgir cada vez mais a da nação opressora; que desrespeita a décadas uma resolução da Onu (mesmo mecanismo que permitiu sua criação) para devolução de territórios ocupados durante guerra contra seu vizinhos árabes e que permite crises humanitárias nestes mesmos territórios. Tenha ou não razões de segurança nacional para isso, não há como ficar bem na foto assim.
Se já havia ocupado a posição de vilã, e amalgamado na sua existência a razão de ser dos fracassos materiais, em todas as nações islâmicas (cujos dirigentes reforçam esta visão escapista da população para facilitar o domínio político), a perda do patrimônio simbólico frente a população das grandes democracias ocidentais pode ser um tiro mortal para a sustentabilidade do país.
A espiral de violência que está tomando proporções assustadoras e levando as autoridades israelenses a retaliações desproporcionais contra alvos civis (neste caso pessoas sem ligações diretas com os grupos que, dependendo do lado que clama, são chamados de terroristas ou de heróis) pode levar a uma depleção ainda mais rápida deste simbolismo; o que só interessa aos grupos que planejam “varrer” Israel para o mar.
Apesar de ser uma ilha de desenvolvimento econômico e social em uma região com índices lastimáveis nos dois quesitos, Israel já sofre os problemas causados pela Intifada – com a indústria turística em franca recessão.
Converter-se em um paria, uma verdadeira ilha em relação ao mundo como fez a África do Sul sob embargo devido ao Aparthaid, trará apenas sofrimento ao povo israelense. Conscientemente ou não é o que as autoridades estão fazendo, um desserviço àquela nação.

quinta-feira, 13 de julho de 2006

E ninguém está indignado

É duro ter que concordar com a Miriam Leitão (ver comentário de hoje na rede Cbn), mas nós somos uma cambada de bundas-moles mesmo.
Se todos sabemos que existe um grupo terrorista que se financia com x,y e z crimes e que este pode ser destruído se tais crimes forem combatidos, por que não os combatemos?
E tem mais, ficamos aí assistindo nosso dinheiro ser desperdiçado e nada fazemos.
Está mais do que claro que colocar este bando de meliantes em cadeias gigantes é jogar dinheiro fora, e deixamos que o governo continue fazendo cadeias gigantes.
Não sei qual é de fato a justificativa para que elas sejam construídas, talvez economia de escala, mas sei que elas trazem uma série de outros custos embutidos.
Só o fato de misturar uma meia dúzia de presos perigosos e com grandes quadrilhas por trás de si com um bando de ladrões de galinhas já é um custo muito grande. Temos que fazer com que a segurança de todo um complexo, que poderia ser muito mais branda, seja feita para conter os quadrilheiros.
E há uma série de outros custos que o gigantismo dos presídios alimenta.
E não é só aí que vemos nosso dinheiro se evaporar na segurança pública.
Compramos carros para as polícias e vemos estes terem manutenção deficiente.
Compramos sistemas de informática que não conversam entre si, obrigando a duplicidade.
Pagamos horas não trabalhadas.
Etc, etc e etc.
E fica tudo por isso mesmo.
O Skank é que está certo “nossa indignação é uma mosca sem asas, não ultrapassa as janelas de nossas casas”.

quarta-feira, 12 de julho de 2006

Assassinatos improdutivos

Voltando ao assunto de ontem sobre o franco desrespeito ao Estado de Direito, podemos dizer que além de tudo ele não funciona para o que se propõe.
Falo expressamente do justiçamento dos inimigos do Estado. Especialmente os apresentados como a fonte de todos os males, o inimigo público número um que aparecia nos velhos filmes e desenhos americanos.
Na semana passada o embaixador norte-americano no Iraque, Zalmay Khalilzad, comentando sobre a situação da violência no país após a morte de Abu Zarqawi, que era até então o homem mais procurado pelas forças de segurança iraquianas e de ocupação norte-americana, confirmou que ela não havia cedido e sim se agravado o número de ataques.
Nada mais natural.
Temos exemplos flagrantes aqui mesmo. Por décadas temos visto nossas forças de segurança eliminar traficantes, bandidos da luz vermelha (este não foi eliminado pela polícia, porém fica como imagem), assaltantes de bancos, seqüestradores e qualquer categoria que esteja em alta no momento como preocupação da sociedade, sem que isso tenha diminuído um ponto sequer dos índices de violência à pessoa.
E acredito que a situação da Tchetchênia não ira mudar em nada, se não piorar, ao contrário do que pensam as autoridades (ver link no texto de ontem).
A experiência mundial tem mostrado que o que previne a violência é o desbaratamento das organizações criminosas e para isso é muito mais útil prender os líderes do que matá-los. O simples assassinato destes apenas provoca a subida dos números dois, três, quatro e etc....
E com eles é visto um novo surto de violência, ou por que precisam mostrar serviço logo e justificar sua liderança ou por que necessitam lutar por ela com os demais reivindicantes do cargo.
Pensando no nosso umbigo, com o PCC ameaçando a ordem natural e os policiais fugindo dos bandidos, vemos que precisamos de um choque de Direito. Se cumprirmos as leis que já existem não teremos nenhum problema com celulares entrando no presídio, não teremos que pensar em bloqueadores e etc e tal.
Pois é, o Estado de Direito é muito chato; pena que não inventaram nada mais eficiente ainda, ou mais seguro para aqueles que não estão no comando.

terça-feira, 11 de julho de 2006

Estados sem direito

Estamos tendo aulas seguidas, semana após semana, mês a mês, de que o Estado de Direito é uma abstração cada vez mais distante da realidade do conjunto das nações, mesmo as ditas civilizadas ocidentais.
O ponto mais evidente desta tendência de ignorar o Direito é a comemoração das autoridades estabelecidas cada vez que um dos inimigos públicos da vez é justiçado.
Cada uma das respectivas sociedades soltou gritos de júbilo quando foram mortos Abu Al-Zarqawi, Shamil Basayev, supostos membros do PCC ou líderes do Hamas.
E aí está o erro. A atitude “antes ele do que eu” é perfeitamente justificável em um confronto armado, só que ao se tratar de um Estado estabelecido não se pode aceitar a comemoração de um assassinado – mesmo que a vítima de fato mereça morrer -, que na verdade é o que a eliminação de um inimigo público significa (mesmo nas sociedades nas quais é aceita a pena de morte é necessário um julgamento justo para validá-la).
O vale-tudo na resolução de um problema é o mais rápido e eficiente meio de se criar outros. Quando aplicado por governos isto se potencializa. Ou vira totalitarismo ou anarquia; e nas sociedades nas quais um deles se instala só há lugar para o retrocesso.
Pense nisso na próxima vez que ouvir falar de um ato arbitrário ou de uma solução quase-legal para um imbróglio. Aceitando-os você poderá acordar um dia surpreendido como personagem de “1984” ou de “Mad Max”. Ou pior ainda, pode ir dormir com o noticiário falando de mensalões e de governos bisbilhotando a vida de seus governados.

sexta-feira, 7 de julho de 2006

Tecnologia natimorta

Com a chegada às lojas dos primeiros títulos gravados em discos Blu-ray, começa uma sangrenta batalha para a definição do padrão que dominará a gravação comercial de audiovisual pelos próximos anos. O concorrente é o Hd-dvd.
Mas não importa quem saia vencedor, será uma vitória de Pirro. A tecnologia já nasce natimorta para o uso em grande escala, sobrará o seu uso para a gravação de documentos que precisam de grande confiabilidade e que devam ser menos sujeitos à fraude.
Com as melhorias em confiabilidade, custo e velocidade dos meios de transmissão de dados digitais e também dos de gravações domésticas (principalmente discos-rígidos de alto-desempenho) o resultado já está decidido a médio-prazo.
O consumidor comprará uma licença de uso e baixará do material quando quiser assisti-lo ou simplesmente o guardará em disco-rígido, como os usuários de tocadores de mp3 já fazem.
Serão pouquíssimos os que manterão espaço físico reservado para os numerosos discos, até mesmo pela falta de praticidade, e este deverão formar um nicho de mercado caro e exclusivo – como é o de colecionadores de LPs, por exemplo.
Até os maiores incentivadores do uso destas novas mídias de gravação acabarão por preferir a transmissão de dados digitais. Se no momento o Blu-ray e o Hd-dvd são as esperanças por parte dos estúdios de Hollywood e dos grandes distribuidores (Majors) de conter a pirataria, em pouco tempo serão também alvos desta.
A única forma que as Majors terão para diminuir a incidência de produtos piratas será através da fórmula que salvou a indústria de softwares: estreitamento do relacionamento com o cliente final, melhoria contínua do produto e campanhas de conscientização.
A estratégia da industria de informática teve resultados diferentes em contextos culturais variados, mas de um modo geral incentivou a venda das tais licenças mundo afora.
Caso sejam bem-sucedidas as grandes distribuidoras da indústria cinematográfica terão fortalecido seu negócio, com distribuição mais ampla e barata. Se não, serão mais outra lembrança saudosa nos museus do futuro.

Há males que vêm para o bem – parte 2

Provavelmente ainda deve estar fresco na sua memória o discurso que o excelentíssimo Lula proferiu sobre como é bom fazer política para pobre (aquele que não tem dinheiro para fazer passeata - ou carreata ou ‘tratoreata’- em Brasília; a não ser que o governo os leve para lá, direta ou indiretamente, como fez com os arruaceiros que invadiram o Congresso).
Pois isto pode estar mudando muito rapidamente devido ao processo de empobrecimento da classe média brasileira.
Ela havia abandonado todos os serviços públicos passíveis de substituição por correspondentes privados (como a educação e a saúde) e está retornando, sufocada pela bitrubutação.
Bitributação é como chamo o fenômeno de o Estado cobrar impostos e não oferecer serviços de qualidade, que são substituídos pela iniciativa privada; tendo o usuário que pagar duas vezes pelo serviço. Deve haver um nome mais preciso, mas como não o conheço vou usando este mesmo.
Voltando ao assunto: a pressão política que antes fazia com que estes serviços equivalentes tenham leis especiais que beneficiam os usuários – como exemplo, neles há a possibilidade de que os inadimplentes obtenham a continuação de prestação de serviços enquanto nos demais se não pagar não leva nada – se deslocará para o ponto certo; o de cobrar serviços públicos de qualidade, compatíveis com a carga de impostos à qual a sociedade é submetida, que sejam distribuídos de maneira universal e uniforme pelo país.
A força desta pressão já começa a ser sentida. Está desaparecendo o velho discurso de construir sempre mais e aparecendo o de manter melhor o que já está construído.
Inclusive a grande novidade é que a educação é a vedete do momento na boca dos presidenciáveis.
Mantido o viés democrático no país, a qualidade dos serviços públicos deve melhorar a partir de agora. Está será uma melhora lenta e desigual – principalmente porque a formação de capital humano é cara e demorada – mas inexorável.
O Brasil já teve inúmeras chances de fazer esta transição de um Estado para poucas para um que contemple as massas, abortou todas. Este é um momento-chave e devemos aproveitá-lo; não nos deixemos cair na tentação de virar as costas à política somente porque nossos representantes atuais não vêm demonstrando estar à altura dos desafios à nossa evolução social.
Isto já aconteceu antes e agora temos muitas pontes, usinas e estradas; e uma sociedade fraturada.

quinta-feira, 6 de julho de 2006

Há males que vem para o bem

Não sou um entusiasta do endividamento a que boa parte da população brasileira está se submetendo, mas algo de bom pode vir daí.
E não digo que é o consumo que fortalece o comércio e sim o aumento do número de endividados e o conseqüente acréscimo de votantes nesta situação.
Isto pode fazer com que o maior problema de curto prazo do país atualmente venha a ser combatido com firmeza.
Este problema é a taxa de juros com que convivemos.
Não há nenhuma razão prática para que um país superavitário (primariamente) pague as maiores taxas de juros reais do mundo.
A desculpa esfarrapada que os defensores desta política pública é a de que é necessário conter o ímpeto gastador dos brasileiros - que só existe na cabeça de alguns economistas teóricos. Os investimentos estão muito baixos aqui e o consumo das famílias de um modo geral se resume ao essencial, para o que o preço do dinheiro acaba sendo pouco importante nas decisões de consumo.
Mesmo que houvesse este ímpeto; desconfio que a estratégia não funcionaria, tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas são muito pouco endividadas no país.
Mas mesmo não cumprindo a sua função teórica, a taxa de juros ameaça a economia alimentando a inflação futura e deteriorando as contas públicas.
A inflação é alimentada pela falta de investimentos, o que faz com que a oferta futura de bens e serviços não acompanhe a demanda e criando pressão sobre os preços.
As contas públicas são atingidas pela diferença entre o dinheiro economizado primariamente e os juros pagos pela amortização da dívida, invariavelmente negativa.
Só que estas conseqüências não despertam a ira das massas que serão prejudicadas no futuro – que nem se dão conta do problema – e como os beneficiários do presente são muito poderosos (vide o lucro dos bancos e dos investidores financeiros) ninguém ataca o problema de frente.
Cada endividado a mais é um defensor em potencial da queda da taxa Selic, que funciona como uma espécie de piso para os demais, e eles estão entrando na ciranda financeira aos milhares; pelas portas do crédito consignado, dos cartões de crédito e das financeiras.
Se devemos atacar um problema de cada vez, este é um que merece estar entre os primeiros a ser enfrentado. Só espero que poucos percam seus bens no processo.
O país já está perdendo, e não é de hoje.

terça-feira, 4 de julho de 2006

O serviço mais caro é o que não é fornecido

No nosso país temos algumas coisas que demonstram o quão burra pode ser a filosofia do “tudo pelo social”.
Ela faz com que todos paguem para que um ou outro político ou classe não fique “mau-na-fita” e tem duas vertentes:
a tudo pelo socialismo – que se nega a adotar qualquer interação com a iniciativa privada, a não ser a cobrança de impostos, e é ideologicamente incapaz de aceitar qualquer participação nos serviços que são considerados (aqui) classicamente função do Estado;
a tudo pela demagogia – que quer estar bem com as massas, principalmente controlando os preços e diminuindo ou anulando os lucros das concessionárias.
Os exemplos mais claros são encontrados na área de saneamento básico. Com medo da cobrança das taxas que remunerem o serviço, o que seria contra o interesse das “comunidades”, paralisa-se qualquer tentativa de privatizações no setor. Como os governos não têm capacidade financeira para fazer as obras necessárias, as populações ficam sujeitas ao não-fornecimento do serviço.
Qualquer ganho que os possíveis usuários do serviço teriam com a economia de não pagar as taxas de uso são amplamente suplantados pelo desconforto ambiental que a falta deles produz. Além disto sobrecarrega-se o sistema de saúde (estudos estimam que para cada real gasto em saneamento economiza-se quatro em atendimentos médicos, sem contar com o aumento da produtividade do trabalhador).
O mesmo vale para outros serviços que deixam de ser prestados por omissão do Estado ou por medo dos políticos de apresentar as contas aos eleitores, com ou sem privatizações.
Com isso o custo Brasil não para de crescer, enquanto dinheiro que poderia estar suprindo nossas necessidades na infra-estrutura ficam no banco engordando, nutridos pelas taxas de juros reais mais altas do mundo.

segunda-feira, 3 de julho de 2006

No fim, algo a comemorar

Com as derrotas de sábado foi decretado o fim do reinado mundial de uma trinca que poderia fazer com que o futebol perdesse muito de sua graça que está recuperando aos poucos.
Esta trinca, que não sei se chamo de os três patetas ou de trio parada dura*, era formada pelos técnicos das seleções brasileira, argentina e inglesa.
Eles eram os comandantes dos conjuntos com mais talentos individuais e poder de decisão entre as trinta e duas presentes na Copa – ouso dizer que do mundo mesmo.
Eram também os portadores das maiores esperanças de prover espetáculos às imensas torcidas presentes aos estádios alemães e aos milhões de telespectadores. Frustraram a todos - com exceção da Argentina que apresentou futebol vistoso em uma partida da fase classificatória – e o Brasil, maior esperança e decepção, conseguiu ser vaiado seguidamente.
E as frustraram pela simples falta de coragem de apostar em futebol agressivo e, principalmente, ofensivo. As três seleções seguiram o caminho do pragmatismo do toque e posse de bola; no burocrático futebol de resultados, avesso a goleadas – pois como todo treinador que segue esta escola sabe, gol é só ‘um detalhe’.
Pekerman ganhou seu lugar no trio principalmente por sua atuação no segundo tempo de sua última partida no comando do selecionado argentino. Já vinha flertando com o grupo, pois sua equipe era a que menos finalizava ao gol, mas o que decretou sua vaga foi a substituição de Riquelme por Cambiasso.
Tirar o armador do time tudo bem, ele realmente estava fazendo uma partida risível, mas colocar mais um volante para se juntar aos outros tre que já estavam em campo - quando seu time estava jogando melhor do que o adversário - foi o fim da picada. Chamou a Alemanha para o ataque; procurou e achou o desastre (ainda bem que os hermanos também têm tais técnicos ou poderíamos ter que amargar quatro anos de sarro por parte dos vizinhos).
Eriksson tinha vaga assegurada. Fez lambança desde a convocação; quando escolheu dois jogadores contundidos (Owen e Rooney), Peter Crounch e um garoto que jamais havia vencido nem ao menos defendido seu clube pela equipe adulta para o ataque do tal de ‘English team’. Só poderia ficar trocando bola no meio de campo mesmo.
E quanto ao Parreira, o que dizer. Diz o ditado que lambão, quando não erra (por assim dizer) na entrada, erra na saída. A saída vocês viram, já estávamos com 32 minutos do segundo tempo e Robinho ainda não havia estado em campo.
Como bem disse Parreira após o jogo de Gana: “espetáculo é ganhar”.
Eu posso dizer que jogar feio e perder é ridículo; ter os melhores jogadores e se acovardar é lastimável e dizer que não se arrepende de nada porque fez tudo que quis é egocentrismo, atitude digna de um adolescente.
O que passou, passou. O leite foi derramado e já choramos muito sobre ele. Agora e tocar a vida e esperar algumas semanas para ver o Barcelona jogar, e ganhar, bonito. E torcer que o exemplo prospere e no futuro os técnicos covardes fiquem em casa, assistindo pela tevê sem correr risco nenhum.

*para os que não têm raízes rurais informo que Trio Parada Dura foi um gupo de muito sucesso lá pras bandas de Goiás nos idos dos anos 70 e 80. Para os que têm, como eu, puxo de memória uma das modas de viola na voz de Barreirito: ‘ ...eu já fui um grão de areia, agora sou uma pedra dura. Em pedra transformei também uu meu coração...”

Deformação de opinião

Se há um comentarista econômico que eu não recomendo, este é Alberto Tamer.
Ontem, comentando sobre a filantropia institucionalizada que existe nos Estados Unidos, foi publicado um texto dele no Estadão que continha o seguinte fragmento:
Com a doação de 85% de sua fortuna – 44 bilhões – para o fundo criado e gerido por Bill e Melinda Gates , Warren Buffett, 75 anos, supersaudável, criador e presidente da Wal-Mart, transformou-se no maior filantropo mundial. Melinda disse que ele nada mais estava fazendo do que devolver para os pobres, os miseráveis, os desnutridos e menos favorecidos, uma parte do que a sociedade lhe havia dado. Eles doaram 31% do P.I.B. brasileiro”.
Como pode alguém escrever tamanho despautério em tão pouco espaço.
Como podemos confiar em um articulista que retira todo o mérito do falecido Sam Walton, este sim fundador da rede Wal-Mart, e ainda reduz drasticamente o P.I.B. brasileiro.
Pois deve ter havido um espetáculo de empobrecimento da nação. Sendo o patrimônio da Fundação Bill e Melinda Gates por volta de 70 bilhões de dólares – cuja soma não foi toda doada pela trinca Bill, Melinda e Warren (que imagino são os “eles” citados no texto) – percebe-se que Tamer estima que a nossa riqueza é de, no máximo, 200 bilhões anuais.
Nunca vi nada menor do que 500 bilhões para o nosso P.I.B., por mais pessimista que seja a forma de arredondamento para baixo das projeções. Inclusive acaba de ser lançado uma projeção para ele que nos coloca entre os 15 maiores do mundo.
É o verdadeiro espetáculo do encolhimento.
Mas é claro que não é apenas por estes pequenos erros de informação que Tamer está na minha lista de não recomendáveis.
Erros acontecem e confundir alhos com bugalhos ou fulanos com cicranos demonstra apenas que o autor não deu a devida importância para ao dado (no mais apenas uma curiosidade em importância para o entendimento do tema), só que no engano a respeito do tamanho da economia brasileira aparece um fator importante.
De tudo que li escrito por Alberto Tamer até hoje, não me recordo de ter concordado com nada. Até aí tudo normal, afinal eu discordo mesmo, porém começo a desconfiar que não é apenas rabugice da minha parte.
Se ele não conhece um dado tão primário de seu objeto de análise, como confiar no que diz este especialista?
Se este é o nível da cobertura econômica a que estamos sujeitos no Brasil não me admira que a população ache normal que nosso governo pague taxas de juros reais de mais de 10% anuais ou até que não saiba disso.