quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Não apenas eu

O bom será acordar amanhã e saber que não apenas eu, mas todos, não saberão escrever em língua portuguesa.
As justificativas para a unificação ortográfica, chamada reforma, são que as economias das nações que falam português sairão fortalecidas, principalmente, é claro, no quesito editorial, e que nossa língua ganhará peso diplomático maior.
Elas me parecem risíveis. Nosso mercado editorial não é pequeno por diversidade na forma de escrever, mas por falta de leitores. O mercado editorial brasileiro vende apenas um pouco mais do que o de Portugal, com uma população 19 vezes menor. Para que haja uma melhora nas vendas é necessário que se aumente o número de leitores no Brasil. A ortografia não interfere nas vendas, como Paulo Coelho e Saramago provaram ao vender no mundo afora com suas distintas formas de grafar.
Também não influirá na geopolítica a reforma. Nenhum país de língua portuguesa como oficial ganhará um pingo de importância. A despeito do que foi dito, a língua franca atual, o inglês, também tem diferentes grafias. A diferença é que não se tentou fazer uma imposição política de uma correta. Aceitam-se as variantes britânica e norte-americana como oficiais, ficando ao gosto do escritor escolher a que mais lhe agradar. Força internacional os países ganham atuando, não mudança sua escrita.
De todo modo, não adianta reclamar. O mal está feito e nos resta reaprender.
Até o ano que vem.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Quando começa mal

Só tende a piorar.
Israel era uma reivindicação histórica dos judeus, mas o modo como foi criado foi o mais absurdo e violento possível, e, como diz o livro sagrado que eles professam, quem com ferro fere, com ferro será ferido.
Desde o fim do século XIX, a colonização da chamada Terra Santa por judeus europeus estava em curso. O nacionalismo baseado em critérios étnico-lingüísticos firmava-se então, e todos que tinham projetos de poder queriam um Estado para chamar de seu. Ao sionista havia o adendo de o Torá citar a terra prometida, dando-lhes, em seu ponto de vista, direitos históricos sobre a área na qual não viviam a milênios.
A solução final nazista apenas acelerou um processo que estava em curso. O radicalizou, porém, ao fazer crer que a melhor maneira de convivência entre culturas diversas era aquela em que estão separadas por fronteiras bem definidas. Ou, melhor dizendo, a não-convivência.
O triste da transformação do nacionalismo do reconhecimento dos povos para o de segregação dos povos é que em seu seio floresceu o racismo. Os movimentos posteriores esmeraram-se em tentar parecer defensivos, mas foram extremamente violentos, responsáveis por inúmeras mortes. O que criou Israel não foi diferente. Gerou o deslocamento de milhões de palestinos e milhares de mortes. Isso para aglutinar uma nação que até o momento não existia.
Há, entretanto, o agravante religioso. Vimos durante o século XX que as tensões puramente nacionalistas acabam por acomodar-se. Guerras por comando de territórios fazem pouco sentido quando os mesmos são destruídos e seus recursos depletados. Isso torna mandatório que, cedo ou tarde, acordos duradouros terminem em convivência pacífica e segregação com compartilhamento das riquezas. Quando há o componente religioso, os resultados são diferentes.
Limpezas étnicas são muito mais freqüentes e os conflitos muito mais duradouros por que a briga passa a ser por algo imaterial. Não existe a depleção da fé, que, ao contrário, muitas vezes ganha corpo em ambientes de guerra. Há uma retroalimentação que acirra os ânimos e, muitas vezes, exige um elemento externo para conter a disputa.
No Kosovo, foi a entrada de tropas multinacionais. A questão israelo-palestina precisará de mecanismo semelhante, mas aqui contamos com um Estado que tem apoio incondicional da maior potência militar da atualidade e, dizem, armas nucleares.
A questão atormentar-nos-á, portanto, por um longo período.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Opção por não ensinar

Não sei como são as aulas de geografia hoje, mas quando recebi as primeiras lições de geral o forte era entupir os estudantes com dados que mostravam o quanto o Brasil era grande, bonito, cheiroso e qualquer outro adjetivo positivo que você puder escolher. Daí passávamos para os continentes. A cereja do bolo era informar que existiam apenas dois países transcontinentais: União Soviética e Turquia.
Naquela época eu gostava bastante de geografia. Era um tempo em que nem sonhava que existia marxismo, e que professores dessa matéria o professavam, e acreditava no que falavam.
Foi uma época perdida em matéria de informação e aprendizado. Se eles erravam em questões tão tranqüilas quanto apontar no mapa e dizer qual continente é, que dizer daquelas nas quais há controvérsias.
Hoje não existe mais União Soviética, o número de países transcontinentais cresceu bastante na minha consciência. Há a Rússia, que continua quase a mesma, apesar do desmembramento que sofreu a extinta liderança do mundo socialista, Turquia, França, Inglaterra, Dinamarca, Espanha, Egito, e esses me vêem de cabeça, correndo o risco de haver mais.
Só posso imaginar os motivos que levaram o ensino de geografia a cometer tal deslize. Minha hipótese mais plausível é que houve uma opção política por "esquecer" as antigas possessões coloniais incorporadas aos Estados europeus. Outra é incompetência.
Em qualquer das duas possibilidades os interesses dos alunos, entre os quais eu, foram deixadas de lado. Conhecimento deixou de ser construído por falta de acesso a informações. Como disse no começo do texto, não sei como são as aulas de geografia hoje, mas duvido que os alunos estejam melhor servidos, já que o ensino universitário da matéria segue com as mesmas diretrizes.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Programada e irresponsável

A respeito da menção da obsolescência programada que fiz no texto de ontem, cabe uma explicação.
Referi-me a ela como ecológica e eticamente contestável. Quanto à parte ética, pode-se até discutir. O fato de fazer-se um produto com durabilidade menor do que a possível para obrigar compras freqüentes e maior dispêndio do consumidor foi uma forma que as economias ditas avançadas encontraram para manter os fluxos econômicos fluindo, e tem seus defensores.
Já a parte ecológica é totalmente condenável mesmo.
Charles Miller, não o do futebol, mas o do livro Os economistas e as relações entre o sistema econômico e o meio ambiente relata que: "As leis da termodinâmica asseguram que, numa perspectiva temporal suficientemente longa, a quantidade de resíduos e dejetos emanados pelo sistema econômico é igual, em massa, à quantidade de combustíveis e matérias-primas que ingressam no sistema e que são por ele transformados, deduzidos os materiais que se acumulam na economia, e os por esta reciclados".
Como vemos, a poluição é inversamente proporcional ao patrimônio que uma dada sociedade consegue acumular. A obsolescência programada é, nesse sentido, um crime ambiental e um atentado contra a sociedade que a patrocina.
Governos que a permitem são co-autores do crime, e sociedades que fecham os olhos para isso facilitam o trabalho de seus algozes.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Que se meça realmente a riqueza

O modo como medimos algo não é neutro. Ao escolhermos uma forma de medição ou mesmo uma unidade de medida, influenciamos o medido e, no caso das atividades humanas, podemos transformar todo o ambiente estudado. Tanto é assim, que as nações são muito relutantes em abrir mão de suas unidades culturalmente embasadas para assumir o chamado Sistema Internacional de Unidades SI.
A economia é um grande exemplo de como o modo como é feita a medição pode influenciar o objeto medido. A opção pelo PIB como medida de riqueza traz uma série de concepções que mascaram a riqueza de uma sociedade, e a forma como essa está sendo gerida.
A coisa já começa mal. O PIB não mede riqueza, mas fluxo monetário. Toma-se como verdadeiro que onde há grande fluxo, existe grande riqueza; ou seja, é uma convenção apenas. Acaba, como diz o dito popular, misturando pato com ganso, e os igualando.
O pior é que serve como base para outras medidas e ações. O PNUD, por exemplo, o utiliza como esteio no cálculo do desenvolvimento humano, IDH. Países o utilizam para mostrar poder, muitas vezes com índices maquiados. E o crescimento econômico a todo custo vira a meta principal devido à fé de que o Produto Interno Bruto indica o caminha da prosperidade, mesmo quando utilizados expedientes contestáveis ecológica e eticamente, como a obsolescência programada.
A idéia de que o PIB é o bom é tão forte que consegue até milagres. Fez com uma postagem minha fosse lida(raridade das raridades) e contestada por alguém que aparentemente sabia do que estava falando. Observem que, em termos gerai, o leitor Mendonça não estava contestando o que eu havia escrito, mas ressaltando a importância da renda, que é uma função do PIB. O detalhe é que as importações entram no cálculo do PIB diminuindo-o, enquanto as exportações o aumentam. Daí a defesa apaixonada do exportar.
Faz-se necessária mudança da forma de medição de nossa prosperidade. O Patrimônio Líquido Nacional (e aqui) parece-me a melhor maneira de efetuá-la. Cabe-nos não aceitar passivamente a lorota de que estamos mais ricos só porque o PIB cresceu. No mínimo, devemos fazer com que os dirigentes nos expliquem como isso ocorreu.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Recursos naturais

Fomos acostumados, desde os primeiros anos do ensino infantil, a pensar em recursos naturais renováveis e não-renováveis. Essa distinção, porém, não faz mais sentido à luz do conhecimento científico atual.
Sabemos que muito do que é chamado não-renovável o é, embora em uma escala de tempo considerada anti-econômica atualmente. A natureza está, por exemplo, produzindo todos os combustíveis fósseis continuamente, em maior ou menor escala. Os recursos minerais, de maneira geral, são totalmente recicláveis, excetuando-se, talvez, os radioativos.
O grande nó nesta matéria é, então, a matéria viva. Temos de fato recursos extinguíveis e não-extinguíveis. Corremos o risco de eliminar espécies ou de espécimes de grande importância para as cadeias ecológicas ou econômicas. Os campos pesqueiros em perigo, as florestas decadentes e os mangues e corais declinantes; todos são mostras de importante DNA que pode ser perdido.
Evitar que o árduo trabalho de energia genética da natureza em milênios seja desperdiçado é a mais importante batalha deste século. Fazendo nossa escala econômica caber na ecológica, conseguiremos fazer a palavra sustentabilidade ter algum sentido. Se falharmos nesta tarefa, muito do que dizemos que fazem a vida valer a pena deixarão de existir. Conheceremos o verdadeira significado de pobreza.

Um feliz natal a todos.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Devem ficar queitinhos

Nosso aclamado presidente, no alto de seus 70 e tantos pontos percentuais de aprovação, deseja instituir uma categoria de pessoas sem direito à liberdade de expressão, os ex-presidentes. Não apenas isso, a categoria tem o seu direito de disputar cargos políticos revogada.
Sabemos que o que o presidente e seu partido afirmam não se escreve; as circunstâncias políticas mudam e, com elas, as idéias também. Pouco esperança tenho, portanto, de ver um retiro silencioso de Lula para o ostracismo de São Bernardo do Campo, mas gostaria de presenciá-lo.
Se eu fosse o Sarney, contudo, ficaria muito magoado. Fez parte da parcela do PMDB lulista de primeira hora e, ainda hoje, é visto como da base aliada. Tem um defeito, entretanto: já ocupou o Palácio do Planalto.
Só não entendi uma coisa uma coisa. Se o motivo para os ex-presidentes não falar sobre o governo é que esses têm telhado de vidro, estamos diante da velha prática do acoberte-me que eu não lhe denuncio?
Prefiro, então, que comece um falatório geral. É sempre melhor saber os erros passados e presentes. Uma mão lava a outra para esconder os podres é coisa de bandido. Será que vivemos uma política à Cosa Nostra.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Voltando à economia

Muitos dos desenvolvimentistas estão animados nos últimos três meses. Mais felizes do pinto no lixo. O dólar subiu, Keynes está na moda novamente. Em resumo, tudo que eles sempre esperaram parece realidade.
Pena, para eles, que há grande possibilidade deste momento desmanchar no ar, como sói dos sonhos fazerem.
Se não houver uma política deliberada de depreciação cambial, não há como o dólar permanecer neste patamar. Regredimos três anos na valorização da mão-de-obra brasileira, mas esse momento é transitório. O Brasil era uma nação estruturalmente exportadora quando o dólar valia 1,6 reais e continua sendo com esse a 2,5.
As últimas informações sobre o fluxo cambial demonstram que a fase de desconfiança com relação as mercados brasileiros de capitais e de ações está se desvanecendo. Aqueles que ganharam com a boa e velha arbitragem devem estar se perguntando: aquela economia funcionou bem com níveis cambiais mais baixos durante um tempão, por que eu não ganharia apostando na valorização de sua moeda?
E, quanto ao crescimento da economia, não me alinho aos pessimistas que prevêem tempos difíceis. A freada ocorrida no último semestre do ano foi totalmente artificial. As linhas de crédito foram retiradas por razões externas à economia nacional, mas o empoçamento de liquidez não poderá ser mantido por muito tempo, como já dizia Ricardo, e o crédito ao consumidor deverá seguir crescendo.
Já estávamos na contra-mão do mundo em matéria de crescimento econômico antes do acirramento da crise com a quebra do Lehman Brothers. Nada de muito relevante ocorreu aqui para que a tendência reverta-se.
2009 pode não ser tão bom quanto 2008, mas não será o inferno que estão dizendo por aí.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O cara sabia

Marrx dizia que não era o descobridor da existência de classes e da luta entre elas. Como cita Weffort, em os Clássicos da Política volume 2, ele escreveu: "O que eu troxe de novo foi demonstrar:1)que a existência das classes só vai unida a determinadas fases históricas de desenvolvimento da produção; 2)que a luta de classes conduz, necessariamente, à ditadura do proletariado; 3)que a ditadura, em si mesma, não é mais do que o trânsito para a abolição de todas as classes e para uma sociedade sem classes ...".
Como vemos, o homem sabia das coisas. 100% de aproveitamento, errou em tudo o que original de sua lavra. Nem eu consigo tanto.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

domingo, 14 de dezembro de 2008

Queda muito boa

A tendência da queda no número de milhas viajadas é um presente para a economia mundial, ao menos em longo prazo.
Todo o desperdício traz lucros para alguém, mas os recursos bem aplicados levam bem estar a um grupo muito maior. Energia é um recurso essencial e, portanto, está entre as prioridades na lista pela eficiência. O modo como a cultura do automóvel entranhou-se nos estadunidenses é a verdadeira vitória da insensatez; da ineficiência em vários níveis.
Esperemos que a tendência confirme-se. O mundo só tem a ganhar. E os "gringos" serão os primeiros beneficiários.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Mistificação

Há uma certa dose de misticismo quando se diz que ocorreram perdas no mercado acionário, como fez o editorial do Estadão de hoje.
Dizer que os fundos perderam não corresponde a verdade, pois lucros e prejuízos no mercado acionário só ocorrem após a venda da ação, daí o termo realização. É certo que, devido à imensa diminuição do valor nominal das empresas no ano, quem precisar desfazer-se de seus investimentos hoje pode amargar uma sensação de perda, mas isso depende também do preço com que ele adquiriu-os.
O fato de os índices das principais bolsas terem subido constantemente durante meia década faz com que os aplicadores tenham, em sua maioria, ganhado no mercado acionário mais do que o fariam em outras aplicações.
As comparações infelizes entre as bolsas e os cassinos nada mais são do que isso. O mercado acionário gera, via de regra, ganhos para todas as partes envolvidas: empresas, intermediários e poupadores. Os cassinos dão lucros apenas aos donos e, eventualmente, aos governos que lhe cobram tributos. Que autoridades façam tal comparação é, realmente, uma vergonha.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Esgoto também é patrimônio

Retomando um velho assunto tratado em 2006, há este vídeo sobre a energia a partir do esgoto.



A reportagem mostra a luta entre os sistemas de aumento do PIB como meta e o de maior apreço pela valorização do Patrimônio Nacional Líquido. No Brasil, dá-se pouca atenção ao quanto determinada obra vai durar ou mesmo à sua utilidade prática. O mais importante é que tenha muitos zeros. Bom administrador é o que constrói mais. Não por acaso, foi um lema, atribuído à Washington Luís, "governar é construir estradas".
Se prestarmos devida atenção à reportagem, veremos que as soluções geradoras dos maiores desembolsos financeiros, e, conseqüentemente, do maior PIB, estão longe de ser as melhores. É clássica a afirmação de que cada real aplicado em saneamento básico equivale a quatro poupados em tratamento de doentes. O vídeo mostra, entretanto, que a conta pode ser ainda mais favorável, pois os resíduos dos esgotos podem gerar renda, conquanto amortizada ao longo de anos.
Os investimentos necessários não são proibitivos, pela simples razão de que a grande parte deles são obrigatórios, sejam utilizados os subprodutos ou não. O tratamento de efluentes é dever dos consumidores, caracterizando crime ambiental a poluição de cursos d'águas. Sendo assim, os custos são apenas incrementais. Em todas as unidades de tratamento de água servida (esgoto doméstico) há tanques de decantação. Pelo que pude entender, também eles são obrigatórios nas granjas de suinocultura. São necessárias, então, só pequenas melhorias para coletar os gases e os sólidos resultantes da biodigestão.
Não sei quanto foi o investimento na granja suína, mas ao se crer nos números, ele foi bastante lucrativo, pois uma lona e um gerador elétrico serem responsáveis por economias da ordem de 2750 reais mensais, apenas em energia elétrica, devem fazer o empreendimento bastante mais lucrativo para o pecuarista. O mesmo não pode ser dito dos diversos níveis de governo, que perdem arrecadação de impostos, pois os chamados serviços básicos (energia, telefonia, água e esgoto) são pesadamente tributados no Brasil.
Todos os casos apresentados na reportagem são poupadores de recursos e, portanto, influem negativamente nos cálculos do PIB. Contribuem, entretanto, muito para a melhoria das condições de vida da população e preservação do ambiente. Qual fator deveria pesar mais?

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Electranet

Acho que a era das grandes obras, como as hidrelétricas do rio Madeira, estão com os dias contados. São o pesadelo dos ecologistas, contam com a desconfiança da população e benefícios sociais discutíveis.
Com o fim dessa era de obras vistosas, teremos que fazer cada quilowatt render mais, e cada fonte de energia disponível deverá ser coletado e distribuído de forma mais eficiente. Neste ponto, a electranet defendida por Al Gore é uma imposição, não apenas um projeto.
Por todas as questões envolvidas, implementar uma política que garanta a um melhor uso da energia é muito superior a construir barragens no meio do nada populacional.
E gerará mais empregos e distribuição de renda.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Artesanato

Vários anos atrás, quando eu e um grupo de amigos estávamos tentando viabilizar uma OSIP, aventei a idéia de que poderíamos pegar desenhos de crianças atendidas pela entidade e vender como ilustrações em livro de estórias único para cada freguês. Ainda bem que essa história não foi para frente, ou seriamos acusados de exploração de trabalho infantil. Mas venho aqui falar do futuro e não do meu passado.
Artesanal tem a acepção de coisa pouco sofisticada ou, o que me parece uma contradição, artística, mas é de artesanato que precisamos para sair da "marolinha" mais forte do que entramos. É claro que não estamos falando de peças de barro, de pequenos caminhões de madeira vendidos em beira de estrada ou mesmo dos desenhos infantis que mencionei no primeiro parágrafo. A pedida do momento é o investimento em tecnologias ditas imaturas, principalmente as que são alcunhadas sustentáveis.
As novas tecnologias têm a característica de não ter soluções padronizadas para os diferentes problemas que podem ser encontrados na vida real. E, justamente por isso, demandam muito mais mão-de-obra para adaptar a idéia geral à situação específica, resolvendo o problema número um do Brasil: a baixa quantidade e qualidade de empregos.
Falarei mais disso nos próximos textos.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Não estamos no Pacífico, mas...

...o sistema de prevenção de tsunamis do governo, parece, começou a apitar.
Mantega, aquele ministro pelo qual, vocês sabem, tenho um apreço sem tamanho, está anunciando que o Brasil tem um arsenal para evitar o acirramento da crise econômica aqui em Jabuticabal, e dá-lhe anúncios keynesianos de gastos com PAC e essas batatadas.
Partes do PT já se defendem das conseqüências da desaceleração culpando as políticas "neoliberais" da dupla PSDB-PFL e Lula vai mais longe, é obra de trinta anos de governantes despreocupados com o povo, reverindo, provavelmente, aos que tinham o cetro desde a sublevação militar até a sua chegada ao Palácio do Planalto. E toda essa retórica por obra da "marolinha".
Vamos, todavia, aos finalmente. O governo tem, de fato, um arsenal para combater os efeitos da crise. Só que não onde ele imagina. Há no país um problema crônico em relação à qualidade das leis trabalhistas. Elas limitam a flexibilidade do mercado e desestimulam a contratação mesmo quando há uma batalha pela mão-de-obra escassa, inviabilizando-a em momentos de incerteza.
Qualquer melhoria na legislação trabalhista é um incremento da competitividade do Brasil e um estímulo ao rebustecimento do mercado de trabalho, com ganhos para os 50% de trabalhadores que hoje não dispõem de nenhuma segurança gerada pela rede de proteção social que os sindicalistas dizem ser o Código atual.
Resolver esse gargalo seria a solução que incluiria o país definitivamente entre os de melhor desenvolvimento humano, não gastar os recursos dos impostos favorecendo empresas, seja de qual porte forem, com créditos facilitados e baratos.
Métodos paliativos nunca passarão disso, não importando qual nome recebam.

sábado, 6 de dezembro de 2008

A respeito do sifu

Será que fui apenas eu que se indignou com o fato de que Lula recomendou que os médicos mentissem para os pacientes?
Ao meu ver, insinuar que a verdade deve ser omitida é muito pior do que usar palavras de baixo calão. Realmente, a democracia não foi bem entendida pelo governante que nunca antes na história deste país falou tanta besteira.

Sobre fundos e soberanos

Felizmente o delírio de potência petrolífera passou, mas a mudança de legislação que criou o fundo soberano continua aí, rondando. Está certo que, neste país, esses atos burocráticos, como aplicar leis, podem levar séculos; conseguimos, no entanto, plantar jabuticabais imensos do dia para noite também.
Não que eu tenha algo contra jabuticabas, que já defendi neste blog , mas algumas invencionices deste governo são realmente bizarras.
Para começo de conversa, vamos tentar definir o que é fundo soberano. O meu já surrado dicionário de economia diz que fundo é o "conjunto de recursos monetários empregados para reserva ou para cobrir despesas extraordinárias. No setor de finanças públicas, o termo refere-se às verbas destinadas ao desenvolvimento de determinados setores". O soberano viria do fato de ser propriedade de um país ou, ampliando-se ao máximo o conceito, de uma nacionalidade, como vocês podem observar nesta lista fornecida pela Wikipedia.
Olhando na lista, você encontra as características básicas destes fundos: seus proprietários são países com excesso de reservas internacionais, a maioria advindo de exportações petrolíferas, e relativamente poucas possibilidades de aplicação interna destes recursos. São, em suma, países opostos ao nosso, importador de energia e cheio de obras a serem feitas, ou, por que não dizer, emPACadas. E, o mais importante, ainda temos dívidas.
Como Deus é brasileiro, a idéia de fundo submergiu devido a preocupações mais prementes, abusar da sorte, porém, nunca é bom. Algum dia a crise passará, espero que o fundo, como diria Drummond , passarinho, voe para outras paragens, como, talvez, a Terra do Nunca.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Sátira perfeita

O vídeo original tem um que de maldade, já que o repórter não conseguiu segurar o riso ao deparar-se com a manifestação de um erro médico, a voz prejudicada do entrevistado, mas a sátira ficou perfeita.

Meu, sifu

Frases de grandes estadistas em tempo de crise:

"...Não tenho nada a oferecer-vos senão sangue, trabalho, suor e lágrimas..."
Winston Leonard Spencer Churchill, durante a II Guerra Mundial.

"Na democracia que eu vislumbro, a democracia estabelecida pela não-violência, haverá liberdade igualitária para todos".
Mahatma Ghandi, durante a luta pela independência da Índia da Coroa Inglesa.

"Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país".
John Fitzgeral kennedy, durante a Guerra Fria.

"Eu tive um sonho"

Martin Luther King Jr., durante a luta pelos direitos civis estadunidense.

E de um que acha que é:


"Quando o mercado teve uma diarréia, quem é que eles chamaram? O Estado, que eles negaram durante vinte anos".

Luís Inácio Lula da Silva, durante a crise econômica global do início do século XXI.

Então me pergunto, citando o rei Juan Carlos, da Espanha, por que não te calas?

Há louco para tudo, ou o ponto de vista é seu e ninguém tasca.

Roger Howard, em um um artigo do wsj.com/brasil, afirmou que, caso consiga livrar-se da dependência externa do petróleo, os EUA perderam o poder de barganha acumula por ser o maior consumidor mundial do produto, e isso não seria bom para o mundo.
Escrevendo para uma empresa norte-americana, é concebível que o autor acredite piamente que a influência de Washington seja sempre benéfica para a humanidade, menos clara fica, para mim ao menos, a vantagem de manter o "status quo" no consumo de um produto que, nas palavras dele, "é, sobretudo, a fonte primária do aquecimento global provocado pelo homem, ao passo que vazamentos e perfurações de poços têm causado prejuízo mortal ao meio ambiente" e ainda colabora para perpetuar ditaduras e insuflar recessões.
Mas têm muita coisa que eu não entendo mesmo, esta é só mais uma.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Tenologia natimorta: uma atualização

Em 7 de julho de 2006, escrevi que a distribuição de vídeos em discos ópticos estava com os dias contados. A julgar por este artigo (em inglês) o médio prazo que eu imaginava chegou mais cedo.
Notem que lá esta demonstrado que mesmo um aparelho pensado para ser um tocador de blu-ray já traz em si o reconhecimento da capitulação da tecnologia, pois ela é, na verdade, apenas um outro modo de obter-se o principal, o filme (chamá-lo assim não passa de um anacronismo, pois o filme em si, ou película, também foi afastado do processo) especificamente.
Espero que não tenhamos que esperar, novamente, uns 10 anos para que as inovações cheguem a nós.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Seguro contra lucros cessantes

Como havia escrito em um texto do princípio do ano, o melhor seguro externo que o Brasil poderia querer é a peculiaridade de a China ser uma ditadura necessitada de ilusão de bem-estar. essa minha convicção só fez aumentar ao ler notícias no Valor Econômico de hoje mostrando uma desaceleração econômica muito maior do que estavam esperando os analistas naquele país. Já há temores de agitação social e instabilidade política, e o governo vai fazer tudo que está ao seu alcance para impedir que eles ocorram. O que exclui, naturalmente, diminuir a oferta de alimentos em qualidade ou quantidade.
Mais de três anos atrás, escrevi, também, que nós somos uma espécie de Efeito Orloff da China no que se refere ao crescimento econômico. Tenho certeza, virá de lá uma nova marcha forçada, com os mesmos resultados: adiar a recessão e a troca de comando político (nada muito diferente do que a Guerra do Iraque foi para os EUA, onde a marcha forçadíssima fundiu o motor).
O mesmo raciocínio pode ser usado para pensar a venda de carne à Rússia e de alimentos em geral à Venezuela, duas outras nações que como diz Lula da Silva "têm democracia até demais". Apesar dos russos terem reclamado dos preços e da falta de financiamento, as compras não serão suspensas, apenas proteladas para pressionar as empresas vendedoras utilizando as nuvens da recessão como desculpa estilo cortina de fumaça.
A ameaça mais séria que temos que enfrentar quanto à balança comercial não tem nada a ver com a falta de compradores externos, mas com a possibilidade de realmente fornecer as mercadorias, já que uma infra-estrutura já sobrecarregada foi danificada pelas águas de novembro. Nada diferente do que vinha acontecendo, portanto.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Pensamento estratégico

Como tudo na vida, a tragédia de Santa Catarina traz lições. Tirando aquele papo todo de omissão do Estado, desrespeito as regras pela população e todas as demais mazelas que vêm sendo tratadas a exaustão pelo noticiário, devemos pensar também no que ficou patente a respeito da inadequação da infra-estrutura para suprir as contingências da paralisação de um serviço.
Ficou demonstrado que além de não evitar a tragédia, nossa infra-estrutura potencializa o dano, ao impedir uma rápida recomposição do tecido econômico, tirando assim os recursos públicos e privados que poderiam fazer o pós-tempestade menos deletério para as vítimas.
Esse mês de chuvas paralisou um porto essencial, cortou o fornecimento de um insumo-chave (gás natural) e de outros serviços públicos (água tratada e eletricidade), destruiu estradas de rodagem, etc; e, deixando inundadas de água e lama cidades inteiras, aumentou muito a necessidade de tudo aquilo que deixou de existir.
Será que este descompasso entre necessidade e disponibilidade não é fruto de uma estratégia de concentração da atividade produtiva e grandes obras que marca o Brasil desde o fim do liberalismo representado pela chegada ao poder de Getúlio Vargas? Desconfio que sim. Ainda hoje vemos esbirros da visão dirigista central na teimosia de enfiar goela abaixo da sociedade mega-obras como a transposição do São Francisco e as usinas do rio Madeira.
Creio que a população seria muito melhor servida caso a ênfase mudasse para pequenas obras, descentralizando desde a geração de energia até a distribuição de mercadorias, com redes em que os pontos focais fossem mais dispersos do que o que ocorre hoje. Talvez o custo inicial fosse mais alto, mas a segurança proporcionada pelo sistema compensaria.
Muitas das grandes obras do passado brasileiro tiveram como motivador mais um pensamento estratégico de consolidar o país como uma potência regional do que levar bem-estar à população. O contrário deve ser buscado agora, pois não seria o " melhor do Brasil, o brasileiro."

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Admissão

E finalmente saiu a admissão de que há uma recessão ocorrendo há ano nos Estados Unidos. A tal comissão que decide, dizem, é independente. Então estaria descartada, em tese, a manipulação política, no caso esconder o jogo, mas não há dúvida que inexiste hora melhor para o anúncio. A eleição já passou e o novo presidente não precisará assumir o ônus da notícia.
A única coisa incompreensível foi a reação histérica das bolsas. Foi como se uma mudança do estado geral das coisas tivesse ocorrido. Uma das maiores quedas do Dow Jones na história, o que também, convenhamos, virou rotina nos últimos tempos.
Qualquer dia destes o sol nascerá e a surpresa será tremenda. Quem sabe até passem na tv.