segunda-feira, 18 de abril de 2005

A geração de valor

Bem, por que um artigo sobre geração de valor? Porque esta é o ponto falho da economia brasileira.
Enquanto ficamos mendigando abertura de mercados para produtos agrícolas deixamos de ocupar espaços em produtos completamente abertos à competição internacional cujos principais insumos são justamente aqueles para os quais as portas estão fechadas, não é um contra-senso?
E por que não aproveitamos as possibilidades? Falta de tecnologia? Falta de expertise? Falta de vontade?
Em alguns casos particulares pode ser que sim, mas provavelmente a resposta que mais se enquadraria como razão geral é a mais completa falta de vergonha.
Nossos empreendedores deixam de utilizar nossa capacidade interna simplesmente porque é mais fácil vender os produtos agrícolas em natura ou matérias-primas não processadas do que industrializá-las e tentar vender um produto de maior valor agregado em mercados que eles não dominam.
Ficam refém dos preços das commodities internacionais, mas não correm o risco dos industriais; tentar achar mercado para seus produtos. O velho certo em lugar do duvidoso.
Tomemos alguns itens para os quais a geração de valor pode ser executada com atos simples e práticos.
Comecemos com a carne bovina. O Brasil é o maior exportador mundial dela, porém não pode ser vendida em natura no mercado norte-americano. Industrializada pode e já é, só que quantidades ínfimas. Choramos, mas não industrializamos. A cama é o lugar quente.
O café; torrá-lo e moê-lo não é um bicho-de-sete-cabeças, porém há mais de um século o país é o maior exportador de grãos não beneficiados. Um saco de 60 quilos de café tipo arábica é cotado na BMF de São Paulo por cerca de 140 reais (2,3 reais por quilo). Para comparar, uma libra de café arábica de origem africana, na loja virtual da Starbucks, custa de 10 a 16 dólares (de 57 a 91 reais o quilo) para os consumidores norte-americanos. O produto nasce, cresce e reproduz-se no terceiro mundo; o dinheiro morre lá.
O mesmo pode ser dito a respeito do cacau, do qual o Brasil dominou o mercado por anos a fio e ainda hoje é um importante competidor, e de seus subprodutos. No mais difundido deles, o chocolate, os suíços são considerados como os melhores do mundo. Pergunte a um suíço se ele já viu uma árvore cacaueira.
Detemos 60% da produção mundial de suco de laranja. Esmagado e concentrado, este sai daqui em grades tanques, congelado e pronto para ser envazado em outros países.
Exemplos como estes se repetem em muitos pontos de muitas cadeias produtivas nacionais. Não é necessário que todos os elos de uma cadeia sejam processados aqui, mas a cada elo mais empregos e renda são colocados na nossa conta.
Continuar a ignorar os elos que poderíamos prover internamente quando dispomos de espaço físico, energia de sobra e mão-de-obra desocupada chega a ser um pecado.

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