quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Gigante desnaturado

Os dias vão passando e continuamos a ter a maior taxa de juros reais do mundo.
Por quê?
Todos os defensores afirmam que é devido ao combate a inflação, mas será verdade?
Juros altos combatem a inflação com características brasileiras? Tenho minhas dúvidas.
Juros são eficazes em situações em que há uma grande demanda reprimida e facilidades de crédito para que as pessoas possam atender esta demanda, o que poderia fazer com que a oferta ficasse desequilibrada.
No Brasil certamente existe uma grande demanda reprimida, sem dúvida, mas o crédito é tão restrito que chega a ser ridículo que tenhamos que tentar dificultá-lo ainda mais.
Outro detalhe é que o crédito é dificultado indistintamente. Mesmo o aumento de produção, que certamente faria a oferta maior, combatendo possíveis surtos inflacionários, tem taxas altamente desencorajadoras.
Ainda mais se calculamos as taxas de retorno das empresas, na média menor do que 10% ao ano, com as taxas de retorno dos investimentos em títulos públicos, atualmente maiores do que 14% no mesmo período. Que capitalista quereria arriscar seu capital e ainda trabalhar se pode emprestar seu dinheiro para o governo, viver de juros e com riscos muito menores; concordo com vocês, só um capitalista louco.
Desta maneira, ao invés de diminuirmos as condições para que tenhamos inflação baixa, estamos criando uma bomba que poderá ter um efeito inflacionário no futuro, quando esta demanda for liberada.
O pior de tudo é que estamos utilizando este instrumento contraditório como se nossa economia fosse totalmente submetida às compras no crédito, quando estas estão presentes apenas em uma pequena parcela da economia formal.
Como esta economia formal é responsável por perto da metade da economia real, estamos utilizando o remédio com doses exageradas em uma parcela para tentar conter os preços de todo o sistema.
E todas as medidas que poderiam fazer com que a realidade se aproxime da oficialidade são deixadas para lá, pois é mais fácil descontentar a uma grande e amorfa parcela de brasileiros que tentar mudar as regras atuais do jogo, que têm vencedores ativos e que se aproveitam do gigantismo do Estado em relação à nossa economia.
Não precisamos de choques de gestão, de capitalismo, de eletricidade; precisamos apenas acordar para o óbvio, que os agentes públicos devem pensar no público e restringir-se isso.
Esta já seria a grande revolução, e problemas como este do gigantismo do Estado e de sua dívida seriam coisas do passado.

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