sábado, 30 de abril de 2005

Brasileiro dá valor à educação?

Pergunte a qualquer um o que deseja para o seu filho? As respostas variarão na forma, mas no conteúdo não. Ou quererão o filho rico, ou doutor ou, melhor ainda, rico e doutor.
Esta valorização da figura do “doutor” é um traço muito presente na cultura brasileira, porém não significa uma valorização da educação no nosso país. É mais uma valorização do status que um tipo de educação, a acadêmica, traz.
A palavra educação significa, segundo o “Dicionário Prático da Língua Portuguesa” publicado pela editora Melhoramentos, o seguinte:

  1. desenvolvimento das faculdades físicas, morais e intelectuais do ser humano;
  2. civilidade;
  3. arte de ensinar e adestrar animais e,
  4. arte de cultivar plantas.

Podemos notar que esta definição não é compatível com apenas mandar as crianças para a escola e esperar que elas voltem cerca de 20 anos depois com um diploma debaixo do braço e um bom emprego os esperando.
Investir nas escolas e na formação acadêmica é apenas uma das partes da valorização real de uma educação digamos, holística - para usar uma palavra que está na moda.A valorização da educação formal pode ser muito boa para o salário dos indivíduos e até para o país, só que não é tudo (ver “O valor da educação” de 9 de abril de 2005).
E não deve ser apenas preocupação dos educadores, mas de toda a sociedade, a começar dos parentes mais próximos. Isto, aliás, sempre foi o mais natural. Desde os primórdios da raça humana a educação foi um assunto da esfera privada, e apenas os mais abastados contavam com ajuda extrafamiliar (tutores que trabalhavam na casa dos educados normalmente). Abastados mesmos, coisa de reis e alta nobreza, não qualquer um.
Ao delegar completamente a educação para a esfera pública, estamos perdendo um pouco da essência do que deve ser ensinado ou não.
Estamos supervalorizando os conhecimentos vindos dos livros e deixando de lado a cultura popular, muitas vezes mais adaptada às condições que as populações que precisam ser educadas vivem. A educação deve ser um processo de troca de informações com todo o meio que nos cerca, não só com os burocratas do MEC (Ministério da Educação, ex e Cultura).
É devido a isto que tenho reais dúvidas se o povo brasileiro dá realmente valor à educação. Ela está cada vez mais sendo relegada para a escola. Mesmo órgãos públicos originalmente criados com a intenção de educar, como os parques zoológicos e museus, são hoje subutilizados ou não-utilizados.
E o envolvimento dos familiares com a escola - que parece ser um fator mais importante para a qualidade de ensino do que renda familiar dos alunos ou a infra-estrutura da escola - é pouco incentivado. Quando não evitado pelas duas partes envolvidas.
Talvez esta compartimentalização da educação seja um reflexo da desagregação da família tradicional, ou talvez uma das causas desta. Só que a mudança da sociedade não pode ser uma desculpa para se extirpar a família como integrante da educação em nosso país.

sexta-feira, 29 de abril de 2005

O grande comunicador

Para minha surpresa, o grande comunicador do Brasil não falou nenhuma grande besteira. Coisa que costuma fazer quando improvisa.
Tá certo que ele não foi apertado, mas também não escorregou.
O mais engraçado é que apesar de fazer gafe atrás de gafe, Lula é considerado um grande comunicador.
O problema pode ser comigo, talvez seja um péssimo receptor, porém não vejo isso. Comunicar-se subentende que as mensagens pretendidas são passadas corretamente, pelos meios adequado, levando-se em conta os receptores e seus potenciais de entendimento.
O fato é que não entendo nada do que Lula diz. Pelo menos não o que acho que ele quer comunicar. Geralmente Lula tem duas atitudes aparentes, a do maquinista que está a frente de uma máquina descontrolada e tendo que rebolar para controlá-la (tudo culpa do maquinista anterior, claro) ou a do todo-poderoso.
Como nem uma nem outra correspondem à realidade, seus discursos fazem parecer que estamos em uma montanha-russa. Em um dia muito bem e em outra muito mal.
O problema é que após mais de dois anos de mandato, nenhuma das duas atitudes convence mais. Muito do que Lula imputa como culpa de FHC é obra e graça de sua própria atual, assim como muito do que ele alardeia como seu é obra do antecessor. Isso dificulta o discurso da “herança maldita”.
Depois de dois anos fica difícil também acreditar que alguém todo-poderoso não resolveria todos os problemas que são apresentados. Uma contra-ponto seria um discurso da humildade, mas isso, além de não parecer compatível com a personalidade do Presidente, vai contra todo o discurso pregresso do Partido dos Trabalhadores. Ou alguém não se lembra da velha ladainha da “vontade política”? E das boas e velhas bravatas, que tão logo o PT assentou no Planalto, ficaram para trás?
É claro que não se pode tirar de Lula seu carisma. Tanto o inato quanto o treinado durante anos de palanque. Só que quando estamos investidos de um cargo público temos que ao menos tentar falar para todos, e não só para nossos amigos. Apesar de ele se declarar como estando presidente e sendo, para toda a vida, líder sindical.
Ao líder sindical cabe o papel de contestar e lutar pelos direitos de uma categoria. Como presidente é necessário que se pense nos interesses de todo um país. Desde o operário ao velho inimigo industrial e a ambos informar seus planos e estratégias.
Também não fica muito bem ficar confessando crimes, fazer piadinhas machistas ou sugerir que estamos com o traseiro colado no banco quando deveríamos tirá-lo de lá para combater os juros (juros estes em grande parte provocados por ele). Se fosse levar ao pé da letra o povo poderia acabar batendo no Palácio do Planalto. Iria ser um rebu, não?
O chamado decoro não vale apenas para os congressistas rebeldes que devem ser “enquadrados”. Serve também para os presidentes e ministros.
Quando chamou uma parcela dos aposentados do Brasil de vagabundos, FHC sofreu uma saraivada de críticas. Parece que seu sucessor não aprendeu muito com isso.

quinta-feira, 28 de abril de 2005

Os preços administrados e a inflação

Pela lógica, não deveria haver aumento dos preços administrados pelo governo, apesar de cada caso ser único, já que a maioria destes preços é reajustada por índices que tem como principal fator de custos produtos importados indexados ao dólar. Com a queda em mais de 30% do valor do dólar em um ano, deveríamos ter no máximo preços mantidos. Na melhor hipótese estes deveriam ser reajustados para baixo.
Mas aí a porca torce o rabo. Todas as forças, com exceção é claro dos consumidores, lutam por preços os mais altos possíveis.
Para os empresários os reajustes são muito favoráveis, é óbvio. Mesmo que eles não utilizem índice aprovado na íntegra, é sempre bom ter a possibilidade de usá-lo. No caso deles, os preços dos serviços e produtos são fixados principalmente olhando para os preços da concorrência. Como aqui esta quase não existe, na maioria das vezes tratam-se mesmo de cartéis disfarçados, os preços são os máximos autorizados ou próximos disto.
Para os governos, em todos os níveis, quanto maiores os preços cobrados por estas empresas melhor é. Os impostos cobrados sobre estes itens são, normalmente, os maiores e mais fáceis de lista. As empresas são maiores e os mercados concentrados, facilitando a fiscalização e a cobrança.
Quando dizem que os pobres consumidores - ou consumidores pobres, você escolhe - estão sendo achacados pelos empresários, os políticos e gestores públicos, estão sendo demagógicos. Tanto porque estão tentando quebrar os contratos firmados com as empresas, como prejudicariam mais a massa com o aumento do déficit público. Principalmente nos estados e municípios, que tem menos facilidade de extrair o dinheiro da população do que o governo central. Sem contar que são responsáveis pela maior parte da mordida.
Devido a isso, fica mais evidente a inadequação das políticas públicas, juros, para tentar domar a inflação. Mês a mês os institutos que a medem apontam os preços administrados como os grandes responsáveis pelo aumento e seguidamente os juros são aumentados para que os preços livres, os mais comportados, sejam mantidos sobre controle. Punem os mais quietinhos pelo comportamento dos rebeldes com as costas quentes que, portanto, ao podem ser punidos.
Não acredito que a diminuição dos juros levaria a um aquecimento imediato da economia, nem a uma explosão da inflação. Nossas empresas são muito pouco endividadas, se tomarmos padrões internacionais deste item microeconômico, e nossos consumidores idem; além de que não sabem como lidar com juros baixos e excesso de oferta de dinheiro simplesmente pelo fato de nunca terem se deparado com estas alternativas.
O que juros baixos fariam de imediato seria eliminar a excentricidade brasileira de que os bônus da divida pública serem mais rentáveis do que as empresas. Isto por si só já impede um crescimento sustentado da produção, pois apenas um louco deixaria o conforto e a segurança do mercado financeiro para correr os riscos de colocar seus recursos em uma empresa e ter que concorrer pelos lucros suados que só quem ganha a batalha pelos corações e mentes dos consumidores consegue.

quarta-feira, 27 de abril de 2005

Dólar fraco, Estados Unidos idem II

Aqui no Brasil, as cabeças pensantes ficam fazendo lobby para que o dólar seja mantido artificialmente alto. Em todos os países que deram certo, os chamados desenvolvidos, a moeda flutua a seu bel-prazer e é forte. Será coincidência?
Segundo Michael Porter, autor norte-americano que enunciou o conceito de “clusters” ou arranjos produtivo locais, um dos melhores estímulos para o desenvolvimento da economia de uma nação é o aumento progressivo do valor de sua moeda, forçando ao aprimoramento de seus meios de produção. Será coincidência?
Apesar do que muitos estão dizendo, o enfraquecimento do dólar não é fruto de medidas “esotéricas” do governo. Ele demonstra uma realidade palpável, a deteriorização do quadro econômico da potência hegemônica atual. Se o real valorizou-se mais do que as demais moedas neste período, isto foi só porque ele estava historicamente mais desvalorizado devido à crise de confiança pré-Lula.
E apesar do que muitos dizem, e isso é apenas mais uma opinião, manter a moeda desvalorizada não é uma medida acertada dos governos que as aplicam, pois esta achata o poder de compra de toda a população em detrimento da satisfação de uns poucos exportadores. É uma vantagem artificial, e como todas elas, insustentável em longo prazo.
Pode ser utilizada por países que querem gerar grandes superávits comerciais, mas somente em ditaduras – de fato ou de direito. Nenhum cidadão consciente aceita de bom grado ter um nível de vida mais baixo e financiar exportações com seus impostos, o que é muito diferente de renúncia fiscal, que é o que acontece quando os Bancos Centrais intervêem para manter moedas desvalorizadas artificialmente.
Isto é o que acontece nas economias asiáticas e fico muito feliz que não esteja ocorrendo aqui. Se o Brasil tem vulnerabilidades externas, necessita de grandes somas para pagar suas dívidas ou esta tornando o dólar mais volátil devido aos juros excessivos que estamos pagando são outras discussões.
Mas voltando aos Estados Unidos, com os atuais índices macro-econômicos, ele já deveria ter “quebrado” faz muito tempo e está sendo mantida em pé por razões alheias a “razão” econômica. São os países em desenvolvimento apoiando ações insustentáveis, nos campos fiscal e do consumo, de uma nação desenvolvida, por paradoxal que possa parecer.
Em uma dança que pode ser ruinoso para os dois lados, ambos precisam se apoiar para que não caiam. Só que o equilíbrio está ficando cada vez mais difícil e a dança cada vez mais rápida. Podemos imaginar qual será o resultado. Todos dentro do salão podem se machucar.
Tanto que até o guardião-mor da moeda norte-americana, Alan Greenspan, está alertando consecutivamente para o perigo no horizonte apesar das boas taxas de crescimento de sua economia, da inflação baixa e do desemprego idem.
Às nações que quiserem financiar os americanos mesmo assim fica o velho aviso: se alguém lhe deve um pouco, ele deve se preocupar, mas se alguém lhe deve muito, quem deve se preocupar é você. Isto já é mais ou menos o que está acontecendo com as finanças mundiais. Os americanos devem para quase todo mundo, e estes não podem lhe negar mais crédito, sob a ameaça de nada receber.

terça-feira, 26 de abril de 2005

Me engana que eu gosto

Vocês lembram das naves da Marinha (???) paraguaia patrulhando os rios do país para evitar que contrabandistas os usassem para atravessar muamba?
Isso não tem nem um mês, mas já parece fazer parte do passado remoto. Foi mais uma das medidas inócuas para acabar com o contrabando que os oficiais daquele país tomaram quando a alfândega brasileira endureceu o cerco aos sacoleiros.
Agora a cota de compras dobrou, parece que as coisas se normalizaram e não se fala mais nisso. A partir daí ficam duas questões.
A imprensa precisava fazer este carnaval, dando força para o governo paraguaio?
Existia alguém certo nesta história?
Comecemos pela segunda. Os sacoleiros são a base da economia de várias cidades fronteiriças entre Brasil e Paraguai, principalmente no Paraguai, e é natural que os governantes de lá se sintam forçados a defender esta indústria. Mas entre a defesa da industria e a defesa da ilegalidade há uma grande diferença.
É certo que não cabe aos paraguaios examinar se as cotas estão sendo cumpridas. Este é o dever das autoridades brasileiras e não deveria haver nenhum incidente internacional quando nossas autoridades cumprem seu dever. Por mais raro que isso venha a acontecer.
Porém as autoridades paraguaias têm o dever de impedir que produtos ilegais circulem em seu território e, como de praxe, este dever não é cumprido. Quando se permite que produtos pirateados e sub-faturados, além da reexportação dos cigarros brasileiros, circulem normalmente não se pode depois dar uma de donzela arrependida quando se é pego no ato.
Da mesma maneira são culpados tanto vendedores quanto compradores destes já citados artigos. Seria muita inocência da parte deles se estivessem negociando gato por lebre e, como sabemos muito bem, não se fazem indústrias milionárias de inocentes. Todos neste caso estão cientes dos pecados que estão cometendo e dispostos a gozar as benesses destes pecados.
Os fiscais brasileiros também são culpados, pois se alimentaram desta indústria durante anos. E sob suas vistas grossas floresceu um comércio que hoje sustenta um sem-número de famílias Brasil afora. Fazer as chamadas operações padrão não seria necessário caso tivessem combatido a ilegalidade no nascedouro. Agora fica muito mais difícil.
Para a primeira pergunta a resposta é não. A espetacularização da notícia pode até vender jornal e ganhar uns pontos de “IBOPE”, só que em longo prazo é deletéria aos próprios veículos. Caso passem a tratar a informação como ela merece ser tratada, com respeito e aprofundamento, explicando ao receptor do que se trata cada evento e como ele os afeta, os veículos tende a se perpetuar como um órgão necessário para estes. Fazendo apenas show, terão que competir com as novelas, peças de teatro, filmes, etc; e não é difícil saber quem oferece um espetáculo melhor. Estarão competindo em desvantagem.
Nossa mídia tem uma função social até mesmo por lei, e é tratando de cumpri-la que se fortalecerá. Não é aceitando as pautas prontas, sejam de qual governo for, mas mostrando o que os governos não querem que sejam mostradas. Não é indo às coletivas, mas oferecendo uma visão diferenciada que nossa imprensa terá melhor efeito.

segunda-feira, 25 de abril de 2005

Vamos variar, Mister Bush

Não é só o administrador brasileiro que tem dificuldade de dar uma leitura holística dos problemas que lhe são apresentados.
Se concatenassem as coisas, muitos problemas considerados insolúveis seriam equacionados. Vamos pegar dois problemas norte-americanos, que se sub-dividem em uma porção, e apontar uma solução conjunta para eles.
São eles a imigração demasiada dos pobres da América Latina e África para lá e a outra é a extrema dependência do petróleo produzida por um punhado de países.
Todos nós sabemos que América Latina e África são regiões potencialmente imbatíveis na produção agrícola, mas dependentes de capital externo e de tecnologia para implementar suas potencialidades. São também grandes produtores de gente, e de imigrantes.
Sabemos também que imigração é normalmente a última opção para as pessoas, feita só quando as esperanças de uma vida digna se esvaem. Mais uma coisa, que a agricultura é uma das atividades humanas mais intensivas em uso de mão-de-obra. Juntando uma coisa a outra, porquê não financiar a agricultura nestes países em vez de gastar uma fortuna tentando evitar a chegada de uma leva de imigrantes; cercando fronteiras, utilizando aviões, etc.
E quanto a dependência do petróleo? Com base na potencialidade da biomassa como integrante da matriz energética do mundo, utilizar os países já citados como base produtora de biodiesel, álcool ou seja lá qual tecnologia de biomassa, poderia suprir as necessidades deste países produtores, diminuindo a demanda pelo petróleo, e até gerar excedentes exportáveis. Seria um ferimento de morte na OPEP (Organização dos Países Produtores de Petróleo) e ajudaria a diminuir os custos de adoção destas novas tecnologias (algumas nem tão novas assim).
Juntando os dois teríamos imigrantes potenciais vivendo em suas próprias terras, diminuiríamos a pressão sobre o petróleo como base da matriz energética e incluiríamos consumidores para os capitalistas se fartarem.
É certo que não seriam programas baratos. Mas os recursos estão disponíveis, é só examinar o orçamento direito. Tem as verbas do subsídio agrícola (dizem que é mais de um bilhão por dia), das guerras por petróleo, da promoção comercial, da ajuda aos países subdesenvolvidos, da promoção de energias alternativas, etc.
E todas teriam externalidade positivas. Desviando os subsídios dos fazendeiros norte-americanos para os de países realmente necessitados implantarem as lavouras energéticas, as distorções nos mercados mais sensíveis (algodão, soja, milho, etc) seriam suprimidas. A renda gerada criaria mercados para os produtos e serviços “yankees”, muitas lutas tribais poderiam deixar de ocorrer junto com o fim da miséria Enfim um negócio lucrativo para todos exceto os barões do petróleo, das armas, da ajuda externa, da política corrupta.Exatamente o tipo de coisa que não é colocado em prática, sempre que um barão é prejudicado as coisas andam devagar, imagine com tantos.

sábado, 23 de abril de 2005

O gênio do crime

Não é necessário ser muito esperto para saber que quando se faz tudo errado as coisas vão dar errado, por mais que você acredite que está fazendo o melhor.
O governo Marta Suplicy gastou grande parte de seu mandato aumentado impostos, brigando com a bancada de seu partido e fazendo populismo em rincões da capital (principalmente com os Cieps; ops, ato falho; com os Céus) e dizendo não poder fazer mais devido a uma herança maldita. Deu no que deu.
O governo Lula; passou a sua primeira metade na gestão do executivo aumentando os impostos, brigando com a bancada de seu partido e fazendo populismo em rincões do Brasil, além de cunhar a expressão herança maldita. Ainda não deu em nada, mas creio que a dúvida sobre a capacidade de Lula se reeleger apareceu.
O que fez o governo então? Radicalizou, tentou aumentar mais os impostos, começou a brigar mais com o seu partido e bem, o populismo está tão desacreditado que nem se fala mais nele.
Será que é uma estratégia vencedora? Façam suas apostas.
Tem mais uma coisinha que os geniais estrategistas da reeleição do governo estão tentando fazer Iniciar desde já a campanha eleitoral. Inclusive gastando os golpes baixos poderiam ser usados no calor das proximidades do pleito.
A intervenção na saúde do Município do Rio de Janeiro e a retenção de verbas do Estado de São Paulo são exemplos disto. O lucro do governo; além da humilhação de ter suas ações contestadas desfavoravelmente pelos Tribunais, conseguiu dar visibilidade nacional a competidores que eram conhecidos apenas em seus respectivos estados. Golpes de mestre.
A corrida eleitoral poderia ser muito monótona sem concorrência; se ela não existe, fabrique-a.
Gestou também um monte zumbis que estão ocupando a esplanada dos ministérios, entre os velhos que sabem estar só esperando o tempo da substituição chegar e o novo que só não é mais contestado por falta de espaço.
Há também os indiozinhos morrendo de desnutrição (coisa estatisticamente normal, para o representante do governo), a guerra (não declarada) com o legislativo, o imbróglio com a reserva Raposa-Terra do Sol (que não começou ser gerado agora, mas cujo resultado será atualíssimo), etc.
É fato que não existe nenhum candidato forte, ainda, para concorrer com Lula , como houve para concorrer com Marta, porém a nossa história mostra que isto é o menor dos problemas. Fabricar um candidato é relativamente fácil, quando se dispõe das ferramentas certas. A pouca experiência democrática dos brasileiros, aliada a partidos risíveis, abre-se como uma grande oficina para os manipulares.
Caberá a Lula e ao gênio do crime (aqui é só uma expressão para indicar planos mirabolantes, não me levem a mal) que coordenará sua campanha, transformar o cenário que se avizinha em algo que não faça a população querer mudanças. O tempo das bravatas já passou, o de promessas também.
Resta a Lula e ao PT mostrar algo de novo, pois a disputa não será fácil.

sexta-feira, 22 de abril de 2005

Dólar fraco, Estados Unidos idem

A economia do país mais poderoso do mundo atual está presa em uma armadilha como aquela cantada por Ney Matogrosso: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Esta armadilha é o déficit comercial daquele país; algo na casa de 550 bilhões de dólares.
Por paradoxal que pareça, este déficit está aumentando a medida que o dólar se enfraquece.
Para sair deste paradoxo, seria necessário o aumento da produção interna de manufaturados ao mesmo tempo em que se diminuísse o consumo dos mesmos, adequando os norte-americanos a padrões mais modestos de compras e descartes. Como isto soa como história da carochinha, o desastre parece inevitável.
Apontado como paradigma a ser imitado pelos demais povos, é necessário encontrar uma causa e uma solução externa àquela sociedade para os problemas estadunidenses. Afinal não se reformam paradigmas.
A causa apontada é a fraqueza excessiva de algumas moedas asiáticas que são na prática atreladas ao dólar americano. O remédio receitado por alguns é a valorização destas, em especial a chinesa, mas creio que esta tende a ser inócua ou, pior, a aumentar o déficit comercial.
A chave para entendermos como o déficit deve ser pouco afetado, ao menos positivamente, pela valorização das moedas em relação ao dólar é o consumismo da sociedade “yankee” e a função que o dólar ainda exerce como moeda de referência no comércio mundial.
Grande parte do P.I.B. (Produto Interno Bruto) norte-americano é formado pelo consumo. A diminuição deste (aproximadamente um terço do mundial) por si só provocaria uma grande recessão no país. Como grande parte dele é de manufaturados produzidos externamente, toda a variação negativa de sua moeda tem efeito prático de aumentar o déficit ou de frear o consumo com diminuição do poder relativo de compra. O detalhe é que é em dólares que os contratos são fechados, e a desvalorização deste afeta apenas marginalmente o poder de compra dos norte-americanos, principalmente na forma de inflação das commodities, se seus parceiros comerciais desvalorizarem suas moedas proporcionalmente.
Com desvalorização do dólar, a inflação generalizada seria um efeito colateral certeiro caso o consumo não fosse freado, uma vez que estes manufaturados teriam que ser fabricados no próprio país ou comprados mais caro de outros. Mas o fato é que a indústria daquele país não seria capaz de suprir todos os bens necessários e de uma forma ou de outra haveria necessidade de supri-las com uma série de insumos importados, particularmente os energéticos, somados a custos de mão-de-obra mais cara.
No momento este processo inflacionário é contido pelas moedas asiáticas atreladas ao dólar, porém o efeito seria imediatamente sentido caso a China e suas nações circundantes deixassem suas moedas se fortalecer perante a americana, simplesmente porque é de lá que a maior parte das importações americanas vêm.
Quebrar um equilíbrio macroeconômico, mesmo este que está sendo mantido artificialmente, exige das partes envolvidas duros reajustes e sacrifícios. Resta saber se alguém vai querer pagar o preço.

quarta-feira, 20 de abril de 2005

Previdência, a bola da vez

O governo diz que precisamos (a nação) reformular a nossa previdência social; aumentando a base de contribuintes para acabar com um rombo crescente. Só que tem uma coisa, isto só é verdade porque o dinheiro da previdência social não é tratado como deveria; como um fundo do contribuinte para o seu próprio uso quando não puder trabalhar mais.
Como não entendo nada de cálculos financeiros, resolvi fazer uma continha simples pelo Excell: quanto o governo pagaria, em termos reais, por empréstimo de 54 reais a ser resgatado daqui a 30 anos. 54 reais porque é a contribuição mínima exigida pela previdência e 30 anos porque é o tempo mínimo para contribuição, ou seja, para que o futuro aposentado receba o que emprestou ao governo. Para efeito de cálculo, foram consideradas constantes a taxa Selic atual (19,25% ao ano) e uma inflação presumida (8,5% ao ano).
Sabe qual foi o resultado? R$ 1.402,88. Não sei quão apurada é esta conta da planilha eletrônica, mas se ela é vendida tão cara, deve ter alguma precisão.
Então me pergunto; por que um rentista que empresta por sua própria conta e risco receberia um dividendo de 1402,88 e um trabalhador, que tem seu dinheiro confiscado e sem direito a reclamação, apenas 300 reais. Seria a segunda, por involuntária, menos nobre? Ou seria a primeira mais arriscada?
Temos que concordar que ambas são formas de empréstimos feitos pelo governo federal. Sendo o devedor o mesmo, podemos considerar que o risco do contribuinte, por fazer um empréstimo mais longo, é maior. Seria mais justo, portanto, uma maior rentabilidade para este. Mas como vemos isto é justamente o contrário.
O que explicaria a diferença de remuneração? Poderia se argumentar que enquanto o empréstimo retorna integralmente para o credor, a contribuição previdenciária tem que suprir uma série de outras demandas. Vamos então tomar como verdadeiro que apenas 50% do seu valor seja para o pagamento da “dívida” ou, como se preferir, da aposentadoria. Ainda assim o valor seria muito acima do realmente pago (133,81% maior), o que demonstra que: ou o governo paga pouco para o aposentado e lucra o valor que expropria dele; ou paga muito para o rentista, não tendo retorno real do dinheiro que pede emprestado, ou uma mistura das duas coisas.
Se qualquer uma das alternativas for verdadeira, e eu desconfio que a mais correta é a terceira, fica-se a impressão que o governo está contribuindo negativamente para o progresso da nação em geral e dos futuros aposentados em especial. Primeiro porque lhes retira a possibilidade de fazer aplicações mais rentáveis no presente com o dinheiro que arrecada com as contribuições previdenciárias. Segundo porque as aplica de maneira ineficiente, quando não simplesmente as perde na rede de maracutáias que parece ser o sistema previdenciário atual.
Caso o sistema previdenciário seja reformulado para aumentar a base de contribuintes, como quer o governo, só se estará aumentando o número de pessoas lesadas pelo sistema. O rombo parece ser mais um problema de gestão do que é arrecadado hoje do que de aumento deste montante.
Estaremos mais uma vez medicando o sintoma e escondendo a causa da doença.

terça-feira, 19 de abril de 2005

A importância do biodiesel para o agronegócio

Esta se fazendo um carnaval a respeito do biodiesel, mas não se pode garantir que esta é uma alternativa economicamente viável pelo seu potencial de incentivar a agricultura.
Alguns afirmam que ele se torna competitivo com o diesel mineral quando o petróleo atinge patamares por volta de 30 dólares o barril, outros que este valor seria ainda mais alto. Sendo assim, todos os produtores estariam muito vulneráveis às variações do combustível, cujo preço é mantido alto mais por fatores de mercado do que de custo de produção.
Portanto os produtores estariam no pior dos mundos. Sua própria atuação tenderia a baixar os preços do petróleo e os seus custos de produção são maiores do que os da média das indústrias petrolíferas.
Porém o biodiesel tem um trunfo em suas mangas. Ele pode ser utilizado como regulador de mercados e isto pode ser a chave do sucesso do programa.
Da mesma forma que os usineiros decidem se produzirão álcool ou açúcar dependendo dos preços destas duas commodities, os produtores de biodiesel e as cadeias que deles dependerão terão bastante flexibilidade.
Os motores diesel rodam com qualquer porcentagem na mistura de diesel mineral e biodiesel, portanto fica descartada a chantagem por parte dos produtores de biodiesel por maiores vantagens, como ocorreu pelos produtores de álcool durante a crise de desabastecimento que diminuiu muito o prestígio dos carros a álcool.
Além disso, há uma grande gama de precursores do combustível orgânico, que vão desde os resíduos gordurosos dos esgotos domésticos até alguns óleos vegetais nobres e caros. Isto permite que se perenize a produção e se aproveite uma abundância eventual de matéria-prima.
Como exemplo, este poderia ser o caso do excesso de soja que ocorreu quando, alegando contaminação, os chineses impediram o desembarque de grãos brasileiros. O preço do produto despencou momentaneamente. Se houvesse um mercado alternativo (os produtores de biodiesel) isto não ocorreria.
Outra externalidade positiva que talvez incentive a adoção de biodiesel é que ele poderá reduzir também os custos das centrais de tratamento de esgotos, uma vez que os resíduos gordurosos passarão de algo que gera problemas de armazenamento para algo que gera receitas pela venda para s produtores de combustível, acelerando a resolução de um problema que mais cedo ou mais tarde terá que ser enfrentado.
Além dos resíduos de esgoto seriam beneficiadas pela mesma lógica todas as empresas que geram resíduos gordurosos, como grande parte das plantas industriais com base em recursos agrícolas. A utilização destes passaria a gerar lucro ou reduzir prejuízos.
Sendo assim, mesmo que os 200 mil empregos que o Governo Federal espera criar com o programa de biodiesel não se concretizem, ele pode formar uma indústria que se sustenta. Se não pelos óleos da agricultura feita especialmente para ele, pelos resíduos que hoje são uma dor de cabeça para prefeitos e industriais Brasil afora.

segunda-feira, 18 de abril de 2005

A geração de valor

Bem, por que um artigo sobre geração de valor? Porque esta é o ponto falho da economia brasileira.
Enquanto ficamos mendigando abertura de mercados para produtos agrícolas deixamos de ocupar espaços em produtos completamente abertos à competição internacional cujos principais insumos são justamente aqueles para os quais as portas estão fechadas, não é um contra-senso?
E por que não aproveitamos as possibilidades? Falta de tecnologia? Falta de expertise? Falta de vontade?
Em alguns casos particulares pode ser que sim, mas provavelmente a resposta que mais se enquadraria como razão geral é a mais completa falta de vergonha.
Nossos empreendedores deixam de utilizar nossa capacidade interna simplesmente porque é mais fácil vender os produtos agrícolas em natura ou matérias-primas não processadas do que industrializá-las e tentar vender um produto de maior valor agregado em mercados que eles não dominam.
Ficam refém dos preços das commodities internacionais, mas não correm o risco dos industriais; tentar achar mercado para seus produtos. O velho certo em lugar do duvidoso.
Tomemos alguns itens para os quais a geração de valor pode ser executada com atos simples e práticos.
Comecemos com a carne bovina. O Brasil é o maior exportador mundial dela, porém não pode ser vendida em natura no mercado norte-americano. Industrializada pode e já é, só que quantidades ínfimas. Choramos, mas não industrializamos. A cama é o lugar quente.
O café; torrá-lo e moê-lo não é um bicho-de-sete-cabeças, porém há mais de um século o país é o maior exportador de grãos não beneficiados. Um saco de 60 quilos de café tipo arábica é cotado na BMF de São Paulo por cerca de 140 reais (2,3 reais por quilo). Para comparar, uma libra de café arábica de origem africana, na loja virtual da Starbucks, custa de 10 a 16 dólares (de 57 a 91 reais o quilo) para os consumidores norte-americanos. O produto nasce, cresce e reproduz-se no terceiro mundo; o dinheiro morre lá.
O mesmo pode ser dito a respeito do cacau, do qual o Brasil dominou o mercado por anos a fio e ainda hoje é um importante competidor, e de seus subprodutos. No mais difundido deles, o chocolate, os suíços são considerados como os melhores do mundo. Pergunte a um suíço se ele já viu uma árvore cacaueira.
Detemos 60% da produção mundial de suco de laranja. Esmagado e concentrado, este sai daqui em grades tanques, congelado e pronto para ser envazado em outros países.
Exemplos como estes se repetem em muitos pontos de muitas cadeias produtivas nacionais. Não é necessário que todos os elos de uma cadeia sejam processados aqui, mas a cada elo mais empregos e renda são colocados na nossa conta.
Continuar a ignorar os elos que poderíamos prover internamente quando dispomos de espaço físico, energia de sobra e mão-de-obra desocupada chega a ser um pecado.

sábado, 16 de abril de 2005

Japão e União Européia são pólos de atraso econômico?

Os analistas econômicos costumam culpar o Japão e os países que compõem a zona do Euro (aqueles que adotam o Euro como moeda oficial) pela falta de dinamismo econômico no mundo, mas não consigo entender o porquê.
É fato que as taxas de crescimento destas duas áreas não atingem os níveis dos emergentes, nem mesmo o dos Estados Unidos, mas como podemos exigir isto de parcelas do mundo nas quais os índices de pobreza e indigência estão apenas residuais?
Todos sabemos que altas taxas de melhoria do que quer que seja são mais rápidas nos primeiros momentos, declinando quando se aproxima do seu platô ou ponto de equilíbrio. Apesar de não ser um índice qualitativo, nas taxas de crescimento econômico isto também ocorre.
Nos países ditos emergentes, as economias estão passando de um estágio de produção de subsistência quase medieval para um no qual as indústrias dos pólos mais desenvolvidas estão se instalando neles e transformando-os em centros de exportação para os países desenvolvidos, o que explica os altos índices de crescimento econômico.
Os Estados Unidos estão passando por duas situações de guerra externa, na qual não há combates em seu solo e a produção não é em nenhum momento ameaçada. O orçamento militar do país provocou um grande impulso na economia americana particularmente porque esta é uma área na qual o grosso da produção de bens e serviços, por razões de segurança nacional e nacionalismo puro e simples, é gerada dento do território dos Estados Unidos, ao contrário de grande parte das demais indústrias de lá.
Além disto, está patrocinando seus gastos públicos com um déficit fiscal de cerca de 5% do PIB, em uma atitude que aqui levaria para a cadeia o “president” devido à Lei de Responsabilidade Fiscal.
Já Japão e países do Euro não enfrentam nada disso. Passaram pela fase de industrialização rápida a muito e já estão, n verdade, alguns passos adiante. Estão concentrando-se na economia do conhecimento, que gera mais lucros e menos ônus ambientais, e em uma fase pacífica, interna e externamente, como nunca se viu.
E, talvez mais importante, ao contrário dos emergentes e dos Estados Unidos, a população destes países está diminuindo e as baixas taxas de crescimento econômico acabam se traduzindo em aumento da riqueza per capita.
E seus habitantes estão gozando muito as benesses da riqueza. Dados sobre a Europa demonstram que lá se trabalha a cada ano menos horas e que o excedente de tempo e dinheiro é responsável por uma forte indústria de entretenimento, lazer e turismo.
O mesmo acontece em menor escala no Japão, mas os dados demonstram que nos Estados Unidos ocorre justamente o contrário. O crescimento do país é gestado em um aumento per capita de horas trabalhadas e seus habitantes tem cada vez menos tempo para o lazer, gastando o excedente monetário em consumo de produtos.
Eu não sei quanto a vocês, mas eu preferiria estar no lado dos europeus e japoneses.

sexta-feira, 15 de abril de 2005

A política de juros e a realidade

Nos sonhos dos diretores do Banco Central, os juros altos da taxa Selic são capazes de arrefecer o furor consumista dos brasileiros, ávidos por produtos de consumo e altamente endividamos, desta bolha inflacionária que os varejistas estão impondo aos mercados.
Pena que isso ocorra apenas no sonho dos diretores do BC.
Isto não ocorre por dois motivos muito simples, não há no momento inflação de demanda e o consumidor médio brasileiro não liga a mínima para a taxa Selic, na verdade nem ao menos sabe o que é isso.
Mesmo porque saber se a taxa Selic é de 10 ou 20% ao ano não parece de fato muito importante quando se paga taxas de até 6% ao mês na loja de eletrodomésticos.
Pois bem, o aumento da taxa de juros para baixar a inflação funciona apenas se isto conseguir diminuir a base monetária, ou seja, a quantidade de dinheiro em circulação na economia. Com menos recursos os consumidores deixariam de fazer compras supérfluas e os vendedores teriam que baixar os preços, ao menos deixar de aumentá-los, para tentar atraí-los.
É necessário também que estejamos em regime de mercado perfeito, no qual a demanda é em sua totalidade coberta pela oferta e ocorra concorrência real entre os ofertantes.
Tudo muito bonito não fosse o fato que não há sobre-oferta monetária no país e sim inflação de custos, na qual os fatores que determinam os preços do produto final (trabalho, lucro do investidor, matérias-primas, etc) sofrem reajuste, puxados pela demanda internacional.
Também não temos consumidores endividados com seu passivo atrelado à variação da Selic e, portanto, suscetíveis ao aperto financeiro do seu aumento e conseqüente diminuição de consumo.
Pior do que isto, aparentemente, a taxa de juros nem é um fator importante na decisão de compra de consumidores brasileiros. Eles parecem ser importar mais com o valor da prestação do que com os custo final do bem.
Agravando ainda mais o quadro temos o fato de que as compras atuais, reprimidas por anos de arrocho no poder de compra da população, é de produtos de alta necessidade ou de substituição itens (como a compra de uma geladeira par repor uma que deixou de funcionar).
Desta forma temos um quadro no qual a taxa Selic se torna mais uma forma de estimular aqueles que já são rentistas a manter ou aumentar suas aplicações do que de controle inflacionário, e a persistência do Brasil como país que paga os mais altos juros reais o mundo não se justificam, tanto pela ótica da credibilidade da nação quanto pela de controle fiscal.
De que adianta manter grandes superávits primários se eles são todos corroídos pelo pagamento de juros injustificáveis, que resultam em aumento nominal da dívida pública?
Esta é uma questão que os técnicos do BC deverão responder na próxima semana.

quinta-feira, 14 de abril de 2005

A política de cotas raciais

Faz sentido uma política de cotas raciais nas universidades brasileiras?
Ao meu ver não, pois trataria apenas de tratar o sintoma e não a doença.
E por que digo isso? Simples, como toda política importada, o sistema de cotas raciais está baseado em premissas totalmente diferentes da realidade brasileira.
Nos Estados Unidos, onde o sistema de admissão de novos alunos nas faculdades envolve um complexo trâmite; no qual são avaliados o currículo, a diversidade étnica no campus, histórico da família e entrevistas com os candidatos, há uma grande possibilidade de se selecionar os alunos conforme critérios raciais ou qualquer outro que se queira adotar.
O nosso sistema é totalmente o inverso. Apesar de ser até mais injusto, pois restringe aos candidatos a chance de ingressarem nas faculdades mais procuradas segundo uma avaliação totalmente impessoal e sujeitá-los a intempéries disto (o candidato pode estar adoentado no dia de realização dos exames, está sujeito ao viés da prova, etc.).
Porém esta impessoalidade também afasta o viés racista da admissão nestas mesmas instituições. Ao alcançar os pontos necessários para a matrícula é garantido ao aluno o direito de efetuá-la, não importando se negro, branco, amarelo, homossexual, heterossexual, católico, protestante, etc... ou seja, não importando etnia, gênero, opção sexual ou credo.
Deste modo se esvazia o argumento que justificaria o sistema de cotas; o de que existe uma barreira que seleciona a etnia pelo vestibular. Não havendo esta barreira, abrir uma comporta para determinada minoria seria pura e simplesmente descriminação racial de outrem.
Além da possível inconstitucionalidade de tal norma, que parece estar sendo demonstrada a cada nova derrotas das universidades que adotam cotas raciais até o momento, abre-se aí um mecanismo de favorecimento das já existentes elites negras e não de inclusão das minorias que hoje são excluídas. Passaria-se de um sistema meritocrático puro para um de meritocracia entre as etnias e a raiz do problema não seria nem ao menos tocado.
E qual seria esta raiz? A falta de um sistema público de ensino que credencie os seus alunos a competir em igualdade de condições com os provenientes das escolas privadas.
Criando-se as cotas, os estudantes oriundos das escolas públicas continuarão despreparados e os do ensino privado continuarão angariando o maior número de vagas, mas os estudantes negros provenientes de escolas privadas terão um caminho teoricamente facilitado. Incluir os já incluídos é um favorecimento que não tem justificativa lógica.
A adoça das cotas pode ter ainda o efeito colateral de por em dúvida a competência dos pertencentes às minorias, pois estes poderiam ser apontados a todo o momento como oportunistas que se valeram da legislação para “roubar” o lugar de outros mais gabaritados com o azar de ter nascido como maioria.
Ou seja, poria sobre toda uma geração de profissionais a pecha de favorecidos e aproveitadores, mesmo quando capazes e habilitados, alimentando ao invés de corrigir o preconceito social.

quarta-feira, 13 de abril de 2005

Ééééé maaiiiiiiiiiiis ummmmm gol brasileiro meu povo

Alex (campeão brasileiro pelo Santos) matou a bola no peito e em belo sem-pulo estufou a rede, empatando a partida. O zagueiro Cris (campeão brasileiro pelo Cruzeiro) assistiu a tudo sem nada poder fazer.
Na disputa de pênaltis, Robert (ex-São Caetano) decretou a vitória de sua equipe, cobrando o derradeiro.
Mas o herói mesmo foi Gomes (que atuava junto de Cris no título mineiro), que na mesma disputa defendeu dois penais.
Tudo isto seria natural se Alex, Robert e Gomes estivessem disputando uma partida do campeonato paulista ou fluminense mas não, eles estavam em campo defendendo o PSV holandês frente ao Lyon; de Juninho Pernambucano, Nilmar, Caçapa e o já citado Cris; em mais uma rodada da Liga dos Campeões da Europa.
Isto mesmo, sete atletas brasileiros entre os que atuaram em uma única partida de um Campeonato Europeu.
E nem podemos dizer que este foi um caso aberrante de um torneio específico. Já é uma rotina em vários campeonatos da Europa haver mais brasileiros atuando do que jogadores nascidos no próprio país onde se realiza a partida.
Alguns enxergam isto por um prisma negativo, o de que os ídolos nacionais estão todos indo jogar no exterior e que isto esvazia nossos campeonatos internos e, conseqüentemente, enfraquece nosso futebol.
É fato que nossos campeonatos estão muito ruins tecnicamente e que sempre que um jogador desponta é logo sondado para uma transferência para o exterior, porém não podemos dizer que isto é necessariamente ameaçador para eles.
Primeiro porque a fidelidade de nossos torcedores não é para com o ídolo esportivo (na verdade, o ídolo é na maioria das vezes até coagido a se transferir de clube pela pressão dos torcedores após uma seqüência de maus resultados), mas com os clubes.
E depois devido à janela de oportunidades que estas transferências abrem para o aparecimento de uma grande quantidade de bons jogadores e até mesmo de alguns craques.
No Brasil, e provavelmente na grande maioria dos países, o sucesso da seleção nacional alimenta o sucesso do esporte como um todo, gerando mais renda e público em todas as esferas da modalidade. O êxodo de jogadores para Europa serve nas duas pontas para o fortalecimento relativo da Seleção Brasileira em relação às demais.
Em uma ponta, favorecendo o amadurecimento de jogadores que cobrem as vagas dos que deixam o país e, na outra, tamponando o aparecimento de jogadores em outros.
Em suma, a exportação de mão-de-obra é uma mostra da vitalidade de nosso futebol e, conseqüentemente, de nossos campeonatos.
Se a saúde financeira dos clubes não exprime esta vitalidade, é mais uma mostra de como o potencial gerador de renda deles está sub-aproveitado.
Como, de resto, o de todo o país está.

terça-feira, 12 de abril de 2005

Uma aventura na Babilônia

Armas químicas? Controle do petróleo? Insanidade coletiva dos dirigentes da dita “coalizão”? Demonstração de hegemonia militar? Não, nada disso.
Nada me tira da cabeça que o verdadeiro motivo para a deflagração da guerra que depôs o ditador iraquiano Saddam Hussein foi uma tentativa de esconder o vergonhoso déficit norte-americano de então.
Bem, vamos tentar analisar os dados:
Caso a hipótese de posse de armas químicas fosse a verdadeira, invadir o país e deixá-lo acéfalo seria a pior das ações. Tendo ou não armas químicas, Saddam era um adversário que podia ser contido, como estava sendo nos 13 anos após a Guerra do Golfo. Com a instabilidade gerada pelos combates, o cenário só poderia ficar pior, as armas poderiam cair em mãos havidas por lucros e os cientistas dos programas de armas químicas iraquianas poderiam se empregar em um outro centro, só Deus sabe onde.
Controle do petróleo seria uma alternativa plausível caso a alternativa militar não fosse tão desastrosa do ponto de vista econômico. Com o valor gasto na Guerra, os Estados Unidos poderiam financiar suas importações de petróleo por muito tempo e ainda poderia criar programas de substituição energética, que poderiam dar mais independência ao país em relação aos exportadores do chamado “ouro negro”.
Insanidade coletiva dos dirigentes da “Coalizão”; bem, é difícil acreditar que os governantes de alguns dos países mais poderosos do mundo tenham autonomia para tomar decisões que afetam tão profundamente seus países a ponto de levá-los à guerra por capricho e não serem contidos.
Hegemonia militar? Seria também uma alternativa caso isso não demonstrasse exatamente o contrário. A hegemonia militar dos Estados Unidos não era contestada no momento em que a decisão foi tomada, mas a participação maciça dos efetivos norte-americanos no Iraque fez com que a possibilidade de envolvimento em conflitos atual seja muito menor do que antes. Sendo menor também seu poder de intimidar e sua hegemonia.
Isto me leva à minha hipótese de que a guerra serviu para mascarar erros administrativos da gestão Bush. A motivação é sórdida, concordo, mas foi a única que me fez sentido antes do início dos combates. Na época se discutia as contas do governo Bush, que estava preste a mostrar que o rebanho (depois das vacas gordas de Clinton) sofria de anemia profunda. E o inimigo externo de sempre para manobras dispersivas era o Saddam da esquina.
Depois do início dos combates, muito se falou, se discutiu, mas nada de novo apareceu que me mostrasse alguma justificativa concreta e acertada para a guerra; então meu raciocínio ainda está valendo. Aceito sugestões e explicações. A minha é muito torpe e dolorosa para se aceitar como verdade.
O argumento mais palatável seria o último aventado; mudança de regime para a imposição de uma democracia. Mas será que imposição e democracia podem ser usadas na mesma frase.

segunda-feira, 11 de abril de 2005

O verdadeiro mal do Brasil: governo que não faz

A maioria deve se lembrar de um comercial que costumava passar no horário nobre televisivo e que ressaltava a importância do indivíduo no desenvolvimento da sociedade e que costumava se encerrar dizendo: Fulano é gente que faz.
O impacto dele foi tão grande que gerou até anedotas de programa humorístico que, mostrando a fertilidade de certas regiões da nação, arrematava: Cicrano é gente que faz gente.
Pois chegamos a um ponto em que precisamos de uma propaganda no mesmo horário nobre pra dizer: Brasileiro é governo que não faz.
Mas isto não é o maior problema; existem centenas de governos que não fazem mundo afora. O problema maior é que o governo cobra pelo serviço e não o entrega.
E se não bastasse cobrar, cobra de maneira específica. Existem os impostos de seguridade social, para evitar que haja desalento entre os trabalhadores brasileiros, e o desalento existe.
Há a contribuição criada para evitar a precarização do sistema de saúde, e o sistema de saúde é a todo o momento apontado como uma preocupação do brasileiro.
Existe a Cide, contribuição criada para tornar as vias públicas trafegáveis, e os buracos continuam cercados por resquícios de asfalto.
Existem as transferências obrigatórias para o sistema educacional e muitos alunos terminam o ensino básico analfabetos.
Os exemplos não param por aí e, com tudo isso, o trabalhador brasileiro é constantemente bi-tributado, alguns poderiam até dizer extorquido. Paga os impostos “devidos”, mas não recebe o serviço público em troca, e tem que pagar o serviço novamente para a iniciativa privada.
É a previdência privada, o plano de saúde, o conserto do carro, a escola particular, etc. Tudo na tentativa de remediar ao que o governo, nos seus mais diversos níveis, deixou de cumprir de suas atribuições.
E qual é a defesa para a sua inação e incompetência? Se formos considerar isto como defesa, são os argumentos de que os governos têm restrições orçamentárias e outras prioridades, mesmo após ter cobrado especificamente pelo serviço, e não podemos nem ao menos chamar o Procon.
Outras vezes, alguns governos, vendo o absurdo dos argumentos acima citados, simplesmente escondem o sol com peneiras é se dizem perseguidos por aqueles que apontam as falhas. Estes são sempre “agentes da oposição”.
Já é passado o momento de que os governos tomem para si a responsabilidade de fornecer realmente os serviços pelos quais cobram, tirando do ombro da sociedade o ônus de arcar com a incompetência de seus governantes.
Não é só na cobrança de impostos que os governos tem que se mostrar atuantes e competentes. Quando eles se mostrarem assim em todas as áreas de atuação, além do bem-estar geral, até o poder contributivo da sociedade aumentará e não precisará ocorrer esta guerra entre o poder público, cobrando, e os indivíduos procurando garantir sua sobrevivência, sonegando.

sábado, 9 de abril de 2005

O valor da educação

Das ladainhas que se propagam nos noticiários políticos e econômicos, talvez a mais usada é a relacionada à importância da educação tanto para o desenvolvimento individual quanto para o coletivo, mas existe um porém: o que é educação?
Até concordo que a educação é importante e creio que não acharemos ninguém que discorde abertamente, contudo os que falam disto, geralmente, estão expressando fé em uma parcela muito estreita da educação: a escolaridade.
Ou seja, eles estão expressando que a educação formal, aquela que conseguimos nos bancos escolares, é a mola propulsora do desenvolvimento de um país e que ao aumentarmos o nível de escolaridade, anos passados nas instituições de ensino, estaremos automaticamente melhorando nossa posição no quadro dos países.
Eu discordo. Para mim, altos níveis de escolaridade de uma população são mais um reflexo do grau de desenvolvimento de um país do que o contrário.
São facilitadores de um processo de desenvolvimento, é verdade, mas não garantem sucesso econômico e social independentemente de outros fatores; como a tragédia do retrocesso nos dois campos das nações que formavam a antiga União Soviética pode demonstrar.
Caso a escolaridade fosse fator primordial, como explicar que nosso presidente e os dois seguintes na cadeia de sucessão, vice-presidente e presidente da Câmara dos Deputados, não são formados em nenhuma instituição de ensino superior, ou doutores como se costuma dizer por aí, mas pela escola da vida, como ao menos o Presidente adora propagandear?
E ao espantoso florescimento da economia brasileira entre o fim da II Guerra Mundial e o fim da década de 1970, época em que o país era campeão mundial de crescimento do PIB, quando muitos países já haviam erradicado o analfabetismo e nas estatísticas nacionais o número de iletrados, analfabetos funcionais e analfabetos francos eram muitos maiores do que os nos dias de hoje?
Na minha opinião isto não demonstra a desimportância do ensino formal, mas sim que ele não é a panacéia que muitos receitam. Creio até que isto só demonstra que os fatores do desenvolvimento de uma nação são muito mais sinuosos do dizem os simplistas e que um primeiro passo para o nosso seria um verdadeiro choque de educação em nosso povo.
Um choque não de escolaridade, como defenderiam os “diplomálatras” que fazem a alegria da burocracia e dos burocratas, mas de educação em um sentido mais amplo de desenvolvimento.
Apenas tento deixar claro que, ao tentar explicar nosso atraso sócio-econômico pelos índices de educação nós teremos o mesmo sucesso que ao tentarmos fazer um retrato-falado de alguém olhando a foto de casamento de seus pais. Podemos até acertar, mas será pura sorte.
Nos dois casos o “DNA” dos objetos é em grande parte compartilhado, mas a expressão fenotípica deles pode variar demais.

sexta-feira, 8 de abril de 2005

O valor do dólar americano

Em comentários, reportagens, entrevistas, sinais de fumaça ou onde mais possam expressar sua opinião; os exportadores estão dizendo que o dólar está muito desvalorizado frente ao Real, mas a realidade não está muito condizente com isso; pois por mais que o Banco Central intervenha, a moeda só cai, cai e cai aqui no Brasil.
Para fazermos uma pequena retrospectiva histórica, lembremos que o valor do Real foi arbitrado por convenção, quando da criação do plano, com um valor muito próximo ao da moeda americana e este não tinha por que ser discutido, uma vez que refletia apenas uma referência para a qual o resto da economia deveria convergir.
Como apontar o valor justo de uma moeda é uma arte que poucos no mundo estão aptos a fazer, se não ninguém, vamos avaliar alguns dos fatores que podem afetar as taxas de câmbio e tentar encontrar os argumentos pelos quais a moeda brasileira estaria hoje mais cara do que deveria.
O primeiro fator que deveria ser investigado seria a posição relativa frente a um “pacote de moedas”, ou seja, se o dólar está tão valorizado atualmente quanto esteve a algum tempo atrás. Em seguida deveríamos partir para os demais fatores.
Um fator que pode influenciar muito na taxa de câmbio entre duas moedas é a inflação relativa entre as duas (diferença entre as inflações dos dois países). A título de exemplo, caso esta tivesse sido de 200% entre Brasil e Estados Unidos e descontados os demais fatores, o dólar deveria valer hoje cerca de 3 reais.
Outro fator seria a movimentação de divisas. Neste ponto o Real dos últimos tempos goleia os americanos e seus déficits gêmeos, que substituíram as torres do WCT como símbolo da globalização naquele país.
Outro seria o aumento de eficiência econômica de um país em relação ao outro. Como todos sabemos a eficiência é o fator que permite gerar mais valor, ou produtividade, com a mesma quantidade de recursos.
Geralmente se anuncia que o índice de produtividade americano está aumentando cerca de 1% ao ano enquanto o do Brasil está em queda no momento. Este índice é expresso como sendo dólares por trabalhador, ou seja, o valor per capta que alguém consegue agregar com seu trabalho. Não acredito na qualidade destes índices, pois eles são expressos em dólares e não levam em conta diferenças relativas dos valores de produtos e serviços de cada economia.
Estes fatores são os que são apontados mais freqüentemente como influenciador do câmbio pelos textos que tratam do assunto. Para ser sincero não sei qual deveria ser o valor do real perante o dólar, porém desconfio que os exportadores estão batendo na tecla errada quando culpam este valor pela perda da competitividade da nossa economia exportadora.
Não acredito que há fortalecimento agora, mas que ocorreu enfraquecimento excessivo outrora.

quinta-feira, 7 de abril de 2005

O melhor modelo

Esta é para reflexão, qual é o nosso modelo de nação?
Foi no passado a república norte-americana, mas o tempo foi mudando isto, tanto que em quase nada nossas instituições se parecem hoje em dia com as dos Estados Unidos.
Quando da constituinte de 1988, quase tudo que foi embutido em nossa Carta Magna (muito mais um Livro Magno) foi inspirado nas constituições européias, porém em tudo diferimos das sociedades européias, ou em quase tudo.
Então aparentemente somos um país a procura de um modelo o que causa aqui uma profunda desigualdade regional (tá, eu confesso que isto ocorre em praticamente todos os países continentais) ou no mínimo vários modelos à procura de hegemonia.
Apontar qual é o melhor modelo não é fácil, mas poderíamos dar uma olhada nos que funcionam através do mundo.
Entre os países desenvolvidos apenas um é presidencialista, os Estados Unidos da América, e entre os subdesenvolvidos a grande maioria é formada por presidencialistas, quando não totalitários.
O engraçado é que mesmo os Estados Unidos não parecem pensar que o regime presidencialista é o ideal, pois em todos os locais onde ele interveio para a mudança de poder; do Japão, no final da II Guerra, ao Iraque, hoje, implantou regimes parlamentaristas.
Mas deixa estar, um modelo de nação não é formado apenas pelo regime; há uma série de outras peculiaridades como, por exemplo, os sistemas educacionais, de saúde, etc...
No caso destes dois, nossa constituição diz que deve ser providas pelo Estado a educação até pelo menos o secundário de modo irrestrita e gratuita e a saúde universal e gratuita. Verdadeira maravilha caso não passasse de ficção. E quando a constituição de um país é peça de ficção algo muito errado está acontecendo.
De qualquer forma algo está errado, ou estamos dissociados do modelo que alguém planejou e esqueceu de avisar ao resto da população ou estamos simplesmente sem modelo. Precisamos tentar dar ao país um rumo que seja considerado pela maioria da população o seu ou estaremos condenados a um futuro de crises após crise, pois sem uma meta não há como fazer um indivíduo passar por provações, quanto mais toda a maioria do povo brasileiro como está ocorrendo hoje.
Os axiomas “Brasil, país do futuro” e “crescer para poder dividir” a muito perderam sua força e o tecido social parece estar meio esgarçado em boa parte do país.Precisamos agir, mas em uma direção, e para isso precisamos saber o que pretendemos do futuro, de metas ou mesmo de utopias. Qual é a nossa neste momento?

quarta-feira, 6 de abril de 2005

Os 300 de Severino

Enquanto não se botarem os pingos nos is e se explicitar os papéis de cada um na vida pública brasileira não se acabará com esta palhaçada que cá está.
É por isso que cada vez gosto mais de Severino Cavalcanti. Ele parece ser o único no momento que faz valer os atributos de uma figura pública que: sabe qual é o seu papel; o cumpre e; melhor, o faz abertamente.
Vamos parar de hipocrisia. Esta história de que os políticos que estão exercendo mandato são representantes do povo, uma generalização que significa todos e ninguém, é uma balela.
Os políticos eleitos para cargos executivos não são, ou não deveriam ser, representantes de ninguém e sim gestores dos patrimônio e programas públicos. Portanto, não são mais nem menos do que qualquer administrador, como aquele de empresas perante da fábrica ou loja que dirige. Seu compromisso deve, ou deveria, ser apenas com a realização de metas, aquelas que ele apresentou ao se candidatar, e apenas por elas deveria ser cobrado e julgado como bom ou mal.
No dos eleitos para cargos do legislativo, cada um representa um grupo, ou grupos, que o elegeu; seja este grupo formado por empresários, fiéis de uma igreja ou representantes de um sindicato qualquer. Desde que cumpra seu mandato dentro das regras e leis que o rege, somente a eles deve alguma satisfação. Figuras retóricas, como a pátria e o povo brasileiro, ou convenções sociais, vulgos moral e bons costumes, podem até ser usadas para tentar pressioná-los mas isto é apenas jogar para a torcida, o que vale mesmo é o pensamento dos grupos aos quais cada um representa não importando se isso é bom ou ruim para o país como um todo.
A idéia é que a soma dos interesses dos grupos que estão representados nos legislativos fará com que os interesses da maioria seja a contemplada. O problema aí reside no fato que isto nem sempre é verdade e, às vezes, dependendo do grau de distorção da democracia em que estamos inseridos, nem é o mais comum.
Os deputados, em particular, tem estas atribuições mais claras. Pois são representantes, até em nível estatutário (no caso a constituição), das populações de seus estados no contexto geral do país, ao contrário dos senadores que devem representar os interesses dos Estados como ente federativo.
Enquanto não entendermos isto e fizermos por onde, colocando pessoas nos legislativos que representem nossos interesses e bons gestores nos executivos, ficaremos chorando na cama, que é lugar quente, ou clamando pelo espírito público dos políticos, não necessariamente nesta ordem, mas com o mesmo resultado.E o Severino continuará sendo uma figura pública exemplar, defendendo os interesses daqueles que o apóiam: ele mesmo; sua (dele) família; os 300 deputados que o colocaram na Presidência da Câmara e; quem sabe, até a população de João Alfredo.

terça-feira, 5 de abril de 2005

Os bônus da alta do petróleo

A cada novo aumento do petróleo fico mais animado com as perspectivas para economia brasileira.
Os especialistas estão desencontrados se estes índices irão se manter no futuro, porém mais e mais deles começam a dizer que sim. Isto empurra cada vez mais a base energética das nações para outras vias que não o petróleo e neste campo o Brasil está muito bem.
Temos uma variada gama de meios de conseguir energia, inclusive de alguns que hoje são considerados alternativos; como através do vento ou da insolação solar, mas somos os campeões em uma que pode ser essencial em um futuro próximo: a biomassa.
Por biomassa entenda-se aquela proveniente de todas as formas de produtos orgânicos, do bagaço de cana ao esterco de vaca. Ou seja, são aquelas que derivam diretamente do sol abundante, da água abundante e da tecnologia agro-pecuária, coisas que o sucesso brasileiro na exportação de produtos de ramo provam ser mais do que encontradas nestas paragens.
Além disso, temos mais de trinta anos de pesquisas na procura de derivados de cana para a substituição de petro-derivados, e mais de vinte anos de sua utilização efetiva como combustível em automóveis, e estamos bem adiantado na pesquisa com o biodiesel.
Isto faz com que este cenário de petróleo alto seja menos amedrontador para nós do que para outras economias onde o petróleo é essencial até para a obtenção de energia elétrica, como a americana.
Com um o petróleo alto em todo o mundo os insumos dele derivados são encarecidos de modo geral mas teremos um avanço de competitividade pois nossos preços de energia, tirando os dos combustíveis utilizados no transporte, não são diretamente indexados ao do “ouro negro” e os nossos preços relativos tenderão a ficar menores do que os concorrentes internacionais.
Com a implementação de programas de biomassa gera-se também renda e trabalho interno em detrimento ao envio de divisas aos produtores externos de petróleo que estão a cada dia recebendo mais e mais recursos dos países consumidores do produto.
Outra vantagem adicional é que o encarecimento dos transportes, aliado as péssimas condições das estradas de rodagem aqui existentes, podem levar a uma mudança na nossa matriz de transportes para uma mais eficiente com predominância das hidrovias e ferrovias sobre o sistema rodoviário.
Desta forma acredito que este que alguns estão chamando de o novo choque do petróleo pode ser uma grande oportunidade para o Brasil, tanto para se afirmar como nação exportadora de combustíveis renováveis quanto, e o que é ainda melhor, de tecnologia nestes combustíveis.

segunda-feira, 4 de abril de 2005

Gaspari e a “telefonia gratuita”

Em seu artigo de ontem, na Folha de S. Paulo, Elio Gaspari sugeriu que o uso do aplicatico de computador Skype é mais uma forma de exclusão social dos que não têm pelos que têm – cartão de crédito, computador, banda larga – pois, além de não oferecer empregos aqui, drena recursos públicos, pelos impostos (45 centavos de cada real gasto em telefonia, segundo ele) que deixam se ser arrecadados, e não é usado pelas classes menos privilegiadas.
Não posso concordar com ele nem do ponto de vista econômico nem do social.
Do ponto de vista econômico porque o artigo está baseado em falsas premissas de que a ligação efetuada seria realizada de qualquer forma e, portanto, há uma perda de receita de impostos intrínseca ao uso do programa, e de que ao utilizar o programa não se está pagando nenhum imposto.
Como todos sabemos, a existência de um produto ou serviço de baixo custo cria demanda maior do que a de um produto semelhante de custo maior. Não seria por outro motivo que hoje, pra ficarmos no campo da telefonia, muitos que não tem nem ao menos telefone fixo utilizam aos celulares pré-pagos. Da mesma maneira não podemos dizer que quem usa o programa Skype para ter longas conversas com os amigos na Transilvânia as teria caso utiliza-se os serviços da Embratel, por exemplo. Isto derruba a primeira falsa premissa.
Quanto à segunda, temos que fazer outro tipo de análise. Um ponto é que, ao contrário do que se pensa, o tráfego de dados na Internet não é livre de tarifas e em algum ponto do circuito será cobrado imposto sobre elas (não me pergunto onde). Outro é que para a utilização do programa são necessários itens ou serviços sobre os quais incidem impostos; como os próprios computadores, a energia elétrica e o serviço de banda larga, ou mesmo telefonia convencional para acessar à Internet. Se estes impostos compensam à perda de arrecadação com os minutos de telefonia feitos através do Skype que seriam completados mesmo a revelia dele não sei, mas a conta será, na pior das hipóteses, de menor perda de arrecadação.
Do ponto de vista social a existência de aplicativos como o Skype é mais uma oportunidade de inclusão do que o contrário. Por oferecer um serviço mais barato em longo prazo do que o da telefonia convencional (principalmente a de longa distância) e ser acessível por uma grande quantidade de plataformas, eles podem influenciar no barateamento da telefonia em geral ou criar novas possibilidades de empreendimentos, como a criação de cyber-cafes e lan-houses em bairros carentes e com alta concentração de migrantes apenas para a comercialização de minutos de conversa telefônica através destes aplicativos, com a conseqüente criação de empregos.
De qualquer forma, este tipo de inovação tecnológica tem potencial de criar tanto inclusão quanto exclusão; como qualquer outro aliás, que sempre cria perdedores e vencedores no curto prazo; mas as chances de beneficiar o povo mais carente me parece ser mais acentuadas do as demais.

Observação: sim, sou usuário do Skype e não, não conheço ninguém na Transilvânia.

domingo, 3 de abril de 2005

Autonomia do BC: por quê não?

Faz algum tempo que se discute sobre se o Banco Central deve ter ou não autonomia. Isso leva na verdade a seguinte pergunta: são as instituições brasileiras confiáveis?
O que demonstra este imbróglio é que não. Cada nova legislação brasileira sobre regulamentação das instituições passa levemente sobre melhorar o funcionamento das instituições, seus mecanismos internos, e fortemente por aumentar as amarras e “controles” externos.
Fala-se nisso para o Judiciário, para as universidades, para o Ministério Público e qualquer outra instituição que se possa pensar.
Perante este quadro me pergunto: será que sociedade (este ente anencéfalo e sobre o qual não cabe nenhuma responsabilidade objetiva) deve manter controle direto sobre todas as instituições do país?
Por quê temos que desconfiar da integridade e da competência de todos os servidores públicos em nosso país e por isso colocar fiscais disfarçados de controladores nas instituições?
Se for para chutar eu diria que isso reflete a crise de confiança do país em suas instituições, que em um ciclo vicioso faz com que aumentemos a fiscalização prévia para que se diminua a possibilidade de erros, acidentais ou premeditados, pois se estes ocorrerem não haverá punição, aí criam-se os fiscais, depois os fiscais dos fiscais e assim vai.
Mas se queremos algum dia ser um país sério devemos fortalecer as instituições e não tutelá-las como se fossem crianças travessas, que a qualquer momento farão uma traquinagem se não houver um adulto por perto.
Mas o fato aqui é que as instituições sobre as quais estamos falando podem até ser recentes porém as pessoas que as comandam são, em sua totalidade, adultos capazes de responder por seus atos e com competência para tal (se não o tiverem, a falha foi de quem os colocou lá).
No caso específico do Banco Central, mostra-se o quanto as instituições estão desgastadas. O banco é um órgão estritamente técnico que utiliza as habilidades dos que o encabeçam para cumprir metas fornecidas por uma outra instituição e cujos cargos principais são preenchidos por indicação do Poder Executivo nacional e referendado pelo Poder Legislativo, mas nem assim confiasse que poderá exercer seu ofício se separado das pressões políticas.
Se não podemos confiar em um órgão com estas características em qual outro poderemos?
No caso específico do Banco Central devemos dar-lhe logo a autonomia e fiscalizá-lo com os rigores que a lei já imputa as instituições financeiras e seus controladores (sem esquecermos que ele já é um órgão fiscalizador por si mesmo).
Como às pessoas, chega uma hora em que as instituições devem deixar a proteção dos pais e ter sua autonomia, por quê não agora?

sexta-feira, 1 de abril de 2005

"Líderes Religiosos"

Este foi o primeiro texto que escrevi durante o curso de jornalismo, releendo-o agora não me parece muito fora do contexto.
Afinal, hoje, além dos líderes religiosos temos os líderes políticos que, religiosos, fazem absurdos em nome dos Deuses:

Meu primeiro impulso ao escrever o primeiro número desta coluna era o de criticar Deus e o mundo, principalmente o mundo. Mas, depois de muito refletir, resolvi criticar só a Deus, ou melhor, ao que fazem e fizeram em nome dele.
Não, não sou o Anticristo nem tampouco estou pedindo que você renegue a Jeová, Alá, Buda, Shiva, Santissima Trindade ou em quem mais o leitor acreditar. Só peço que este faça uma reflexão antes de acatar o que os chefes religiosos falam, pois estes com certeza não o fazem antes de se expressarem. Se o fizessem com certeza não ocorreriam tragédias como o recente envenenamento das instalações do metrô japonês e o, não tão recente, suicídio coletivo da seita de Jim Jones.
Será que se alguém refletisse coisas como essas aconteceriam? Imagino que não. Afinal de contas o número de desequilibrados mentais não é tão grande assim, ou é? Imagino também que enquanto grande parcela da população não se conscientizar que fé cega em um deus, que é uma qualidade religiosa, é diferente de fé cega em um líder religioso, que é uma burrice sem tamanho, muitas sandices continuarão a ser praticadas em nome de Deus, Tupã, Eros, Baco, etc, etc e etc.