sexta-feira, 15 de abril de 2005

A política de juros e a realidade

Nos sonhos dos diretores do Banco Central, os juros altos da taxa Selic são capazes de arrefecer o furor consumista dos brasileiros, ávidos por produtos de consumo e altamente endividamos, desta bolha inflacionária que os varejistas estão impondo aos mercados.
Pena que isso ocorra apenas no sonho dos diretores do BC.
Isto não ocorre por dois motivos muito simples, não há no momento inflação de demanda e o consumidor médio brasileiro não liga a mínima para a taxa Selic, na verdade nem ao menos sabe o que é isso.
Mesmo porque saber se a taxa Selic é de 10 ou 20% ao ano não parece de fato muito importante quando se paga taxas de até 6% ao mês na loja de eletrodomésticos.
Pois bem, o aumento da taxa de juros para baixar a inflação funciona apenas se isto conseguir diminuir a base monetária, ou seja, a quantidade de dinheiro em circulação na economia. Com menos recursos os consumidores deixariam de fazer compras supérfluas e os vendedores teriam que baixar os preços, ao menos deixar de aumentá-los, para tentar atraí-los.
É necessário também que estejamos em regime de mercado perfeito, no qual a demanda é em sua totalidade coberta pela oferta e ocorra concorrência real entre os ofertantes.
Tudo muito bonito não fosse o fato que não há sobre-oferta monetária no país e sim inflação de custos, na qual os fatores que determinam os preços do produto final (trabalho, lucro do investidor, matérias-primas, etc) sofrem reajuste, puxados pela demanda internacional.
Também não temos consumidores endividados com seu passivo atrelado à variação da Selic e, portanto, suscetíveis ao aperto financeiro do seu aumento e conseqüente diminuição de consumo.
Pior do que isto, aparentemente, a taxa de juros nem é um fator importante na decisão de compra de consumidores brasileiros. Eles parecem ser importar mais com o valor da prestação do que com os custo final do bem.
Agravando ainda mais o quadro temos o fato de que as compras atuais, reprimidas por anos de arrocho no poder de compra da população, é de produtos de alta necessidade ou de substituição itens (como a compra de uma geladeira par repor uma que deixou de funcionar).
Desta forma temos um quadro no qual a taxa Selic se torna mais uma forma de estimular aqueles que já são rentistas a manter ou aumentar suas aplicações do que de controle inflacionário, e a persistência do Brasil como país que paga os mais altos juros reais o mundo não se justificam, tanto pela ótica da credibilidade da nação quanto pela de controle fiscal.
De que adianta manter grandes superávits primários se eles são todos corroídos pelo pagamento de juros injustificáveis, que resultam em aumento nominal da dívida pública?
Esta é uma questão que os técnicos do BC deverão responder na próxima semana.

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