quinta-feira, 28 de abril de 2005

Os preços administrados e a inflação

Pela lógica, não deveria haver aumento dos preços administrados pelo governo, apesar de cada caso ser único, já que a maioria destes preços é reajustada por índices que tem como principal fator de custos produtos importados indexados ao dólar. Com a queda em mais de 30% do valor do dólar em um ano, deveríamos ter no máximo preços mantidos. Na melhor hipótese estes deveriam ser reajustados para baixo.
Mas aí a porca torce o rabo. Todas as forças, com exceção é claro dos consumidores, lutam por preços os mais altos possíveis.
Para os empresários os reajustes são muito favoráveis, é óbvio. Mesmo que eles não utilizem índice aprovado na íntegra, é sempre bom ter a possibilidade de usá-lo. No caso deles, os preços dos serviços e produtos são fixados principalmente olhando para os preços da concorrência. Como aqui esta quase não existe, na maioria das vezes tratam-se mesmo de cartéis disfarçados, os preços são os máximos autorizados ou próximos disto.
Para os governos, em todos os níveis, quanto maiores os preços cobrados por estas empresas melhor é. Os impostos cobrados sobre estes itens são, normalmente, os maiores e mais fáceis de lista. As empresas são maiores e os mercados concentrados, facilitando a fiscalização e a cobrança.
Quando dizem que os pobres consumidores - ou consumidores pobres, você escolhe - estão sendo achacados pelos empresários, os políticos e gestores públicos, estão sendo demagógicos. Tanto porque estão tentando quebrar os contratos firmados com as empresas, como prejudicariam mais a massa com o aumento do déficit público. Principalmente nos estados e municípios, que tem menos facilidade de extrair o dinheiro da população do que o governo central. Sem contar que são responsáveis pela maior parte da mordida.
Devido a isso, fica mais evidente a inadequação das políticas públicas, juros, para tentar domar a inflação. Mês a mês os institutos que a medem apontam os preços administrados como os grandes responsáveis pelo aumento e seguidamente os juros são aumentados para que os preços livres, os mais comportados, sejam mantidos sobre controle. Punem os mais quietinhos pelo comportamento dos rebeldes com as costas quentes que, portanto, ao podem ser punidos.
Não acredito que a diminuição dos juros levaria a um aquecimento imediato da economia, nem a uma explosão da inflação. Nossas empresas são muito pouco endividadas, se tomarmos padrões internacionais deste item microeconômico, e nossos consumidores idem; além de que não sabem como lidar com juros baixos e excesso de oferta de dinheiro simplesmente pelo fato de nunca terem se deparado com estas alternativas.
O que juros baixos fariam de imediato seria eliminar a excentricidade brasileira de que os bônus da divida pública serem mais rentáveis do que as empresas. Isto por si só já impede um crescimento sustentado da produção, pois apenas um louco deixaria o conforto e a segurança do mercado financeiro para correr os riscos de colocar seus recursos em uma empresa e ter que concorrer pelos lucros suados que só quem ganha a batalha pelos corações e mentes dos consumidores consegue.

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