Pergunte a qualquer um o que deseja para o seu filho? As respostas variarão na forma, mas no conteúdo não. Ou quererão o filho rico, ou doutor ou, melhor ainda, rico e doutor.
Esta valorização da figura do “doutor” é um traço muito presente na cultura brasileira, porém não significa uma valorização da educação no nosso país. É mais uma valorização do status que um tipo de educação, a acadêmica, traz.
A palavra educação significa, segundo o “Dicionário Prático da Língua Portuguesa” publicado pela editora Melhoramentos, o seguinte:
- desenvolvimento das faculdades físicas, morais e intelectuais do ser humano;
- civilidade;
- arte de ensinar e adestrar animais e,
- arte de cultivar plantas.
Podemos notar que esta definição não é compatível com apenas mandar as crianças para a escola e esperar que elas voltem cerca de 20 anos depois com um diploma debaixo do braço e um bom emprego os esperando.
Investir nas escolas e na formação acadêmica é apenas uma das partes da valorização real de uma educação digamos, holística - para usar uma palavra que está na moda.A valorização da educação formal pode ser muito boa para o salário dos indivíduos e até para o país, só que não é tudo (ver “O valor da educação” de 9 de abril de 2005).
E não deve ser apenas preocupação dos educadores, mas de toda a sociedade, a começar dos parentes mais próximos. Isto, aliás, sempre foi o mais natural. Desde os primórdios da raça humana a educação foi um assunto da esfera privada, e apenas os mais abastados contavam com ajuda extrafamiliar (tutores que trabalhavam na casa dos educados normalmente). Abastados mesmos, coisa de reis e alta nobreza, não qualquer um.
Ao delegar completamente a educação para a esfera pública, estamos perdendo um pouco da essência do que deve ser ensinado ou não.
Estamos supervalorizando os conhecimentos vindos dos livros e deixando de lado a cultura popular, muitas vezes mais adaptada às condições que as populações que precisam ser educadas vivem. A educação deve ser um processo de troca de informações com todo o meio que nos cerca, não só com os burocratas do MEC (Ministério da Educação, ex e Cultura).
É devido a isto que tenho reais dúvidas se o povo brasileiro dá realmente valor à educação. Ela está cada vez mais sendo relegada para a escola. Mesmo órgãos públicos originalmente criados com a intenção de educar, como os parques zoológicos e museus, são hoje subutilizados ou não-utilizados.
E o envolvimento dos familiares com a escola - que parece ser um fator mais importante para a qualidade de ensino do que renda familiar dos alunos ou a infra-estrutura da escola - é pouco incentivado. Quando não evitado pelas duas partes envolvidas.
Talvez esta compartimentalização da educação seja um reflexo da desagregação da família tradicional, ou talvez uma das causas desta. Só que a mudança da sociedade não pode ser uma desculpa para se extirpar a família como integrante da educação em nosso país.
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