quarta-feira, 27 de abril de 2005

Dólar fraco, Estados Unidos idem II

Aqui no Brasil, as cabeças pensantes ficam fazendo lobby para que o dólar seja mantido artificialmente alto. Em todos os países que deram certo, os chamados desenvolvidos, a moeda flutua a seu bel-prazer e é forte. Será coincidência?
Segundo Michael Porter, autor norte-americano que enunciou o conceito de “clusters” ou arranjos produtivo locais, um dos melhores estímulos para o desenvolvimento da economia de uma nação é o aumento progressivo do valor de sua moeda, forçando ao aprimoramento de seus meios de produção. Será coincidência?
Apesar do que muitos estão dizendo, o enfraquecimento do dólar não é fruto de medidas “esotéricas” do governo. Ele demonstra uma realidade palpável, a deteriorização do quadro econômico da potência hegemônica atual. Se o real valorizou-se mais do que as demais moedas neste período, isto foi só porque ele estava historicamente mais desvalorizado devido à crise de confiança pré-Lula.
E apesar do que muitos dizem, e isso é apenas mais uma opinião, manter a moeda desvalorizada não é uma medida acertada dos governos que as aplicam, pois esta achata o poder de compra de toda a população em detrimento da satisfação de uns poucos exportadores. É uma vantagem artificial, e como todas elas, insustentável em longo prazo.
Pode ser utilizada por países que querem gerar grandes superávits comerciais, mas somente em ditaduras – de fato ou de direito. Nenhum cidadão consciente aceita de bom grado ter um nível de vida mais baixo e financiar exportações com seus impostos, o que é muito diferente de renúncia fiscal, que é o que acontece quando os Bancos Centrais intervêem para manter moedas desvalorizadas artificialmente.
Isto é o que acontece nas economias asiáticas e fico muito feliz que não esteja ocorrendo aqui. Se o Brasil tem vulnerabilidades externas, necessita de grandes somas para pagar suas dívidas ou esta tornando o dólar mais volátil devido aos juros excessivos que estamos pagando são outras discussões.
Mas voltando aos Estados Unidos, com os atuais índices macro-econômicos, ele já deveria ter “quebrado” faz muito tempo e está sendo mantida em pé por razões alheias a “razão” econômica. São os países em desenvolvimento apoiando ações insustentáveis, nos campos fiscal e do consumo, de uma nação desenvolvida, por paradoxal que possa parecer.
Em uma dança que pode ser ruinoso para os dois lados, ambos precisam se apoiar para que não caiam. Só que o equilíbrio está ficando cada vez mais difícil e a dança cada vez mais rápida. Podemos imaginar qual será o resultado. Todos dentro do salão podem se machucar.
Tanto que até o guardião-mor da moeda norte-americana, Alan Greenspan, está alertando consecutivamente para o perigo no horizonte apesar das boas taxas de crescimento de sua economia, da inflação baixa e do desemprego idem.
Às nações que quiserem financiar os americanos mesmo assim fica o velho aviso: se alguém lhe deve um pouco, ele deve se preocupar, mas se alguém lhe deve muito, quem deve se preocupar é você. Isto já é mais ou menos o que está acontecendo com as finanças mundiais. Os americanos devem para quase todo mundo, e estes não podem lhe negar mais crédito, sob a ameaça de nada receber.

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