sexta-feira, 22 de abril de 2005

Dólar fraco, Estados Unidos idem

A economia do país mais poderoso do mundo atual está presa em uma armadilha como aquela cantada por Ney Matogrosso: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
Esta armadilha é o déficit comercial daquele país; algo na casa de 550 bilhões de dólares.
Por paradoxal que pareça, este déficit está aumentando a medida que o dólar se enfraquece.
Para sair deste paradoxo, seria necessário o aumento da produção interna de manufaturados ao mesmo tempo em que se diminuísse o consumo dos mesmos, adequando os norte-americanos a padrões mais modestos de compras e descartes. Como isto soa como história da carochinha, o desastre parece inevitável.
Apontado como paradigma a ser imitado pelos demais povos, é necessário encontrar uma causa e uma solução externa àquela sociedade para os problemas estadunidenses. Afinal não se reformam paradigmas.
A causa apontada é a fraqueza excessiva de algumas moedas asiáticas que são na prática atreladas ao dólar americano. O remédio receitado por alguns é a valorização destas, em especial a chinesa, mas creio que esta tende a ser inócua ou, pior, a aumentar o déficit comercial.
A chave para entendermos como o déficit deve ser pouco afetado, ao menos positivamente, pela valorização das moedas em relação ao dólar é o consumismo da sociedade “yankee” e a função que o dólar ainda exerce como moeda de referência no comércio mundial.
Grande parte do P.I.B. (Produto Interno Bruto) norte-americano é formado pelo consumo. A diminuição deste (aproximadamente um terço do mundial) por si só provocaria uma grande recessão no país. Como grande parte dele é de manufaturados produzidos externamente, toda a variação negativa de sua moeda tem efeito prático de aumentar o déficit ou de frear o consumo com diminuição do poder relativo de compra. O detalhe é que é em dólares que os contratos são fechados, e a desvalorização deste afeta apenas marginalmente o poder de compra dos norte-americanos, principalmente na forma de inflação das commodities, se seus parceiros comerciais desvalorizarem suas moedas proporcionalmente.
Com desvalorização do dólar, a inflação generalizada seria um efeito colateral certeiro caso o consumo não fosse freado, uma vez que estes manufaturados teriam que ser fabricados no próprio país ou comprados mais caro de outros. Mas o fato é que a indústria daquele país não seria capaz de suprir todos os bens necessários e de uma forma ou de outra haveria necessidade de supri-las com uma série de insumos importados, particularmente os energéticos, somados a custos de mão-de-obra mais cara.
No momento este processo inflacionário é contido pelas moedas asiáticas atreladas ao dólar, porém o efeito seria imediatamente sentido caso a China e suas nações circundantes deixassem suas moedas se fortalecer perante a americana, simplesmente porque é de lá que a maior parte das importações americanas vêm.
Quebrar um equilíbrio macroeconômico, mesmo este que está sendo mantido artificialmente, exige das partes envolvidas duros reajustes e sacrifícios. Resta saber se alguém vai querer pagar o preço.

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