terça-feira, 26 de abril de 2005

Me engana que eu gosto

Vocês lembram das naves da Marinha (???) paraguaia patrulhando os rios do país para evitar que contrabandistas os usassem para atravessar muamba?
Isso não tem nem um mês, mas já parece fazer parte do passado remoto. Foi mais uma das medidas inócuas para acabar com o contrabando que os oficiais daquele país tomaram quando a alfândega brasileira endureceu o cerco aos sacoleiros.
Agora a cota de compras dobrou, parece que as coisas se normalizaram e não se fala mais nisso. A partir daí ficam duas questões.
A imprensa precisava fazer este carnaval, dando força para o governo paraguaio?
Existia alguém certo nesta história?
Comecemos pela segunda. Os sacoleiros são a base da economia de várias cidades fronteiriças entre Brasil e Paraguai, principalmente no Paraguai, e é natural que os governantes de lá se sintam forçados a defender esta indústria. Mas entre a defesa da industria e a defesa da ilegalidade há uma grande diferença.
É certo que não cabe aos paraguaios examinar se as cotas estão sendo cumpridas. Este é o dever das autoridades brasileiras e não deveria haver nenhum incidente internacional quando nossas autoridades cumprem seu dever. Por mais raro que isso venha a acontecer.
Porém as autoridades paraguaias têm o dever de impedir que produtos ilegais circulem em seu território e, como de praxe, este dever não é cumprido. Quando se permite que produtos pirateados e sub-faturados, além da reexportação dos cigarros brasileiros, circulem normalmente não se pode depois dar uma de donzela arrependida quando se é pego no ato.
Da mesma maneira são culpados tanto vendedores quanto compradores destes já citados artigos. Seria muita inocência da parte deles se estivessem negociando gato por lebre e, como sabemos muito bem, não se fazem indústrias milionárias de inocentes. Todos neste caso estão cientes dos pecados que estão cometendo e dispostos a gozar as benesses destes pecados.
Os fiscais brasileiros também são culpados, pois se alimentaram desta indústria durante anos. E sob suas vistas grossas floresceu um comércio que hoje sustenta um sem-número de famílias Brasil afora. Fazer as chamadas operações padrão não seria necessário caso tivessem combatido a ilegalidade no nascedouro. Agora fica muito mais difícil.
Para a primeira pergunta a resposta é não. A espetacularização da notícia pode até vender jornal e ganhar uns pontos de “IBOPE”, só que em longo prazo é deletéria aos próprios veículos. Caso passem a tratar a informação como ela merece ser tratada, com respeito e aprofundamento, explicando ao receptor do que se trata cada evento e como ele os afeta, os veículos tende a se perpetuar como um órgão necessário para estes. Fazendo apenas show, terão que competir com as novelas, peças de teatro, filmes, etc; e não é difícil saber quem oferece um espetáculo melhor. Estarão competindo em desvantagem.
Nossa mídia tem uma função social até mesmo por lei, e é tratando de cumpri-la que se fortalecerá. Não é aceitando as pautas prontas, sejam de qual governo for, mas mostrando o que os governos não querem que sejam mostradas. Não é indo às coletivas, mas oferecendo uma visão diferenciada que nossa imprensa terá melhor efeito.

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