Já defendi nesta página que o Brasil pode não ter alcançado um grau maior de desenvolvimento social devido à abundância relativa de mão-de-obra, que teria causado uma cultura de desvaloração do trabalho, agravada, mesmo após o seu fim, pela escravatura. O, atualmente, deputado Paulo Renato de Souza defendeu, em sua tese de doutorado, que a grande massa de migrantes do meio rural para os centros urbanos em processo de industrialização foi o fator que permitiu a compressão salarial, na terminologia cara aos sindicalistas.
É claro, entretanto, que a escassez não é um garantia de desenvolvimento. Caso isso fosse verdadeiro, os países localizados no Saara seriam os mais desenvolvidos do mundo. O encarecimento relativo aos outros preços da economia, no entanto, leva a um melhor aproveitamento de qualquer recurso e, freqüentemente, a avanços tecnológicos poupadores do mesmo. De certa forma, estamos, no Brasil, sendo vítimas dessa poupança.
Tecnologias vindas dos países desenvolvidos, nos quais há escassez estrutural de mão-de-obra, são adotadas aqui onde há falta de empregos para a população jovem que entra na população economicamente ativa a cada ano. O pior é que contribuímos para isso com uma lei trabalhista que torna um empregado um investimento maior do que um equipamento. Enquanto uma máquina custa o valor que se paga por ela e mais manutenção, um humano custa para ser encontrado, mantido e dispensado, com um adicional de risco judicial enorme.
Deve-se, portanto, neste momento de reflexão sobre o futuro, que caracteriza os primeiros dias do ano, pensar uma maneira de impedir que nosso capital humano fique ocioso. A reforma trabalhista é, mais do que qualquer outra, a essencial agora. Como ela não é de interesse dos sindicatos organizados que mandam no governo, continuaremos desperdiçando nosso fundo de serviços.
Apenas alguns pensamentos sobre as coisas que acho que sei ou sobre as quais não tenho a mínima idéia
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terça-feira, 6 de janeiro de 2009
quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007
Fartura demais atrapalha
Diz Michael Porter, o guru de economia que ficou famoso pela sua idéia de arranjo produtivo local (cluster) que foi muito – e mal – aplicado por aqui no começo do milênio, que entre os elementos que favorecem o desenvolvimento de um ramo industrial forte em determinada localidade ou país está a escassez de um fator de produção, em geral uma matéria-prima.
Provavelmente este foi o fator que fez com que o Brasil não desse certo até hoje: a fartura.
Nunca houve em momento algum de nossa história um fator limitante que forçasse nossa indústria a ser mais eficiente ou buscasse a inovação. Em um item particular havia este "perigo", a mão-de-obra, mas uma bem sucedida política de obtenção da mesma – apresamento de índios, seguida do trabalho escravo e, por último, a importação de europeus e asiáticos – fez com que sempre tenha existido trabalhadores suficientes para que as atividades produtivas fossem executadas à maneira tradicional e o custo do trabalho se mantivesse baixo; poderíamos dizer aviltado.
Isso criou também a segunda perna do nosso atraso industrial. O trabalho aviltado impede a formação de um mercado consumidor local forte e, como conseqüência, limita a existência de uma indústria local também forte.
Felizmente a dinâmica demográfica mudará isso brevemente. Mesmo com a massa desempregada e despreparada que temos, a tendência é de queda acentuada da taxa de desemprego à medida que menos brasileiros estão nascendo e o aumento da idade média de nossa população, assim como a renda, força uma demanda por bens e serviços cada vez mais diferenciados.
Basta que não atrapalhemos a natureza da economia brasileira.
Nota- conforme uma leitura rápida (como a que fiz) da teoria de Porter, não há o menor fundamento para a prevista derrocada das economias da “Velha Europa” e do Japão motivada pelo envelhecimento acentuado de sua população e diminuição da chamada “população economicamente ativa”, que viria a ser a que tem idade para efetivamente trabalhar.
Uma queda econômica destes países só ocorreria caso houvesse um declínio da capacidade de consumo da população em geral; trabalho é um bem importável, e a custo baixo, e será requisitado – como já é feito hoje – à medida que surjam as necessidades.
Garantida a capacidade do consumo pela poupança feita durante período “ativo” da vida econômica, é garantida também a prosperidade da economia dos países onde a quantidade de idosos é muito alta. Esta só é ameaçada pelas posições políticas que tentam restringir a imigração e as importações a níveis insuficientes.
Provavelmente este foi o fator que fez com que o Brasil não desse certo até hoje: a fartura.
Nunca houve em momento algum de nossa história um fator limitante que forçasse nossa indústria a ser mais eficiente ou buscasse a inovação. Em um item particular havia este "perigo", a mão-de-obra, mas uma bem sucedida política de obtenção da mesma – apresamento de índios, seguida do trabalho escravo e, por último, a importação de europeus e asiáticos – fez com que sempre tenha existido trabalhadores suficientes para que as atividades produtivas fossem executadas à maneira tradicional e o custo do trabalho se mantivesse baixo; poderíamos dizer aviltado.
Isso criou também a segunda perna do nosso atraso industrial. O trabalho aviltado impede a formação de um mercado consumidor local forte e, como conseqüência, limita a existência de uma indústria local também forte.
Felizmente a dinâmica demográfica mudará isso brevemente. Mesmo com a massa desempregada e despreparada que temos, a tendência é de queda acentuada da taxa de desemprego à medida que menos brasileiros estão nascendo e o aumento da idade média de nossa população, assim como a renda, força uma demanda por bens e serviços cada vez mais diferenciados.
Basta que não atrapalhemos a natureza da economia brasileira.
Nota- conforme uma leitura rápida (como a que fiz) da teoria de Porter, não há o menor fundamento para a prevista derrocada das economias da “Velha Europa” e do Japão motivada pelo envelhecimento acentuado de sua população e diminuição da chamada “população economicamente ativa”, que viria a ser a que tem idade para efetivamente trabalhar.
Uma queda econômica destes países só ocorreria caso houvesse um declínio da capacidade de consumo da população em geral; trabalho é um bem importável, e a custo baixo, e será requisitado – como já é feito hoje – à medida que surjam as necessidades.
Garantida a capacidade do consumo pela poupança feita durante período “ativo” da vida econômica, é garantida também a prosperidade da economia dos países onde a quantidade de idosos é muito alta. Esta só é ameaçada pelas posições políticas que tentam restringir a imigração e as importações a níveis insuficientes.
quarta-feira, 27 de abril de 2005
Dólar fraco, Estados Unidos idem II
Aqui no Brasil, as cabeças pensantes ficam fazendo lobby para que o dólar seja mantido artificialmente alto. Em todos os países que deram certo, os chamados desenvolvidos, a moeda flutua a seu bel-prazer e é forte. Será coincidência?
Segundo Michael Porter, autor norte-americano que enunciou o conceito de “clusters” ou arranjos produtivo locais, um dos melhores estímulos para o desenvolvimento da economia de uma nação é o aumento progressivo do valor de sua moeda, forçando ao aprimoramento de seus meios de produção. Será coincidência?
Apesar do que muitos estão dizendo, o enfraquecimento do dólar não é fruto de medidas “esotéricas” do governo. Ele demonstra uma realidade palpável, a deteriorização do quadro econômico da potência hegemônica atual. Se o real valorizou-se mais do que as demais moedas neste período, isto foi só porque ele estava historicamente mais desvalorizado devido à crise de confiança pré-Lula.
E apesar do que muitos dizem, e isso é apenas mais uma opinião, manter a moeda desvalorizada não é uma medida acertada dos governos que as aplicam, pois esta achata o poder de compra de toda a população em detrimento da satisfação de uns poucos exportadores. É uma vantagem artificial, e como todas elas, insustentável em longo prazo.
Pode ser utilizada por países que querem gerar grandes superávits comerciais, mas somente em ditaduras – de fato ou de direito. Nenhum cidadão consciente aceita de bom grado ter um nível de vida mais baixo e financiar exportações com seus impostos, o que é muito diferente de renúncia fiscal, que é o que acontece quando os Bancos Centrais intervêem para manter moedas desvalorizadas artificialmente.
Isto é o que acontece nas economias asiáticas e fico muito feliz que não esteja ocorrendo aqui. Se o Brasil tem vulnerabilidades externas, necessita de grandes somas para pagar suas dívidas ou esta tornando o dólar mais volátil devido aos juros excessivos que estamos pagando são outras discussões.
Mas voltando aos Estados Unidos, com os atuais índices macro-econômicos, ele já deveria ter “quebrado” faz muito tempo e está sendo mantida em pé por razões alheias a “razão” econômica. São os países em desenvolvimento apoiando ações insustentáveis, nos campos fiscal e do consumo, de uma nação desenvolvida, por paradoxal que possa parecer.
Em uma dança que pode ser ruinoso para os dois lados, ambos precisam se apoiar para que não caiam. Só que o equilíbrio está ficando cada vez mais difícil e a dança cada vez mais rápida. Podemos imaginar qual será o resultado. Todos dentro do salão podem se machucar.
Tanto que até o guardião-mor da moeda norte-americana, Alan Greenspan, está alertando consecutivamente para o perigo no horizonte apesar das boas taxas de crescimento de sua economia, da inflação baixa e do desemprego idem.
Às nações que quiserem financiar os americanos mesmo assim fica o velho aviso: se alguém lhe deve um pouco, ele deve se preocupar, mas se alguém lhe deve muito, quem deve se preocupar é você. Isto já é mais ou menos o que está acontecendo com as finanças mundiais. Os americanos devem para quase todo mundo, e estes não podem lhe negar mais crédito, sob a ameaça de nada receber.
Segundo Michael Porter, autor norte-americano que enunciou o conceito de “clusters” ou arranjos produtivo locais, um dos melhores estímulos para o desenvolvimento da economia de uma nação é o aumento progressivo do valor de sua moeda, forçando ao aprimoramento de seus meios de produção. Será coincidência?
Apesar do que muitos estão dizendo, o enfraquecimento do dólar não é fruto de medidas “esotéricas” do governo. Ele demonstra uma realidade palpável, a deteriorização do quadro econômico da potência hegemônica atual. Se o real valorizou-se mais do que as demais moedas neste período, isto foi só porque ele estava historicamente mais desvalorizado devido à crise de confiança pré-Lula.
E apesar do que muitos dizem, e isso é apenas mais uma opinião, manter a moeda desvalorizada não é uma medida acertada dos governos que as aplicam, pois esta achata o poder de compra de toda a população em detrimento da satisfação de uns poucos exportadores. É uma vantagem artificial, e como todas elas, insustentável em longo prazo.
Pode ser utilizada por países que querem gerar grandes superávits comerciais, mas somente em ditaduras – de fato ou de direito. Nenhum cidadão consciente aceita de bom grado ter um nível de vida mais baixo e financiar exportações com seus impostos, o que é muito diferente de renúncia fiscal, que é o que acontece quando os Bancos Centrais intervêem para manter moedas desvalorizadas artificialmente.
Isto é o que acontece nas economias asiáticas e fico muito feliz que não esteja ocorrendo aqui. Se o Brasil tem vulnerabilidades externas, necessita de grandes somas para pagar suas dívidas ou esta tornando o dólar mais volátil devido aos juros excessivos que estamos pagando são outras discussões.
Mas voltando aos Estados Unidos, com os atuais índices macro-econômicos, ele já deveria ter “quebrado” faz muito tempo e está sendo mantida em pé por razões alheias a “razão” econômica. São os países em desenvolvimento apoiando ações insustentáveis, nos campos fiscal e do consumo, de uma nação desenvolvida, por paradoxal que possa parecer.
Em uma dança que pode ser ruinoso para os dois lados, ambos precisam se apoiar para que não caiam. Só que o equilíbrio está ficando cada vez mais difícil e a dança cada vez mais rápida. Podemos imaginar qual será o resultado. Todos dentro do salão podem se machucar.
Tanto que até o guardião-mor da moeda norte-americana, Alan Greenspan, está alertando consecutivamente para o perigo no horizonte apesar das boas taxas de crescimento de sua economia, da inflação baixa e do desemprego idem.
Às nações que quiserem financiar os americanos mesmo assim fica o velho aviso: se alguém lhe deve um pouco, ele deve se preocupar, mas se alguém lhe deve muito, quem deve se preocupar é você. Isto já é mais ou menos o que está acontecendo com as finanças mundiais. Os americanos devem para quase todo mundo, e estes não podem lhe negar mais crédito, sob a ameaça de nada receber.
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