segunda-feira, 2 de maio de 2005

O salário de 100 dólares

Maio começou e com ele veio a realização de um sonho dos políticos, o salário-mínimo de mais de 100 dólares. Não vi ninguém pulando de alegria, nem chorando de tristeza, com a notícia. Talvez porque é muito cedo para fazer disto um assunto para palanque eleitoral. Se bem que certo como a chuva cai e o fogo sobe, isto será explorado no futuro.
Tão logo maio acabe, ou os ordenados do mês passem a ser debitados nas contas dos assalariados, veremos que uma das bandeiras dos economistas do governo passado não passavam de balela. A da desindexação da economia.
Apesar de ser muito menos do que foi no passado; a nossa economia é muito, mais muito mesmo, indexada ainda. Uma mudança do salário-mínimo causa uma onda de remarcações que abrange uma série de contratos, marcadamente os verbais, que regem a maioria das negociações nos rincões de nossa nação.
Em muitas partes do país, quase a totalidade dos assalariados é remunerada com derivados deste salário e também o são os aluguéis, as “penduras” nas vendas, as vacas, os bodes, etc. Isto ocorre devido ao salário-mínimo ser um índice que é entendido por todos, que está a disposição na grande imprensa e, mais importante, remunera a base econômica de uma parcela muito grande dos municípios brasileiros, os aposentados do INSS e os funcionários públicos.
Esta é a forma que a população menos abastada encontrou para negociar seus contratos e manter uma paridade de poder de compra estável durante o ano. Moldada na época de inflação explosiva que nos assolou até o início do plano real, a indexação automática de contratos foi, e ainda é, o grande inimigo do controle da inflação no Brasil. Não importavam quão duras fossem as medidas para combater as remarcações de preços, este fenômeno da indexação, que provocava o que os economistas chamam de inflação inercial, acabava por atenuar-lhes o efeito.
Os mais abastados utilizam o dólar, mesmo que esta prática tenha sido proibida por lei visando justamente diminuir o ímpeto da inflação inercial, o que compromete a economia como um todo. Por exemplo, o valor das mercadorias que o Brasil consegue exportar, como frango e soja, sofre grandes reajustes no mercado interno sempre o dólar se valoriza em relação ao real.
Hoje, além dos contratos indexados ao salário-mínimo, temos aqueles que se atrelam ao dólar, à IPCA, à TR e a um sem-número de outros índices Brasil afora.
E o mais estranho é que grande parte destes contratos são padrões da administração federal, que tem por obrigação tentar domar os reajustes de preços. Os preços administrados são, em sua maioria, calculados com bases em índices que levam não só a inflação, mas também o dólar como parâmetros dos reajustes aos quais as empresas têm direito de aplicar.
Os impostos têm também indexadores próprios que não variam apenas mensalmente, variam diariamente.
Com base nisto parece até piada que o governo central aplique taxas de juros cada vez maiores para tentar barrar a inflação, quando não terminou de aniquilar o item que mais interfere com a inflação em nosso país, a indexação. De muito mal-gosto, por sinal

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