terça-feira, 17 de maio de 2005

Continuando

A respeito da coluna de ontem, não que as histórias tenham desaparecido completamente do cinema, nem que todos os filmes do passado tivessem roteiristas maravilhosos, mas temos que admitir que o enredo ficou em segundo plano por um bom tempo, principalmente no cinema norte-americano.
Se no passado existiam filmes que eram apenas veículos para a música e/ou dança, como os musicais, hoje temos alguns que são veículos para a venda de mercadorias, em uma inversão da lógica de mercado anterior.
Se antes se pensava em fazer um filme para depois se vender produtos relacionados, caso este fosse bem-sucedidos, hoje se pensa em uma linha de produtos para depois se construir um enredo e encaixá-la na história.
Algo que pode mostrar como são completamente diferentes os processos, é a da construção dos personagens da comédia “A pantera cor-de-rosa” (The pink panther, 1964), cuja abertura e o encerramento mostraram ao mundo um personagem que viria a ter lugar no mundo como um dos mais cultuados desenhos animados de todos os tempos, e da animação “Toy Story” (idem, 1995), que teve intricadas negociações contratuais que levaram os produtores a vetar este ou aquele personagem – Barbie foi cogitada como par romântico do vaqueiro Wooody.
Ambos os filmes conseguiram resultados além do esperado e são plenamente satisfatórios como entretenimento e legaram séries de animação posteriores, porém a visão de que uma personagem concebida apenas para a abertura de um filme se tornasse o sucesso que foi a pantera cor-de-rosa escancara algo que os marqueteiros (sic) de hoje chamariam de ingenuidade.
As diferentes propostas podem ser vistas também nas versões modernas de filmes antigos. Tomemos como exemplo os dois “Professor aloprado” (The nutty professor, 1963 e 1996), no primeiro, com Jerry Lewis como ator principal, o aloprado em questão é um professor de química nerd que utiliza seus conhecimento para inventar uma fórmula que lhe dá o que faltava para se tornar um garanhão – auto-confiança – enquanto que no segundo, com Eddy Murphy, a fórmula mudá-lhe completamente o corpo, abrindo flancos para uma infinidade de efeitos especiais e maquiagem. A comédia de situação passa a ser algo muito mais físico, ou até além disto.
Este predomínio da forma sobre o conteúdo, que dominou o cinema norte-americano com a chegada da geração de diretores que tem como expoentes George Lucas e Steven Spielberg e teve como ápice os anos noventa do século passado, parece estar declinando. Veremos o que emergirá no futuro.

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