quinta-feira, 5 de maio de 2005

Caindo no bambu

Malandro é malandro e mané é mané, já dizia Bezerra da Silva, mas além de nascer de bigode o bom malandro sabe que não é em todo lugar que pode exercitar seus, assim digamos, dotes malandristícos. Para isso tem hora e lugar.
Meu amigo, o China, enunciou a Teoria da queda no bambu. Não há nenhuma conotação sexual aí, ele só demonstrou que a presunção, a inocência ou a ignorância – e certamente uma combinação delas – sempre leva ao desastre. O nome da teoria vem da experiência norte-americana na Guerra do Vietnã, na qual soldados equipados com o que de melhor havia na época (o que levava à presunção de vitória) e não-adaptados às condições da mata (inocência ou ignorância do que podiam encontrar) acabaram derrotados pelos nativos. É verdade que os nativos tinham um certo apoio logístico e de fornecimento de armas leves dos soviéticos, mas o que conta é que a nação norte-americana caiu no bambu, e alguns soldados também.
Voltando a malandragem, quanto mais malandra a pessoa - ou país - se acha, mais próxima está de cair no bambu. Vejamos, os países ricos criaram a OMC (Organização Mundial do Comércio) para regular o mundo, acreditando que por ter uma experiência maior em comércio exterior seria sempre vitoriosa dos contenciosos. Isso foi verdade por muito tempo, mas agora o jogo está começando a virar.
Ocorreu o contencioso do algodão. Estados Unidos contra uma série de países sub-desenvolvidos. Pela lógica os americanos iriam ganhar fácil. Não foi o que aconteceu, já perderam em última instância. Baaaammmmbu.
Daí veio o do açúcar. União Européia contra os grandes produtores mundiais que não utilizam o subsídio como forma de incrementar exportações (Brasil, Índia e Austrália principalmente). Europeus confiantes na vitória, mas... Outro baaaaaammmmbu.
Por que eu estou falando a respeito disso, você pode estar se perguntando? Bem, O Brasil está querendo por a as asinhas pra fora. Este governo está a cada momento tentando ser um protagonista maior da geopolítica internacional.
É a intervenção no Haiti, é a formação do grupo dos 20, é a organização do encontro de Cúpula Árabe-latino-ameircana, é, é, é ... é a tentativa de repentinamente abraçar o mundo.
Não que ser um protagonista seja ruim. Na maioria das vezes é muito bom. Todos os holofotes sobre você. É consultado sobre tudo. Tem mordomias. Mas, e há sempre os mas, tem também as responsabilidades, a diminuição da margem de erro, ser chamado a resolver os problemas alheios mesmo não tendo feito nada para criá-los.
É o se preocupar se também a política do Equador, como se a nossa já não fosse preocupante o suficiente.
E a cada momento estamos mais perto de ocupar a tão sonhada cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU (apesar de ainda estarmos bem distante). Já é hora de pensarmos o que faremos depois de sentar nela. Temos um plano para o depois? Será que estamos apenas correndo o mais rápido possível para tropeçar e acabarmos empalados em uma fossa com bambus?
Está na hora de provar que somos malandros e não manés.

Um comentário:

Anônimo disse...

Queda no Bambu. Fato corriqueiro para nossos políticos, já que todos estão querendo ser malandros. Está na moda.
Penso se, realmente, conseguiremos provar internacionalmente aquilo que não conseguimos provar nacionalmente.
É possível enganar alguns durante muito tempo. É possível enganar muitos por pouco tempo. É impossível enganar a todos o tempo todo.