quarta-feira, 11 de maio de 2005

Memórias seletivas

Está havendo uma onda de pedidos de desculpa por parte de governos para com povos ou etnias.
Lula pediu desculpas pelo tratamento que os negros africanos receberam aqui, porém não o fez para com os índios.
Ocorreram pedidos de desculpas de uma série de atos, sendo os alemães os campeões de retratações, tendo inaugurado recentemente um monumento aos judeus. Mas ciganos e poloneses que pereceram na II Guerra aos milhões também não foram citados.
Os japoneses estão sendo criticados pelos chineses pelas conseqüências de anos de guerra e ocupações em seus territórios, e estão se recusando a aceitar a culpa.
Muito bonito no campo simbólico, mas não vejo o mínimo sentido nisto.
Todas as nações atuais, das mais primitivas às mais avançadas, construíram sua cultura, economia e raízes étnicas sobre os escombros de outras. Mesmo internamente ocorreram bilhões de atos de massacre e de exploração.
Por quê deve ser mais culpado Hitler do que Stalin perante os soviéticos se o primeiro causou menos mortes do que o segundo para o seu próprio povo? O mesmo acontecendo com relação aos japoneses e a revolução cultural chinesa, que causou mortes aos milhões - para retirar do seio chinês aqueles que tivessem inclinação capitalista, que tanto o Partido Comunista de hoje incentiva-, mudou-se a ideologia os crimes do passado perderam as forças?
Reavivar os atos passados, mesmo que pela forma de um pedido de perdão, tem mais valor como ato demagógico para com as vítimas do que qualquer outro.
O pedido de desculpas de Lula é um bom exemplo. A nação brasileira teve de fato suas bases construídas na escravidão negra, mas hoje grande parte dela é formada por descendentes destes escravos. Ficam então no papel de vítima e algoz.
Existem também aqueles que chegaram muito tempo depois da abolição; como por exemplo, os orientais que começaram a chegar ao Brasil apenas no século passado. São eles também culpados pelos atos pelos quais Lula pediu perdão?
Podemos ser responsabilizados apenas pelos atos sobre os quais temos possibilidade de escolha. A atribuição de culpa intergeracionais foi o motivo usado pela maioria dos atos mais brutais dos quais a humanidade tem notícia. O holocausto dos judeus talvez seja o exemplo mais eloqüente. Foi baseado fortemente no martírio de Jesus.
Ao tentarmos fazer agrados às vítimas de outrora podemos estar municiando os algozes de amanhã. E tudo pelo passado, que como diz o próprio nome, já passou. Pode ser estudado, mas não mudado. Pedidos de perdão não trarão ninguém de volta e não redimiram ninguém; por mais que manifestantes clamem por eles.

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