terça-feira, 10 de maio de 2005

Em vão

Ontem mais um aposentado morreu na fila de ambulatório. Não estava em atendimento. Estava apenas esperando sua vez para pegar uma senha e, quem sabe, receber atendimento médico. Certamente não foi o único aposentado a morrer ontem.
Semana passada trigêmeos morreram em um hospital em Marabá, em parte porque não havia UTI neonatal nele.Certamente não foram os únicos três bebês a morrer no Pará na semana passada.
O quê estes casos têm de especial então? Bem, nestes dois casos, além das mortes terem sido em vão, foi jogado dinheiro público pela janela também. Tudo pela lógica de poupar um pouco oferecendo um atendimento de má qualidade ou simplesmente omitindo o atendimento.
Antes de morrer na fila, o aposentado em questão havia, segundo foi noticiado, passado por dois atendimentos médicos em dois hospitais ou postos de saúde diferentes. Como não melhorou, resolveu tentar mais um. Não teve tempo, mas fica-se com a certeza de que algo errado havia no reino da Dinamarca.
Havia necessidade de passar por três diferentes atendimentos? Não sei, porém isto mostra que das duas uma: ou o serviço público de saúde estava desacreditado perante o aposentado ou os atendimentos haviam sido muito ruins.O fato é que ele está em vias de provocar a terceira consulta, o que acarretaria um custo de três vezes o que teria sido necessário para atendê-lo bem caso tivessem tomado este cuidado na primeira vez.
No caso dos trigêmeos, a mãe – uma adolescente, diga-se de passagem – foi surpreendida pelo tamanho da prole, pois não havia feito nenhum exame pré-natal. Caso tivesse feito todos os exames de praxe, que são obrigação legal do estado nacional prover, seria sabido que as crianças necessitariam de cuidados especiais, como a UTI neonatal. Como não haviam sido feitos, e a cidade onde foi feito o parto tríplice não possui uma única vaga deste tipo, as crianças faleceram.
É claro que em ambos os casos podemos dizer que ocorreu uma fatalidade e que os óbitos poderiam ter acontecido de qualquer forma, com ou sem atendimento médico adequado. Mas podemos certamente dizer que a omissão de um serviço público de qualidade causou gastos maiores do que o que teriam sido caso bem executados a priori.
Estes são casos isolados, porém certamente este desperdício é levado quase ao estado da arte aqui no Brasil.
Podemos citar as internações por desnutrição e doenças causadas por falta de saneamento. A tentativa de curá-las é provavelmente muito mais onerosa aos cofres públicos do que seria evitá-las pela via de acabar com a desnutrição e a contaminação. No caso do saneamento básico já li artigos nos quais os valores calculados são de quatro economizados para cada real investido.
Não precisamos nem falar que a qualidade de vida seria muito maior caso ocorressem estas práticas de se priorizar o primeiro atendimento bem feito e a prevenção.
Mas não precisamos nem falar também que muitas mortes em vão e muito desperdício de dinheiro acontecerão até que estas práticas sejam seriamente adotadas.

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