Nossos governantes conseguiram esta semana que passou o que muitos acadêmicos das letras tentam há anos, colocar a língua portuguesa (ou seria brasileira?) no centro do debate jornalístico nacional.
Começou com Lula e o seu pedido de traseiros mais atuantes do que os que costumamos ver entre os correntistas de banco. Depois veio a cartilha de linguagem politicamente correta da Secretaria de Direitos Humanos. Seguiu-se do acidente horrível que escapou por entre os dentes de Severino Cavalcanti, sem falar da semivirgindade que ele acabou de inventar.
Mas ao contrário do que gostariam os acadêmicos, a coisa toda resvalou para a total galhofa. Daí a pessoas ficarem contrariadas por não se respeitar as autoridades. Outras indignadas por não se incorporar as “desenvolvidas” preocupações com a linguagem. Outras ainda felizes por ter mais uma piada pronta.
O colunista José Simão pôde finalmente ver impressa uma versão acabada da sua Cartilha do Lula (que já virou uma característica de sua coluna na Folha de São Paulo e de seu programa na TvUol). João Ubaldo Ribeiro teve amplo espaço para exercitar sua verve cômica com neologismos como gento e pessoo em sua coluna de O Estado de S. Paulo. Até colunistas estrangeiros meteram o bedelho.
Como se vê, a política nacional - e sua cobertura pelos meios de comunicação - chegou as raias da nonsense. Questões maiúsculas, como os trabalhos parlamentares suspensos na prática, são deixadas de lado para repercutir a uso de uma ou outra palavra mal-colocada.
No caso dos deslizes dos presidentes não há muito o que se falar. Mostra muito mais uma incapacidade de adequar a linguagem para uma grande diversidade de ouvintes do que qualquer outra coisa. Ambos falam como se estivessem em seus lares, não importando se para uma platéia de empresários, de sociólogos ou de sindicalizados. Vez ou outra escorregam termos que ferem ouvidos mais sensíveis. Os deslizes podem até ser utilizados pelos opositores, porém não passam de folclore.
No caso da cartilha é algo completamente diferente. Ela foi pensada por uma série de pessoas, durante um sem-número de horas e com uma profusão de dinheiro público. Foi lançada e rapidamente recolhida. O mínimo que se pode dizer a respeito dela é que se tratou de desperdício de verbas.
E o pior é que foi um desperdício baseado totalmente em idéias importadas dos Estados Unidos, que de grande inimigo externo da época de oposição passou a ser um modelo a ser seguido pelo governo Lula para suas políticas de inclusão social.
Vai lá, se os usos de palavras escolhidas a dedo tornassem os preconceitos sociais, raciais ou outrem qualquer menores, poderíamos até apoiar medidas como estas. Mas isso não ocorre, muito pelo contrário. Toda a palavra é carregada de um conceito anterior, logo um pré-conceito, senão não teria função alguma, sendo apenas um conjunto de sons. Ao querer forçar o uso de outras em lugar daquelas já consagradas pelo uso, só se conseguirá a explicitação dos conceitos negativos e a eliminação dos positivos.
Só quero saber pra quê?
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