quarta-feira, 18 de maio de 2005

A grande marcha

No nosso país, marcha e parada não são coisas que remetem a guerra, mas a festa.
No Jornal Nacional de ontem, por exemplo, um operador de turismo relatou que a Parada Gay de São Paulo é um sucesso entre os turistas porque ao contrário das normais que existem mundo afora, nas quais o que vigora é o protesto, é muito festiva.
Porém não é a Parada Gay nosso assunto, nem mesmo uma marcha – embora há uma marcha na história. O assunto é o M.S.T. e suas idéias.
Ontem se encerrou a Marcha do Movimento dos Sem-Terra, que estava se portando mais como uma caminhada até que alguns quebra-quebras ocorreram, então foi uma marcha mesmo, beligerante. Entre as reivindicações que foram entregues às autoridades havia duas um tanto quanto inusitadas: a da proscrição dos transgênicos e a exigência, por parte do governo brasileiro, para que os norte-americanos retirem suas tropas do Iraque.
O inusitado da primeira não é tanto pela bandeira, uma vez que os transgênicos costumam ser cultivados por agricultores, mas sim pelo desconhecimento de caso. Em uma entrevista concedida à revista Época da semana passada, João Pedro Stedile, coordenador nacional do movimento afirmou que este é contra os transgênicos porque eles exterminam a biodiversidade.
Se formos examinar o discurso veremos que ele é duplamente errado. A transgenia é, por definição, um aumento de diversidade genética e o perigo para a biodiversidade não é oferecido por ela; é pela agricultura de modo geral, por menos agressiva que esta seja ao meio-ambiente. O ato de se fazer agricultura é o de escolher, entre determinadas variedades, aquelas que mais se adaptam as suas necessidades, excluindo as demais. A transgenia apenas acelera ou radicaliza o processo.
A segunda reivindicação é inusitada porque explicita o que o M.S.T. é. Um projeto político de tomada do poder, no qual a menor das preocupações é o assentamento de famílias.
Não que seja errado tentar a tomada de poder pela ideologia. O problema é quando isso é feito de forma escamoteada; só pode gerar conflito.
Querendo chegar ao poder, recrutando militância e se recusando a institucionalizar sua situação legal, como partido político ou mesmo uma O.S.C.I.P. (organização da social civil de interesse público), o M.S.T. mostra o desprezo pelas regras da sociedade em que está inserido.
Conflitos em que as partes não se respeitam podem descambar para a luta corporal ou armada. Isto já acontece nos rincões pela posse da terra. Espero que não se generalize pelo restante da sociedade.

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