Capa das três revistas semanais de informação mais tradicionais que temos, a corrupção parece ser o tema do momento.
Veja e Época passeiam pelo assunto genericamente enquanto Istoé se concentra em uma denúncia de desvio de dinheiro da Igreja Universal para contas em paraíso fiscal, que teria a participação de senador Marcelo Crivella.
A profusão de reportagens sobre o assunto leva a crer que a corrupção está alcançando um novo estágio no Brasil; estaria muito mais aprofundada hoje do que já foi no passado.
Apesar das denúncias e comprovações quase diárias de falcatruas e malversações de verbas nos diversos níveis de governo e até da sociedade civil (como é o caso da denúncia envolvendo a Universal) não há nenhuma evidência concreta de que ela está crescendo.
A corrupção está incrustada na alma do nossa sociedade e aparece até em ocasiões acima de qualquer suspeita. Isto está na raiz de atos corriqueiros, como o oferecimento de cafezinho aos policiais em ronda pelas padarias e lanchonetes. Não é um ato de reconhecimento pelo bom serviço, mas um “incentivo” a permanecer mais tempo próximo ao estabelecimento em detrimento do resto da rota.
Para ilustrar melhor deixe-me contar três lembranças a respeito do tema.
Minha mãe tem um tio, hoje aposentado, que foi durante grande parte da vida fiscal da fazenda estadual. Não enricou, que era costume se falar pras bandas de Goiás, ao contrário de outros colegas do mesmo cargo. Entre os colegas e parentes, esta inaptidão para a corrupção não era vista como uma qualidade, muito pelo contrário. Se todos faziam, por que não ele?
Quando estava fazendo estágio obrigatório de curso técnico que freqüentei no segundo grau, o motor do carro do meu chefe fundiu. Somos a um desmanche para procurar um outro motor. Chegando lá, fomos atendidos pelo dono do estabelecimento que, se dizia policial, nos informou que o motor, e qualquer outra peça que quiséssemos poderia estar disponível no dia seguinte, sem ao menos consultar seu estoque e o de seus colegas de comércio de peças usadas. De se desconfiar, não?
É claro que fizemos a pesquisa em horário de serviço, que ninguém é de ferro.
Recentemente, voltando como caronista do nordeste, tive a possibilidade de verificar a atuação das polícias rodoviárias de nosso país. O caminhão em que estava foi parado em quase todos os postos que haviam no caminho. Rigor na fiscalização? Antes fosse.
Era apenas uma paradinha estratégica para que o caminhoneiro pudesse fazer sua contribuição “voluntária” aos policiais.
Com base nestas lembranças percebe-se que a corrupção está muito mais presente do que se parece, e não é de hoje.
Esta onda de visibilidade é apenas mais uma mostra de que a sociedade está aprendendo a vê-la menos como um fato da vida. Ela está assumindo uma outra face, a de um mal que deve ser combatido para o bem de toda a sociedade. Uma paixão nacional, no sentido de sofrimento que a palavra assume.
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