terça-feira, 3 de maio de 2005

O problema é de demanda

Donald Rumsfeld (Secretário de Defesa dos Estados Unidos), em uma entrevista coletiva concedida ontem, falou o óbvio. Disse que o problema das drogas ilícitas que circulam pelo mundo não é só de oferta, é também de demanda.
Em outras palavras, ele finalmente reconheceu o que todos sabem. Não adianta mandar fuzileiros para erradicar plantações de papoulas no Afeganistão ou a força aérea pulverizar plantações de coca na Colômbia. Se os dependentes continuarem demandando as drogas, o máximo que ocorrerá é a mudança dos locais de plantação ou a substituição do tipo de droga usada por uma mais fácil aquisição.
Sendo que a demanda por drogas, lícitas ou ilícitas, nunca refluiu na cultura humana – até onde eu sei, pelo menos -, isto equivale a uma confissão de que não se sabe o que fazer para resolver o problema.
Eu sou pela liberalização geral. Não consigo entender porquê uma droga como a cocaína não é liberada e o álcool é. Ambas são potencialmente danosas para os usuários, ambas causam dependência e ambas movimentam fortunas. Só que uma pode levar o comerciante para a cadeia e a outra não.
Sou da opinião que o que causa mais problemas no caso das drogas ilícitas é justamente o fato de que elas são ilegais. O que faz com que se crie um mundo totalmente paralelo em volta do comércio, circulação e fabricação dos entorpecentes.
Sendo ilícitas, todas as fases envolvidas acabam por gerar mais crimes, em um ciclo que acaba necessariamente terminando em violência. Nenhuma das partes tem a possibilidade de reclamar seu direito na justiça, o que faz que as desavenças sejam resolvidas todas na força; quer dizer, na bala.
Cada novo ilícito gera uma infinidade de outros. Por exemplo, o dinheiro ganho na venda de drogas não pode ir diretamente para um banco ou qualquer outra instituição financeira, então tem que ser “lavado” ou “reciclado” (uso para financiar outro tipo de crime, como contrabando ou roubo a bancos).
Sem contar a desagregação social que uma indústria que não tem como se integrar causa. Os doentes (dependentes) têm dificuldades para conseguir tratamento, os “comerciantes” não têm nenhum tipo de suporte para a melhoria de seus negócios e os “funcionários” não têm nenhum tipo de previdência social para ajudá-los e aos seus familiares. Suporte que talvez nem seja mesmo necessário, a maioria não sobrevive o tempo suficiente para precisar de aposentadoria ou algo parecido.
E o produto comercializado não tem nenhuma garantia de segurança para o usuário, nem dos componentes da mistura nem das proporções. Podendo ser desde um placebo inócuo – a melhor hipótese – até um verdadeiro veneno.
Por tudo isso, acredito que seria muito mais prático para a nossa sociedade tentar integrar o comércio e o uso de drogas que hoje são ilícitas ao lado “visível” e cumpridor das leis do que ficar brandindo justificativas morais para segregá-los, enquanto outras drogas são largamente utilizadas, contando até com o incentivo das propagandas em TV.
Quando se obriga alguém a viver como um marginal, ele se torna um. Aí Inês é morta.

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