quinta-feira, 24 de novembro de 2005

E o cínico sou eu?

Nada mais desagradável do que assistir aos depoimentos destes deputados acusados de receber verbas “não-contabilizadas” das contas de Marcos Valério ou, como preferem alguns, do Valerioduto.
Hoje, João Paulo Cunha teve a cara de pau de dizer que não havia nada de errado em com o que havia feito. Recebeu sim, os recursos, e daí?; disse.
A culpa tinha toda sido do tesoureiro, aquele demoníaco ser que faz brotar dinheiro, não se sabe de onde, para toda e qualquer necessidade.
O deputado do partido amigo está sendo ameaçado de perder o cargo; chama o tesoureiro.
Precisamos de uma pesquisa eleitoral, chama o tesoureiro.
Queremos um álibi, tesoureiro.
Assinei sem ler, o culpado é o mordomo, quer dizer, o tesoureiro.
O partido está metido em um atoleiro financeiro, é claro que o culpado é o tesoureiro.
Culpado, não, desculpe, me expressei mal. O responsável é o tesoureiro.
Nesta crise toda não há culpados, além de Roberto Jefferson.
Os outros são apenas vítimas da situação. Todos têm bom coração, querem o melhor para o povo.
Se andam recebendo caixas de conteúdo suspeito, é para melhorar as relações com os países amigos.
Obras suspeitas financiadas pelo BNDS mundo afora? Oras, são países amigos.
Carros de presentes? Mas quanta desconfiança, são primeiros-secretários amigos.
Centrais de negócios em Brasília? São apenas ex-amigos.
E os indícios de irregularidade? Todos baseados em denuncismo irresponsável, todas as denúncias são vazias, nada ficou provado, mesmo quando as provas estão aí aos olhos de todos.
Quem não acredita nas desculpas; esfarrapadas, diga-se de passagem? Um bando de militantes da elite, desgostosa com os lucros crescentes de suas aplicações financeiras. Ou não era este o raciocínio de Joãozinho Trinta, que quem gosta de luxo é o pobre. Nossas elites devem estar fartas de verem o seu aumentando.
Já fui acusado muitas vezes de ser cínico, mas se quero mesmo aprender a sê-lo, terei que fazer um estágio em Brasília. É lá que estão os mestres.

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