Voltando para casa na quinta-feira, ouvi relatos de colegas que estudaram no interior sobre os trotes extremamente pesados a que eram submetidos os estudantes naquelas paragens. Coisa de gente completamente sem noção.
Não vou aqui bancar o hipócrita e dizer que sou contra os trotes, sejam quais forem. Já participei de muitos, nos dois lados da moeda, e sei que há sempre um componente de humilhação embutido. Tenta-se provar uma suposta superioridade dos mais experientes de curso sobre os novatos. Mas, e talvez mais importante, há o componente de manada, meus amigos estão fazendo, e de tradição burra. Fazem porque sempre foi feito, e esperam que continuem fazendo os que aqui permanecerem quando não estiverem mais presentes.
Na sexta, ouvi por cima comentários sobre a loira da Uniban, sem saber muito bem do que se tratava. Só sabia de uma confusão em uma faculdade. E no sábado vim me interar, aqui na internet, dos fatos. Não consegui. Eles ainda não fazem sentido para mim.
Já trabalhei naquela unidade da Uniban, na academia, de ginástica, que existia no primeiro andar, quando não havia nem biblioteca no prédio. Passada quase uma década, não sei o quanto as coisas mudaram, mais isso informa um pouco sobre as prioridades da instituição naquele tempo. E também algo sobre a suposta motivação dos alunos para o ataque. Estar vestindo algo inadequado não é, nem de longe, razão, pois, mesmo que fosse válida - o que não é -, os alunos estão acostumadas a ver naquele mesmo recinto pessoas muito mais despidas do que aquele vestidinho vermelho permite antever, como em toda a academia ou faculdade paulistana, diga-se de passagem.
Há, portanto, algo muito mal contado nessa história. Os responsáveis pela incitação contra a garota devem ter outras motivações, ainda mais sórdidas do que a defesa de uma moral e bons costumes de meados do século passado, provavelmente uma vingança ou recalque mal dissimulado, e utilizaram uma turba de mentecaptos como massa de manobra. Deram-se mal, transformaram a vítima em uma mártir, com todas as benesses que a mídia traz para esse tipo de celebridade momentânea. Caso estivéssemos nos EUA, certamente a garota seria eleita a rainha do baile e, se for esperta, pode até realmente acabar fazendo programas, de TV. Derrota completa dos acusadores, que, apesar de tudo, não dão o braço a torcer.
O importante de tudo, porém, é que os episódios de trote exacerbado, recorrentes pelo Brasil, e do vestidinho da moça da Uniban demonstram que é muito fácil angariar mentecaptos na nossa juventude universitária. No ambiente no qual deveria prevalecer a racionalidade, a barbárie impera. Se já havia perdido a fé no Brasil, agora se acabaram as esperanças de recuperá-la. Se, acidentalmente, o país der certo, será apesar do povo, não por causa dele. O melhor do Brasil não é, definitivamente, o brasileiro.
Quanto à estudante da Uniban que foi constrangida, está certa em querer retomar sua vida, porém está errada em achar-se culpada pelo incidente. Mostrar as pernas não é razão para ser ameaçada de estupro. Aos que acham o contrário, há várias maneiras de alcançar o paraíso na Terra. O Oriente Médio está sempre precisando de trabalhadores qualificados e empreendedores. E, ao contrário de Cuba e Coréia do Norte, é facultado a todo brasileiro sair do país, a hora em que bem entender.
A vergonha nacional não é o vestido curto, é quem se incomoda com ele.
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