Virou moda dizer que para melhorar o país precisamos aumentar a produtividade do brasileiro, equiparando-a a dos trabalhadores dos países ricos. Só que isso é incorreto apesar de não ser falso, há um problema embutido aí.
Muito da produtividade destes trabalhadores ocorre por que eles estão em um país rico ou eles estão em um país rico por serem mais produtivos?
É o velho paradoxo de Tostines* (ou se preferirem figura de linguagem ainda mais velha; quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?).
A complicação decorre de um problema prático, como se definir produtividade do trabalhador se um faz carros e outro computadores, um faz escolas e outro ensina, um mata e outro enterra?
A solução dos economistas foi declarar como produção o preço de certo produto e não o produto em si. Portanto, quando se produz um item de maior valor se é mais produtivo do que ao se fazer um de menor, não importando a eficiência no processo (cabe aqui um adendo; os conceitos de eficiência e eficácia são muito confundidos quando se fala de produtividade. Enquanto os economistas tendem a usar o segundo, os administradores tendem a usar o primeiro).
Deste modo se pede que o trabalhador faça o impossível ao requerer que tenha produtividade norueguesa imerso em ambiente congolês.
Explico melhor com um exemplo prático: um trabalhador de uma montadora de automóveis terá produtividade menor no Brasil do que nos E.U.A. pelo simples fato de que se fabricam modelos diferentes em cada país e que aqui, na média, os veículos produzidos custam a metade do preço ou menos do que os de lá e requerem aproximadamente os mesmos processos e tempo para serem produzidos.
Esta desvantagem estrutural poderia ser revertida pelo aumento da eficiência do trabalhador, se instalado no Brasil; mas isto é muito difícil por requerer grandes acréscimos (o dobro ou mais) e geralmente é compensada pela menor remuneração do trabalhador.
Isto implica que - indiferentemente da qualidade e eficiência da execução – a produtividade depende do mercado consumidor amplo e este só se consolida com renda nas mãos dos trabalhadores. E não é por acaso que a produtividade do trabalhador aumenta consistentemente nos países ricos e patina nos pobres e que dentro dos países pobres cresce nos setores exportadores e estanca, ou retrocede, nos voltados ao público consumidor interno.
É por isso que devemos esquecer esta conversa de produtividade e buscarmos uma maior eficiência de nossa economia como um todo. Ela provocará uma melhoria geral dos processos de produção e distribuição de bens e serviços que beneficiará ao consumidor.
Isto sim fará com que a correia de transmissão econômica aumente a produtividade do trabalhador, já que ela nada mais é do que uma conseqüência e não a causa. Assim como outros ganhos adicionais desta melhoria de eficiência; o crescimento do país e a distribuição de renda são exemplos.
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