Nessa semana, ouviu-se muitas elegias ao povo haitiano devido a suas muitas qualidades - criatividade, amabilidade, etc - e, sobretudo, por ter sido o primeiro país onde se concretizou uma revolução social nas Américas, tendo os escravos sobrepujado seus senhores na Revolução Haitiana, que, durante décadas, atemorizou donos de escravos por todo o mundo.
Parasse por aí, tudo bem, haveria nobreza de propósitos e grande número de beneficiados, mas a coisa virou uma revolução permanente, com resultados muito distintos, para não variar, dos esperados pelos teóricos socialistas.
Uma revolução é, tirando prováveis exceções que não me recordo agora, o pior que pode acontecer para um povo. Sempre leva a matanças e anarquia - também chamada de Estado de Natureza ou lei do mais forte -, mesmo que momentâneas.
Tomando emprestadas as palavras de Maílson da Nóbrega:
"No mundo, três transformações radicais sobressaem: (1) a Revolução Gloriosa (1688), que extinguiu o absolutismo inglês e levaria a Inglaterra à Revolução Industrial; (2) a Revolução Americana (1776), da qual surgiria a maior potência no século XIX; e (3) a Revolução Francesa (1789), a profunda mudança que substituiria os privilégios da nobreza, do clero e dos senhores feudais pelos direitos inalienáveis dos cidadãos.
Nada desse porte aconteceu no Brasil, nem agora nem antes. A independência foi declarada por dom Pedro, representante da metrópole. A República nasceu de um golpe de estado dado por Deodoro da Fonseca. A Revolução de 1930, a única que talvez possa ter esse título, promoveu mudanças, mas não daquela magnitude. Aqui não se viram rupturas nem violências. O regime militar findou sob negociação."
Essa aversão nacional à revolução, apontada por muitos como conservadorismo excessivo, especialmente pelas correntes esquerdistas, podem ter ajudado a manter os padrões de dominação centenários, porém permitiu uma melhora continuada do padrão de vida desde que aqui nos instalamos. Se a velocidade e a justa distribuição dessa evolução não são como queremos, ao menos não houve recuos, o pior dos mundos.
Ansiar uma revolução para o Brasil é mais um mal que acomete os utopistas, que esperam sempre o melhor mesmo das piores coisas. Qualquer realista teria aprendido com o Haiti as mesmas lições que Roberto Pompeu de Toledo tirou.
É sempre bom pensar bem no que desejamos. Vai que se realiza. O Haiti poderia ser aqui, e poderá.
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