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quinta-feira, 9 de julho de 2009

Uso compartilhado

Os japoneses voltaram a fazer, mas os velhos economistas devem ficar de cabelo em pé quando ouvem falar de coisas como essas.
Na era da procura do aumento do PIB e da obsolescência programada, dividir é quase um pecado. Mas mais e mais pessoas estão pecando. Há campanhas de carona solidária, o famoso Velib de Paris (vídeo abaixo) e muitas outros exemplos pipocando aqui e ali.

Entre um aumento do produto e do bem estar, e eles não são sinônimos, apesar alguns insistirem que sim, a população sempre preferirá o segundo.
Muito pouco de racional há na compra de certos produtos. O carro é um exemplo. Por um paga-se, normalmente, de um a dois anos de salário e utiliza-se por uma ou duas horas diárias. Ou seja, se você mantiver o carro por oito anos, para cada hora de uso, sem contar a manutenção e o combustível - e o stress -, você paga no mínimo um dia de trabalho.
Desta forma é muito mais negócio, se for fazer o cálculo racional, fazer o compartilhamento, de modo a um produto tomar menos do patrimônio individual. Por esse motivo países desenvolvidos têm muito melhores sistemas compartilhados, como lavanderias coletivas e transporte público do que os não-desenvolvidos.
Mas nosso governo quer massificar os produtos de consumo, símbolos de status, como carros e lavadoras, reduzindo o IPI, enquanto sufoca as empresas com tributação escorchante de investimentos e salários. Calcula que terá maior retorno eleitoral dessa maneira.
E, se tiver razão, merecemos o subdesenvolvimento. Quem gosta de jogar dinheiro fora deve ver qualidades naquele que o toma e desperdiça.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Velhice e riqueza

Já escrevi aqui, não passa de uma falácia a história de que os países avançados terão crises econômicas, com perda de riqueza, devido ao envelhecimento da população.
As pessoas acumulam patrimônio com o decorrer da vida, que pode ser usado na velhice para manter a roda da fortuna girando.
Há um porém. Estados ineficientes impedindo o acúmulo de capital pelos cidadãos podem trazer a ruína. E Estado ineficiente é um pleonasmo vicioso.
Logo, logo, os Estados do Bem-estar Social mostrarão a que vieram. Os do Mal-estar também. E o pior que a geração pagadora será a minha, primeiro, e da dos filhos da minha, depois. Justo aquela que acredita em um outro mundo possível.
Justiça poética, mas eu pagarei de bocó.


Foto: http://blogvivermais.wordpress.com

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Não é o fundo do poço

A comoção que está causando o assassinato do menino João Hélio fez muitos colunistas se perguntarem se este seria o ápice da barbárie. Respondo-lhes: é óbvio que não, mesmo porque já houve assassinatos mais bárbaros tanto no Rio quanto em outras partes do Brasil.
Aparentemente o ato desumano no assassinato de José Hélio foi o modo como foi tratado o cadáver e não a morte em si, que a que tudo leva crer foi acidental. Já em outros - como nas queimas do ônibus com passageiros dentro, no Rio, ou do carro com as testemunhas de um assalto, em Bragança Paulista - houve clara intenção de matar, com requintes de crueldade.
Não estou querendo defender nenhum dos acusados, pois a conseqüência dos atos foi tão hedionda quanto em todos os outros casos, porém não se pode querer aqui fazer de conta que o grupo responsável pela morte da criança é um tipo de monstro raro em nosso país, o que está longe da verdade.
Estamos fabricando este tipo de psicopata – ou, como alguns dizem que eles não podem ser produzidos em série, ao menos deixando mais fácil que atuem do que seria o razoável – em nossa sociedade e já estamos muito atrasados em tentar descobrir os por quês e como reverter este quadro.
Criamos no nosso país uma legítima sociedade do mal-estar social, em que mesmo os mais afortunados são obrigados a conviver com a miséria e suas conseqüências, e nada eficaz foi feito contra isso até o momento. Se, com fatores completamente mensuráveis e contra os quais há um receituário completo e comprovado, somos completamente ineficazes em lidar, imaginem com questões psiquiátricas como esta.
Já havia perdido a fé na viabilidade política de nossa nação. Agora sou obrigado a dizer que não tenho muita esperança quanto a nossa coesão social.

sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Brasileiros que trabalham e pagam impostos

A semana está acabando mais ainda resta um pouquinho de tempo para comentar uma reportagem assinada por Alexandre Oltramari na Veja desta semana (edição 1969) intitulada Reféns do Assistencialismo e que tem como palco principal a cidade de Serrano do Maranhão, que obviamente fica naquele estado, e possui um dos mais altos índices de habitantes pendurados no Bolsa-família do Brasil; segundo o autor há mais beneficiários hoje do havia habitantes no último censo.
Mais o comentário nada tem a ver com os números e sim com a anteposição que Oltromani faz, de que existem os que recebem a bolsa e os “brasileiros que trabalham e pagam impostos” – expressão que ele utilizou três vezes nas duas páginas de reportagem.
Como não acredito que o autor pense que os que recebem a ajuda assistencial são não-brasileiros; assumo que ele está afirmando que estes não trabalham, não pagam impostos ou os dois.
Isto demonstra que há das duas uma, preconceito ou desconhecimento com relação a realidade brasileira.
O desconhecimento seria o de igualar a incapacidade de gerar renda com a incapacidade de trabalhar.
Não conheço muito a realidade do nordeste em geral e menos ainda daquela cidade em particular, mas tenho total confiança de afirmar que a totalidade dos moradores desta localidade não têm como principal ofício esperar que o dinheiro do Bolsa-família chegue às suas mãos.
Se a cidade existia anteriormente à criação destes programas de auxílio (que não completaram uma década no plano federal) é porque existe uma dinâmica própria da economia do local, com empregadores e empregados como em qualquer outro. O próprio autor cita no texto o caso de uma professora que ganha 350 reais pelo seu ofício e mais 80 de assistencialismo. Será que ela não se enquadra no perfil de brasileira e trabalhadora?
Se estes trabalhadores são pouco produtivos e não conseguem suprir as necessidades básicas ou está havendo mau uso das bolsas é outra conversa que precisaria de um estudo caso-a-caso.
O preconceito seria igualar o recebimento da bolsa à falta de vontade de trabalhar ou a injustiça no recebimento. Seguramente todos os beneficiários prefeririam não depender desta esmola, vamos dar nomes aos bois, e ter capacidade financeira para se sustentar.
Quanto a pagar impostos; todos fazem. Como dizem: tão certo como a morte são os impostos, não importando se o contribuinte é rico ou pobre, feio ou bonito, velho ou novo.
Porém, certo como os pagará, o pobre contribui com uma fatia maior de sua renda do que o rico. E os muito pobres com um percentual maior ainda, sendo os bolsistas os favoritíssimos no esporte de renda tributada.
Me digam então quem são os brasileiros que trabalham e pagam impostos?
Só uma coisa, apontar para os congressistas e para o presidente não vale.