terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Não é o fundo do poço

A comoção que está causando o assassinato do menino João Hélio fez muitos colunistas se perguntarem se este seria o ápice da barbárie. Respondo-lhes: é óbvio que não, mesmo porque já houve assassinatos mais bárbaros tanto no Rio quanto em outras partes do Brasil.
Aparentemente o ato desumano no assassinato de José Hélio foi o modo como foi tratado o cadáver e não a morte em si, que a que tudo leva crer foi acidental. Já em outros - como nas queimas do ônibus com passageiros dentro, no Rio, ou do carro com as testemunhas de um assalto, em Bragança Paulista - houve clara intenção de matar, com requintes de crueldade.
Não estou querendo defender nenhum dos acusados, pois a conseqüência dos atos foi tão hedionda quanto em todos os outros casos, porém não se pode querer aqui fazer de conta que o grupo responsável pela morte da criança é um tipo de monstro raro em nosso país, o que está longe da verdade.
Estamos fabricando este tipo de psicopata – ou, como alguns dizem que eles não podem ser produzidos em série, ao menos deixando mais fácil que atuem do que seria o razoável – em nossa sociedade e já estamos muito atrasados em tentar descobrir os por quês e como reverter este quadro.
Criamos no nosso país uma legítima sociedade do mal-estar social, em que mesmo os mais afortunados são obrigados a conviver com a miséria e suas conseqüências, e nada eficaz foi feito contra isso até o momento. Se, com fatores completamente mensuráveis e contra os quais há um receituário completo e comprovado, somos completamente ineficazes em lidar, imaginem com questões psiquiátricas como esta.
Já havia perdido a fé na viabilidade política de nossa nação. Agora sou obrigado a dizer que não tenho muita esperança quanto a nossa coesão social.

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