sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Como previsto

O câmbio virou para a imprensa o Judas da vez, eliminando o Cristo que é a indústria nacional e condenando-nos ao inferno do desemprego e da baixa renda.
Não acredito em nada disso.
Façamos um exercício de imaginação: digamos que acordemos amanhã com o real valendo uma libra esterlina e que a massa salarial - contada em real - esteja imutável.
Isso equivaleria a um incremento de renda de mais de 4 vezes e faria com que alguns setores intensivos em mão-de-obra sofressem muito devido à concorrência dos produtos importados, mas será que haveria uma influência negativa no emprego? Obviamente não.
A tendência é que o setor de serviços abriria vagas suficientes para fazer com que a balança fosse altamente favorável.
Peguemos o setor automobilístico, que é apontado como daqueles onde o câmbio valorizado trás o apocalipse. Se assumirmos que para cada emprego associado à produção (montagem, produção de peças, limpeza e administração das fábricas, etc) houver um associado aos serviços (venda de automóveis, corretagem de seguros, mecânica, funilaria, etc), o que não é verdade já que o setor de serviços envolve mais pessoal, e verificarmos o resultado no emprego geral de câmbio e renda iguais ao da hipótese, veremos que o resultado é amplamente positivo.
A renda aumentada por quatro abriria a um enorme contingente a possibilidade de ter veículo próprio (automóveis são totalmente intercambiáveis e, portanto, o preço do mesmo não subiria conforme a renda e sim conforme os preços internacionais mais impostos) assim como diminuiria o ônus de mantê-lo (o custo das peças de reposição e dos combustíveis seguem a mesma lógica e o dos seguros é feito em relação ao preço de venda do veículo). Com tudo isso, o aumento de vendas destes não se daria pela simples multiplicação por quatro e sim por uma função maior, tendo em vista as necessidades represadas de nossa população.
Mesmo que toda a indústria automobilística brasileira fosse varrida do mapa – e razões logística impediriam isso -, o número de empregos gerados pelo setor de serviços ao automóvel seria muito grande e haveria um aumento da massa salarial, com reflexos positivos para a nação.
O mesmo aconteceria com uma enorme gama de setores onde possíveis perdas no número de empregos industriais seriam sobrepujadas pelo incremento no número de empregos advindos dos novos serviços consumidos pelo aumento de renda relativo do brasileiro em comparação às nações circundantes.
Seriam particularmente visíveis o aumento do consumo nas rubricas turismo e lazer, dois setores quase indigentes no Brasil do momento, mas que estão experimentando forte aumento com a recuperação do valor da nossa moeda.
É claro que o real em paridade com a libra esterlina seria um caso extremo e teríamos que ter muitas mudanças estruturais e econômicas para mantê-lo assim, mas este exemplo é só para mostrar que uma moeda forte não é um empecilho para o desenvolvimento econômico de uma economia moderna de serviços e geradora de empregos, é antes de tudo um pré-requisito. A Inglaterra é uma prova viva disso.
Querer o Brasil um eterno exportador que é um atraso desmedido. A única função econômica de se exportar é poder importar o que outros têm de bom, assim como a única função econômica de trabalhar é consumir o que se quer.
O resto é fetiche moralista.

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