Água é a crise anunciada do momento. Diz-se que as próximas guerras deixarão o petróleo de lado e serão realizadas pela hegemonia sobre ela.
Só que as coisas não são bem por aí, apesar de eu ficar muito mais tranqüilo com o fato de os Estados Unidos e nossos vizinhos mais próximos serem ricos em água.
Ao menos que você more em um deserto, basta olhar para os lados e verá que a escassez não é de água; é de energia e de bom senso.
De energia porque há água mais do que suficiente no mundo para todos os tipos de uso humano, só que ela não se concentra da mesma maneira que a nossa população.
Isto faz com que quantidades cada vez maiores do líquido sejam captadas a distâncias crescentes de sua destinação; ou, no caso dos lençóis freáticos, a profundidades maiores.
A captação feita desta maneira necessita de muita energia. É a escassez desta, e portanto seu alto custo, o maior fator limitante. O custo das obras de infra-estrutura tem impacto apenas marginal em longo prazo. O mesmo valendo para o processo de dessalinização.
A falta de bom senso se mostra de duas maneiras.
A primeira ao instalar grandes centros consumidores de água, grandes centros populacionais e plantas industriais, em regiões carentes da mesma. O Brasil é exemplo disto; campeão mundial em recursos hídricos, concentra boa parte de sua população na pequena região semi-árida e convive com enormes vazios populacionais em regiões riquíssimas em água.
A segunda pelo mau uso da mesma. Por degradação de mananciais, desperdício ou poluição de reservas.
Podemos citar São Paulo, capital, como o exemplo à não ser seguido.
Nela os antigos mananciais das zonas mais centrais foram impermeabilizados e os rios que deles derivavam transformados em galerias pluviais. Os mananciais mais distantes foram preservados até poucas décadas, mas hoje sofrem ocupação desordenada do solo e, mais uma vez, impermeabilização. Resultando em alagamentos sempre que chove um pouco mais do que o normal. Os paulistanos puderam constatar em loco os resultados hoje.
Além dos mananciais degradados, as represas que estes alimentam estão poluídas. O que faz com que seja necessário utilizar processos de despoluição cada vez mais custosos e a captar em reservatórios distantes da cidade.
Um problema oculto é o uso e a situação do Aqüífero Guarany, maior do mundo e sobre o qual a região metropolitana se encontra. Sabe-se que há utilização das águas deste em são Paulo, porém não em qual intensidade e nem como a poluição metropolitana esta comprometendo o reservatório.
Para completar, muito da água que se capta e trata é perdida na distribuição. As estimativas variam, só que em nenhuma delas o índice de desperdício é menor do que 20 por cento.
E nem falamos do uso intensivo e desnecessário pelos consumidores finais.
Podemos dizer então que uma crise hídrica em níveis mundiais seria não uma crise da água, mas uma crise econômica de possíveis consumidores devido a uma série de motivos que impossibilitaria a obtenção ou exploração do recurso.
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