Há uma coisa em que o Brasil é primeiro mundo, o futebol.
Esta idéia cansou de ser apresentada aos brasileiros nesta copa do mundo. Nada mais distante da verdade, ao menos no ver do técnico de nossa seleção (ou seria o head coach).
Para nosso comandante o primeiro mundo do futebol está sem dúvida alguma na Europa, e todas as concepções que temos sobre o modo de jogo por estas bandas não valem nada.
E daí se os brasileiros gostam de jogo bonito, se gostam de ver o time procurar o gol, se preferem que nossa seleção fazendo os adversários de bobo invés de ficar correndo atrás deles ou esperando que estes nos ataquem como fizeram os ganeses (tudo bem que a Globo os chamem de ganenses, deve estar certa, mas acho que ganês soa melhor). São todos uns bobos que não entendem nada de futebol mundial.
Como todos sabem, os livros mais avançados sobre futebol editados nos avançadíssimos Estados Unidos demonstram que o mais importante é defender, mesmo que os adversários estejam morrendo de medo do seu ataque estrelado e só queiram sair no contra-ataque. O gol é um mero detalhe, e a melhor vitória é a sofrida, nos pênaltis.
Tudo isso porque somos uma colônia, ou ao menos temos a mentalidade de uma.
Tudo que vem do estrangeiro tem uma qualidade que nunca poderemos alcançar, ou podemos, desde que os estrangeiros endossem.
Não seria por esta razão que Parreira se recusou a colocar Robinho como titular até que se armou uma operação de guerra para retirá-lo do Santos. E não seria por isso também que o Adriano (que foi considerado o novo fenômeno pela imprensa italiana, mas que eu defino como um grosso) é titular absoluto da seleção a mais de um ano, mesmo quando esteve amargando uma fase desgraçada na sua equipe.
Não sem razão o sonho de qualquer boleiro de 10 anos nas escolinhas e clubes país afora é se transferir para o exterior, nem que seja para a Índia, Vietnã ou Bulgária. Lá eles estarão mais próximos do primeiro mundo da bola.
Parreira é quem tem razão; se com cinco títulos de copa do mundo, o campeonato mais competitivo do mundo e uma nação de 180 milhões de pessoas apaixonadas pelo esporte não conseguimos fazer com que nossas crianças sonhem em fazer carreira nos nossos clubes, só podemos estar diante de uma colônia.
O primeiro passo para ser primeiro mundo é acreditar que é, se nem onde somos “benchmark” (eu sempre imaginei que ainda usaria esta palavra e como bom colonizado fiz, se bem que desconfio que escrevi errado) e exportadores de mão-de-obra qualificada e mesmo de marcas nos sentimos por cima da carne-seca.
O problema é que posso estar olhando pelo lado errado. Não estamos exportando mão-de-obra qualificada e sim matéria-prima de primeira qualidade para ser manufaturada e transformada em espetáculo na metrópole, ou metrópoles.
Como sempre, aliás.
Apenas alguns pensamentos sobre as coisas que acho que sei ou sobre as quais não tenho a mínima idéia
quinta-feira, 29 de junho de 2006
quarta-feira, 28 de junho de 2006
Desperdiçando oportunidades
Voltar a escrever depois de meia copa do mundo é sempre difícil, a inércia da inatividade é muito forte, mas vamos lá.
Se vocês têm mais de trinta como eu, devem se lembrar de que o sonho distante de adolescência era ter um carro equipado com as maravilhas das maravilhas tecnológicas, um toca-fitas autoreverse. E o sonho de consumo imediato era o “walk-man”.
Se você tem menos de quinze (deixando bem claro que eu duvido que alguém com menos de quinze lê este blog) nem sabe o que é toca-fitas e associa o termo “walk-man” com o celular com mp3 da Sony.
O que aconteceu neste espaço de anos?
A ascensão dos métodos de gravação óticos (cds, dvds e afins) e, principalmente, a descoberta em 1988, por Mario Norberto Baibich, da magnetoresistênia gigante.
Baibich é um pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e magnetoresistência gigante a propriedade física que permite a construção de discos-rígidos ou mesmo dos leitores dos velhos disquetes e fitas dats.
Perceberam onde quero chegar com o título deste artigo?
A descoberta de Baibich possibilitou o aparecimento do computador pessoal de alto-desempenho e por um período o Brasil teve o maior – e único – especialista na propriedade.
E o que fez com isso?
Nada, absolutamente nada. Desperdiçou a oportunidade.
Li uma vez que a primeira transmissão radiofônica conhecida foi feita por um padre na região da avenida Paulista, nova inovação científica e novo desperdício de oportunidade.
Outros ocorreram, e certamente outros ocorrerão, e mostram que apesar de todos os erros cometidos por sucessivos governos “na história deste país”(Lula, em qualquer discurso dos muitos que concedeu como presidente) erraram mais ainda as classes empresariais, que nunca procuraram inovar tecnologicamente, se contentando em copiar ou comprar tecnologia estrangeira.
O fato é que mais do que um povo educado – fator essencial – é necessário que haja uma indústria inovadora para que um país se desenvolva.
Hoje em dia se costuma dizer que aproveitar a criatividade é o que as empresas devem fazer. Não há nada mais criativo do que a inovação tecnológica e, infelizmente, nada é mais raro por estas bandas.
Se vocês têm mais de trinta como eu, devem se lembrar de que o sonho distante de adolescência era ter um carro equipado com as maravilhas das maravilhas tecnológicas, um toca-fitas autoreverse. E o sonho de consumo imediato era o “walk-man”.
Se você tem menos de quinze (deixando bem claro que eu duvido que alguém com menos de quinze lê este blog) nem sabe o que é toca-fitas e associa o termo “walk-man” com o celular com mp3 da Sony.
O que aconteceu neste espaço de anos?
A ascensão dos métodos de gravação óticos (cds, dvds e afins) e, principalmente, a descoberta em 1988, por Mario Norberto Baibich, da magnetoresistênia gigante.
Baibich é um pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e magnetoresistência gigante a propriedade física que permite a construção de discos-rígidos ou mesmo dos leitores dos velhos disquetes e fitas dats.
Perceberam onde quero chegar com o título deste artigo?
A descoberta de Baibich possibilitou o aparecimento do computador pessoal de alto-desempenho e por um período o Brasil teve o maior – e único – especialista na propriedade.
E o que fez com isso?
Nada, absolutamente nada. Desperdiçou a oportunidade.
Li uma vez que a primeira transmissão radiofônica conhecida foi feita por um padre na região da avenida Paulista, nova inovação científica e novo desperdício de oportunidade.
Outros ocorreram, e certamente outros ocorrerão, e mostram que apesar de todos os erros cometidos por sucessivos governos “na história deste país”(Lula, em qualquer discurso dos muitos que concedeu como presidente) erraram mais ainda as classes empresariais, que nunca procuraram inovar tecnologicamente, se contentando em copiar ou comprar tecnologia estrangeira.
O fato é que mais do que um povo educado – fator essencial – é necessário que haja uma indústria inovadora para que um país se desenvolva.
Hoje em dia se costuma dizer que aproveitar a criatividade é o que as empresas devem fazer. Não há nada mais criativo do que a inovação tecnológica e, infelizmente, nada é mais raro por estas bandas.
quarta-feira, 14 de junho de 2006
Ilegalidade é crime
Agora que os acontecimentos da segunda-feira negra (aquela em que o PCC mostrou força) são história e a bola está correndo na Alemanha, talvez seja hora de analisar algumas coisinhas que nos levam a situação de medo em que nos encontramos.
Tudo que os políticos souberam dizer é que chegamos nesta situação devido a falhas no sistema educacional provido pelos políticos de décadas atrás, e que portanto nada têm com isso. Estão lavando as mãos já que os culpados são a “elite branca e cruel”.
Nossos “pilatos” sabem que dar boa educação aos brasileiros não resolverá o problema da criminalidade.
A única forma de realmente diminuir os índices de criminalidade é diminuindo a ilegalidade na nossa sociedade, que em alguns casos é travestida de informalidade.
Aliás, quase tudo que é chamado de informalidade no Brasil é na realidade a ponta de um esquema criminoso.
Nós sabemos que moral é um conceito bastante elástico e que uma vez ocorrida a primeira transgressão a ela as seguintes vêm quase que automaticamente, sendo necessário mais “autoridade” para reverter as transgressões a cada ato individual que vai contra ela. E em um país em que os sistemas repressivos da lei não funcionam, a única coisa que faz com que as leis sejam respeitadas é o código moral, que se esfacela a cada instante.
Por isso todos os esquemas “informais” acabam se transformando em “máfias”, mais ou menos violentas dependendo do estágio em que se encontram, mas sempre deletérias aos cofres públicos.
É só olharmos os exemplos de ilegalidades flagrantes e veremos uma grande fonte de dor de cabeça para a polícia.
Um que foi saudado como solução foi o advento dos perueiros clandestinos entre o final da década de 80 e o início da de 90 do século passado.
Devido ao barateamento dos ônibus e vans e uma melhora nas formas de financiamento destes ocorreu uma enxurrada de perueiros independentes e concorrentes com as linhas licitadas pelo poder público, nas mãos de empresas que prestavam um serviço muito ruim. Estes independentes logo se juntaram em cooperativas que acabaram dominadas por organizações criminosas, como a prisão do líder de uma destas cooperativas – alcunhado Pandora – na semana passada evidencia.
Além do financiamento do crime organizado, estas cooperativas agridem as contas públicas pela perda de receita do sistema legalmente consolidado de transporte público. Em muitos casos ocorre também o flagrante desrespeito as normas de trânsito – e uma montanha de multas não pagas acumuladas nos departamentos de trânsito dos estados – e uma sobrecarga das vias públicas.
Da mesma forma o comércio de rua é em grande parte uma forma de desovar os frutos do contrabando, da pirataria e do roubo de cargas. É óbvio que um combate eficiente a este comércio seria um golpe de morte nas quadrilhas especializadas nestes tipos de crime.
Assim como seria muito bom para a diminuição da violência extrema a descriminalização irrestrita de todas as drogas entorpecentes. Um problema policial passaria a ser apenas uma questão de saúde pública.
Portanto uma diminuição do nível de informalidade/ilegalidade traria evidentes ganhos nos índices de segurança pública, porém nenhum político se compromete a isso por duas razões básicas.
A primeira porque as ilegalidades são fonte de renda de milhares, se não milhões, de eleitores. Enquanto o combate a elas resulta em ganhos de toda a sociedade de forma desconcentrada as perdas são concentradas e mensuráveis pelo povo, que reage rapidamente.
A outra é que o combate a este tipo de criminalidade não resulta em propaganda fácil para os governantes (obras), mas sim em um aprimoramento da máquina pública e a exigência de que os funcionários e órgãos públicos atuem conforme suas obrigações. Ou seja, consiste em ferir interesses corporativos.
Enquanto não tivermos governantes que cumpram suas obrigações e deixem de “lavar as mãos” dizendo que tudo é uma questão de educação a criminalidade só crescerá.
Educar o povo é uma necessidade, só que não resolve tudo. Para alguns problemas, como a criminalidade, é preciso apenas que o Estado faça valer suas forças e prerrogativas; nada mais.
Tudo que os políticos souberam dizer é que chegamos nesta situação devido a falhas no sistema educacional provido pelos políticos de décadas atrás, e que portanto nada têm com isso. Estão lavando as mãos já que os culpados são a “elite branca e cruel”.
Nossos “pilatos” sabem que dar boa educação aos brasileiros não resolverá o problema da criminalidade.
A única forma de realmente diminuir os índices de criminalidade é diminuindo a ilegalidade na nossa sociedade, que em alguns casos é travestida de informalidade.
Aliás, quase tudo que é chamado de informalidade no Brasil é na realidade a ponta de um esquema criminoso.
Nós sabemos que moral é um conceito bastante elástico e que uma vez ocorrida a primeira transgressão a ela as seguintes vêm quase que automaticamente, sendo necessário mais “autoridade” para reverter as transgressões a cada ato individual que vai contra ela. E em um país em que os sistemas repressivos da lei não funcionam, a única coisa que faz com que as leis sejam respeitadas é o código moral, que se esfacela a cada instante.
Por isso todos os esquemas “informais” acabam se transformando em “máfias”, mais ou menos violentas dependendo do estágio em que se encontram, mas sempre deletérias aos cofres públicos.
É só olharmos os exemplos de ilegalidades flagrantes e veremos uma grande fonte de dor de cabeça para a polícia.
Um que foi saudado como solução foi o advento dos perueiros clandestinos entre o final da década de 80 e o início da de 90 do século passado.
Devido ao barateamento dos ônibus e vans e uma melhora nas formas de financiamento destes ocorreu uma enxurrada de perueiros independentes e concorrentes com as linhas licitadas pelo poder público, nas mãos de empresas que prestavam um serviço muito ruim. Estes independentes logo se juntaram em cooperativas que acabaram dominadas por organizações criminosas, como a prisão do líder de uma destas cooperativas – alcunhado Pandora – na semana passada evidencia.
Além do financiamento do crime organizado, estas cooperativas agridem as contas públicas pela perda de receita do sistema legalmente consolidado de transporte público. Em muitos casos ocorre também o flagrante desrespeito as normas de trânsito – e uma montanha de multas não pagas acumuladas nos departamentos de trânsito dos estados – e uma sobrecarga das vias públicas.
Da mesma forma o comércio de rua é em grande parte uma forma de desovar os frutos do contrabando, da pirataria e do roubo de cargas. É óbvio que um combate eficiente a este comércio seria um golpe de morte nas quadrilhas especializadas nestes tipos de crime.
Assim como seria muito bom para a diminuição da violência extrema a descriminalização irrestrita de todas as drogas entorpecentes. Um problema policial passaria a ser apenas uma questão de saúde pública.
Portanto uma diminuição do nível de informalidade/ilegalidade traria evidentes ganhos nos índices de segurança pública, porém nenhum político se compromete a isso por duas razões básicas.
A primeira porque as ilegalidades são fonte de renda de milhares, se não milhões, de eleitores. Enquanto o combate a elas resulta em ganhos de toda a sociedade de forma desconcentrada as perdas são concentradas e mensuráveis pelo povo, que reage rapidamente.
A outra é que o combate a este tipo de criminalidade não resulta em propaganda fácil para os governantes (obras), mas sim em um aprimoramento da máquina pública e a exigência de que os funcionários e órgãos públicos atuem conforme suas obrigações. Ou seja, consiste em ferir interesses corporativos.
Enquanto não tivermos governantes que cumpram suas obrigações e deixem de “lavar as mãos” dizendo que tudo é uma questão de educação a criminalidade só crescerá.
Educar o povo é uma necessidade, só que não resolve tudo. Para alguns problemas, como a criminalidade, é preciso apenas que o Estado faça valer suas forças e prerrogativas; nada mais.
segunda-feira, 12 de junho de 2006
Está decidido
Em virtude dos jogos da Copa frequentarei bem menos este espaço no mês de junho.
Afinal todos têm direito a uma folguinha de vez em quando. Ou duas, ou três.
Afinal todos têm direito a uma folguinha de vez em quando. Ou duas, ou três.
sexta-feira, 9 de junho de 2006
O bêbado e o futebolista, obeso
Apesar de parecer não é nome de música popular brasileira dos anos 70 é simplesmente uma, ahhh, discussão entre celebridades.
Bate-boca não é exatamente o objetivo de discussão deste blog, só que vou entrar um pouco nesta vereda.
Quem acompanha meus textos sabe que não tenho muito apreço pelos discursos de nosso excelentíssimo líder e agora acrescentem que não gosto dele atuando como entrevistador também.
Daí vem a motivação do texto: se você – apoiado por todo um aparato de mídia – coloca em dúvida as capacidades físicas de um indivíduo perante uma nação perguntando ao técnico da seleção brasileira se um atleta está gordo (a propósito, eu acho que está) abre um flanco para que este também coloque em dúvida suas capacidades governamentais.
Ronaldo foi até elegante por demais. Poderia ter feito menção a uma série de defeitos ou até delitos ligados em tese ao presidente Lula, mas só falou da possível propensão ao alcoolismo, e mesmo assim dizendo que era provavelmente mentira como seria mentira o que dizem sobre ele (a obesidade).
E bate-boca da pior espécie, porém podemos até dar risadas com ela. E mais do que o que tem acontecido com a nossa política nos últimos tempos.
Dela só extraímos lágrimas.
Bate-boca não é exatamente o objetivo de discussão deste blog, só que vou entrar um pouco nesta vereda.
Quem acompanha meus textos sabe que não tenho muito apreço pelos discursos de nosso excelentíssimo líder e agora acrescentem que não gosto dele atuando como entrevistador também.
Daí vem a motivação do texto: se você – apoiado por todo um aparato de mídia – coloca em dúvida as capacidades físicas de um indivíduo perante uma nação perguntando ao técnico da seleção brasileira se um atleta está gordo (a propósito, eu acho que está) abre um flanco para que este também coloque em dúvida suas capacidades governamentais.
Ronaldo foi até elegante por demais. Poderia ter feito menção a uma série de defeitos ou até delitos ligados em tese ao presidente Lula, mas só falou da possível propensão ao alcoolismo, e mesmo assim dizendo que era provavelmente mentira como seria mentira o que dizem sobre ele (a obesidade).
E bate-boca da pior espécie, porém podemos até dar risadas com ela. E mais do que o que tem acontecido com a nossa política nos últimos tempos.
Dela só extraímos lágrimas.
quarta-feira, 7 de junho de 2006
Nas contas da impunidade
Muito vai se discutir se os desordeiros que ontem depredaram o Congresso (mais 150 mil reais para os nossos gastos) tinham ou não a intenção de violência, mas uma coisa não se discute; atos como estes só vêm se intensificando devido a impunidades em série.
Se a cada vez que há uma destas investidas antidemocráticas contra o patrimônio público ou privado correspondesse a prisões dos envolvidos, indiciamentos e cobrança judicial dos danos isso já teria se tornado história.
Só que o contrário ocorre e as autoridades resolvem negociar com os criminosos – quer tenham ou não boas causas para lutar, seus atos são contra a lei vigente no país – e atendem as reinvidicações de modo que há um reforço positivo ao vandalismo.
Como culpar estes manifestantes por utilizar estas táticas se o mesmo é feito semanalmente país afora com o apoio tácito da mídia e de camadas do poder político?
É fato que o nosso país é cheio de leis e regras completamente anacrônicas, porém são elas que estão em vigor. Se estas não servem mais aos propósitos de regular a sociedade que as mudemos, mas enquanto estas estão vigentes é imperativo que as apliquemos. Ao nos darmos a liberdade de executar apenas as leis que nos agradam, estamos na verdade criando um ambiente sem leis nenhuma. Algo assim como um Brasil.
Não sei quanto a vocês, eu achei justicemos que os manifestantes de ontem tenham sido detidos, interrogados e fichados. O problema é que duvido que esta será a conduta padrão nos próximos episódios de invasão de prédios públicos. Torço que sim.
Diminuir a desigualdade social por estas paragens é um sonho de todos nós, até dos riquíssimos que vão passar as férias na monocromática Suíça (quando não há seleção brasileira por lá). Alcançar este objetivo passa por aplicação efetiva das leis que temos a disposição.
Sempre que uma lei é flagrantemente desrespeitada a sociedade perde um pouco. A repartição desta perda não é equânime. Se a sociedade perde um pouco é sinal de que os mais frágeis dentro dela – os pobres, sempre eles – estão perdendo muito.
Se a cada vez que há uma destas investidas antidemocráticas contra o patrimônio público ou privado correspondesse a prisões dos envolvidos, indiciamentos e cobrança judicial dos danos isso já teria se tornado história.
Só que o contrário ocorre e as autoridades resolvem negociar com os criminosos – quer tenham ou não boas causas para lutar, seus atos são contra a lei vigente no país – e atendem as reinvidicações de modo que há um reforço positivo ao vandalismo.
Como culpar estes manifestantes por utilizar estas táticas se o mesmo é feito semanalmente país afora com o apoio tácito da mídia e de camadas do poder político?
É fato que o nosso país é cheio de leis e regras completamente anacrônicas, porém são elas que estão em vigor. Se estas não servem mais aos propósitos de regular a sociedade que as mudemos, mas enquanto estas estão vigentes é imperativo que as apliquemos. Ao nos darmos a liberdade de executar apenas as leis que nos agradam, estamos na verdade criando um ambiente sem leis nenhuma. Algo assim como um Brasil.
Não sei quanto a vocês, eu achei justicemos que os manifestantes de ontem tenham sido detidos, interrogados e fichados. O problema é que duvido que esta será a conduta padrão nos próximos episódios de invasão de prédios públicos. Torço que sim.
Diminuir a desigualdade social por estas paragens é um sonho de todos nós, até dos riquíssimos que vão passar as férias na monocromática Suíça (quando não há seleção brasileira por lá). Alcançar este objetivo passa por aplicação efetiva das leis que temos a disposição.
Sempre que uma lei é flagrantemente desrespeitada a sociedade perde um pouco. A repartição desta perda não é equânime. Se a sociedade perde um pouco é sinal de que os mais frágeis dentro dela – os pobres, sempre eles – estão perdendo muito.
Entristecedor
Já sabíamos que a educação no país estava falida, só que eu não sabia que o buraco era tão profundo.
Em São Paulo até os jornais estão fazendo anúncios que menosprezam a educação, se não a inteligência, do leitor.
Um diz que tem a “informação que você entende” e o outro que é “fácil de entender”. Falo de Agora e Jornal da Tarde.
E não culpo os jornais e nem seus publicitários pela adoção da estratégia, embora ache muito perigoso para a imagem de uma marca ficar associada à falta de discernimento de seus clientes.
A culpa é de nosso sistema educacional que entrega ao fim do processo um sem-número de analfabetos funcionais.
Como esperar que este sistema produza trabalhadores especializados dos quais nossa indústria é carente. Ou técnicos de programação para operar nos ambientes de alta-complexidade que a tecnologia de informação cria. Ou ainda produtores rurais para surfar na onda dos orgânicos, que para serem produzidos necessitam do acompanhamento constante por parte do produtor das pragas que podem atacar a safra e da correção do solo.
Ou seja, estamos formando uma geração de pessoas para as quais o futuro é no mínimo preocupante. E como eles serão os indivíduos que formarão a sociedade, nada nos indica que esta progredirá.
Mudar este quadro é uma urgência nacional. Se não conseguirmos nem ao menos ensinar o povo a ler, como poderemos sonhar com uma liderança regional ou mundial em qualquer sentido.
Querer que um povo seja formado só por sábios talvez seja um exagero, mas não há nada demais em querer que não sejam todos néscios.
Qualificar os brasileiros para que os jornais não precisem anunciar que são feitos para quem não consegue entender é um ponto de honra e uma questão de sobrevivência.
Se conseguirmos que isso aconteça, muitos dos nossos outros problemas acabam automaticamente.
Em São Paulo até os jornais estão fazendo anúncios que menosprezam a educação, se não a inteligência, do leitor.
Um diz que tem a “informação que você entende” e o outro que é “fácil de entender”. Falo de Agora e Jornal da Tarde.
E não culpo os jornais e nem seus publicitários pela adoção da estratégia, embora ache muito perigoso para a imagem de uma marca ficar associada à falta de discernimento de seus clientes.
A culpa é de nosso sistema educacional que entrega ao fim do processo um sem-número de analfabetos funcionais.
Como esperar que este sistema produza trabalhadores especializados dos quais nossa indústria é carente. Ou técnicos de programação para operar nos ambientes de alta-complexidade que a tecnologia de informação cria. Ou ainda produtores rurais para surfar na onda dos orgânicos, que para serem produzidos necessitam do acompanhamento constante por parte do produtor das pragas que podem atacar a safra e da correção do solo.
Ou seja, estamos formando uma geração de pessoas para as quais o futuro é no mínimo preocupante. E como eles serão os indivíduos que formarão a sociedade, nada nos indica que esta progredirá.
Mudar este quadro é uma urgência nacional. Se não conseguirmos nem ao menos ensinar o povo a ler, como poderemos sonhar com uma liderança regional ou mundial em qualquer sentido.
Querer que um povo seja formado só por sábios talvez seja um exagero, mas não há nada demais em querer que não sejam todos néscios.
Qualificar os brasileiros para que os jornais não precisem anunciar que são feitos para quem não consegue entender é um ponto de honra e uma questão de sobrevivência.
Se conseguirmos que isso aconteça, muitos dos nossos outros problemas acabam automaticamente.
terça-feira, 6 de junho de 2006
E mais circo
O oba-oba sobre a Suzane foi tão grande que ofuscou a cobertura do assassinato de um membro de uma banda campeã de vendagem.
Realmente espantoso.
Se você, como eu, não sabe quem eram ou são os Detonautas clique aqui .
Realmente espantoso.
Se você, como eu, não sabe quem eram ou são os Detonautas clique aqui .
Circo
Começou, e logo foi interrompido, o julgamento do assassinato do casal Von Richtofen. Se bem que poderíamos chamar de circo.
Foi bem assim que foi tratado o caso desde o princípio.
Em uma cidade que registra índices de homicídios de guerra civil, o assassinato de um casal de ricos foi veiculado como algo inconcebível e com um alcance de mídia totalmente desproporcional se comparado à cobertura que os demais assassinatos – inclusive chacinas – recebe.
A comoção aumentou quando se descobriu a identidade dos criminosos. A filha do casal, o namorado desta e o irmão deste. Foi a chave para que a imprensa fizesse a festa.
Principalmente pela personagem principal da trama. Rica, bonita, culta, (aparentemente) perversa –no sentido psicológico da coisa – e burra.
Tanto fez a imprensa que a transformou em uma celebridade. E com uma celebridade envolvida, o caso deixou de ser apenas mais um de violência extrema em família para ser um evento jurídico.
As indas e vindas dos réus por tribunais e presídios foram acompanhadas ao vivo. A ré teve direito de falar em horário nobre da emissora número 1, e para o próprio azar falou demais.
Pois as tevês pretendem encerrar esta cobertura magistralmente. Houve quem pensou em transmitir o julgamento ao vivo, idéia que foi abortada por decisão de tribunal superior, e justificava a pretensão apontando para os Estados Unidos e dizendo que lá há canais dedicados unicamente a isto.
Disseram até que seria muito educativo para a população e poderia coibir a violência, ainda mais por ser um divisor de águas no direito criminal nacional.
Oras, tenham dó. Este não foi o primeiro e não será o último homicídio julgado no Brasil. E certamente está longe de ser o mais complexo.
Se há ineditismo no caso foi a forma como a polícia o solucionou. Rapidamente e com provas claras contra os réus; que terminaram por confessar, e sem tortura, a participação no caso.
E o pior que são louros que nem podem ser exibidos, pois apenas amplifica o descaso com o qual é tratada a investigação criminal no país. Menos de 10% dos delitos registrados são resolvidos.
E quanto a dizer que a transmissão de julgamentos é educativa; só pode ser piada, e de mau-gosto.
Os únicos que podem se beneficiar disto são os advogados, que normalmente já participam da platéia, e outros bandidos, que poderão saber o que não fazer para não terminar atrás das grades de um presídio durante a ação criminal ou o que serve ou não como álibi.
Sabemos que o alimentador maior da criminalidade é a impunidade e nisso nossa é uma das melhores incubadoras que há. As chances de um criminoso ser eliminado por seus comparsas são infinitamente maiores do que de ser neutralizado pela ação conjunta das Polícias e do Judiciário.
Não é transformando julgamentos em entretenimento para as massas que a criminalidade será reduzida. O máximo que ocorrerá é que teremos advogados dando autógrafos e alguns bandidos terão fã-clube.
A criminalidade só baixará quando os órgãos públicos prevenção, combate e repressão estiverem funcionando efetivamente.
Não sou um pessimista convicto, mas fica difícil de acreditar que isso será breve.
Foi bem assim que foi tratado o caso desde o princípio.
Em uma cidade que registra índices de homicídios de guerra civil, o assassinato de um casal de ricos foi veiculado como algo inconcebível e com um alcance de mídia totalmente desproporcional se comparado à cobertura que os demais assassinatos – inclusive chacinas – recebe.
A comoção aumentou quando se descobriu a identidade dos criminosos. A filha do casal, o namorado desta e o irmão deste. Foi a chave para que a imprensa fizesse a festa.
Principalmente pela personagem principal da trama. Rica, bonita, culta, (aparentemente) perversa –no sentido psicológico da coisa – e burra.
Tanto fez a imprensa que a transformou em uma celebridade. E com uma celebridade envolvida, o caso deixou de ser apenas mais um de violência extrema em família para ser um evento jurídico.
As indas e vindas dos réus por tribunais e presídios foram acompanhadas ao vivo. A ré teve direito de falar em horário nobre da emissora número 1, e para o próprio azar falou demais.
Pois as tevês pretendem encerrar esta cobertura magistralmente. Houve quem pensou em transmitir o julgamento ao vivo, idéia que foi abortada por decisão de tribunal superior, e justificava a pretensão apontando para os Estados Unidos e dizendo que lá há canais dedicados unicamente a isto.
Disseram até que seria muito educativo para a população e poderia coibir a violência, ainda mais por ser um divisor de águas no direito criminal nacional.
Oras, tenham dó. Este não foi o primeiro e não será o último homicídio julgado no Brasil. E certamente está longe de ser o mais complexo.
Se há ineditismo no caso foi a forma como a polícia o solucionou. Rapidamente e com provas claras contra os réus; que terminaram por confessar, e sem tortura, a participação no caso.
E o pior que são louros que nem podem ser exibidos, pois apenas amplifica o descaso com o qual é tratada a investigação criminal no país. Menos de 10% dos delitos registrados são resolvidos.
E quanto a dizer que a transmissão de julgamentos é educativa; só pode ser piada, e de mau-gosto.
Os únicos que podem se beneficiar disto são os advogados, que normalmente já participam da platéia, e outros bandidos, que poderão saber o que não fazer para não terminar atrás das grades de um presídio durante a ação criminal ou o que serve ou não como álibi.
Sabemos que o alimentador maior da criminalidade é a impunidade e nisso nossa é uma das melhores incubadoras que há. As chances de um criminoso ser eliminado por seus comparsas são infinitamente maiores do que de ser neutralizado pela ação conjunta das Polícias e do Judiciário.
Não é transformando julgamentos em entretenimento para as massas que a criminalidade será reduzida. O máximo que ocorrerá é que teremos advogados dando autógrafos e alguns bandidos terão fã-clube.
A criminalidade só baixará quando os órgãos públicos prevenção, combate e repressão estiverem funcionando efetivamente.
Não sou um pessimista convicto, mas fica difícil de acreditar que isso será breve.
segunda-feira, 5 de junho de 2006
Mais uma das bondades inexplicáveis
Ontem foi publicado na Folha o artigo de um certo Pedro Brito que descreve as maravilhas que a Ferrovia Transnordestina fará por nosso país. Segundo ele, o governo - por decisão do presidente Luiz Inácio Lula de Silva - a apoiará com o uso de ferramentas de financiamento para a iniciativa privada, que começa a execução da obra a partir de amanhã, 6 de julho.
Pedro Brito que vem a ser o ministro da Integração Nacional não explicou porque o presidente se envolveu na tomada de decisões sobre a concessão ou não de financiamentos a quem quer que seja, mas diz no artigo que a ferrovia permitirá que a região nordeste se desenvolva muito mais rápido, inclusive aproveitando potencialidades que os altos custos de transporte de hoje tornam inalcançáveis.
Muito bom. Então vem a pergunta: por que não a construiu antes?
Aceitando-se que são válidos os argumentos de Brito, e descontando-se argumentos em contrário como este , esta obra deveria ter sido realizada no início do atual governo.
Mecanismos há. Temos a lei de licitações e até a nova lei de parcerias público-privadas e o investimento estaria plenamente justificado.
Dinheiro era um empecilho ainda menor. Existem mais de 10 bilhões de reais da Cide – recursos carimbados- esperando para ser utilizados na otimização da nossa matriz de transportes; o que, salvo engano da minha parte, inclui a construção de uma maior malha ferroviária.
Qual teria sido o problema então?
Não sei responder, porém posso fazer algumas suposições.
Em primeiro lugar como causa provável colocaria a inapetência do atual governo em delegar funções à iniciativa privada. Sendo estatizante no seu cerne, ele deve ter visto o projeto ir e vir uma centena de vezes de um escaninho para o outro dos diversos órgãos da administração antes que se percebe-se a impossibilidade da criação de uma espécie de nova Rede Ferroviária Federal para a obra – para imaginar o tamanho da burocracia envolvida note que não foi o ministro dos transportes que escreveu o artigo.
Outra hipótese é que ela não seja assim tão prioritária para o governo Lula. Certamente não o era para o ministério hoje comandado por Brito até que a transposição do rio São Francisco desse com os burros n’água. Aquela sim era a bandeira do ministério, meta pessoal de Lula e esperança de muitos votos para o mesmo.
Há ainda a possibilidade de que o governo tenha percebido que a janela de oportunidade para fazer um oba-oba sobre o tema seja muito estreita e que, portanto, mais uma “promessa” deva ser inaugurada esta semana.
A copa está aí e durante a mesma nada que aconteça vai tirar a atenção do brasileiro dela (entendendo a copa como o período entre o primeiro jogo do Brasil e as explicações dos resultados, sejam estes negativos ou positivos) e depois de seu encerramento as regras eleitorais já estarão atuando para diminuir a visibilidade do governo na mídia.
Estas são as minhas hipóteses. Quem tiver uma explicação melhor, ou mais correta, que me passe. Estou louco para saber a resposta.
Para ler o texto do ministro Brito clique aqui se você for assinante Folha ou Uol.
Pedro Brito que vem a ser o ministro da Integração Nacional não explicou porque o presidente se envolveu na tomada de decisões sobre a concessão ou não de financiamentos a quem quer que seja, mas diz no artigo que a ferrovia permitirá que a região nordeste se desenvolva muito mais rápido, inclusive aproveitando potencialidades que os altos custos de transporte de hoje tornam inalcançáveis.
Muito bom. Então vem a pergunta: por que não a construiu antes?
Aceitando-se que são válidos os argumentos de Brito, e descontando-se argumentos em contrário como este , esta obra deveria ter sido realizada no início do atual governo.
Mecanismos há. Temos a lei de licitações e até a nova lei de parcerias público-privadas e o investimento estaria plenamente justificado.
Dinheiro era um empecilho ainda menor. Existem mais de 10 bilhões de reais da Cide – recursos carimbados- esperando para ser utilizados na otimização da nossa matriz de transportes; o que, salvo engano da minha parte, inclui a construção de uma maior malha ferroviária.
Qual teria sido o problema então?
Não sei responder, porém posso fazer algumas suposições.
Em primeiro lugar como causa provável colocaria a inapetência do atual governo em delegar funções à iniciativa privada. Sendo estatizante no seu cerne, ele deve ter visto o projeto ir e vir uma centena de vezes de um escaninho para o outro dos diversos órgãos da administração antes que se percebe-se a impossibilidade da criação de uma espécie de nova Rede Ferroviária Federal para a obra – para imaginar o tamanho da burocracia envolvida note que não foi o ministro dos transportes que escreveu o artigo.
Outra hipótese é que ela não seja assim tão prioritária para o governo Lula. Certamente não o era para o ministério hoje comandado por Brito até que a transposição do rio São Francisco desse com os burros n’água. Aquela sim era a bandeira do ministério, meta pessoal de Lula e esperança de muitos votos para o mesmo.
Há ainda a possibilidade de que o governo tenha percebido que a janela de oportunidade para fazer um oba-oba sobre o tema seja muito estreita e que, portanto, mais uma “promessa” deva ser inaugurada esta semana.
A copa está aí e durante a mesma nada que aconteça vai tirar a atenção do brasileiro dela (entendendo a copa como o período entre o primeiro jogo do Brasil e as explicações dos resultados, sejam estes negativos ou positivos) e depois de seu encerramento as regras eleitorais já estarão atuando para diminuir a visibilidade do governo na mídia.
Estas são as minhas hipóteses. Quem tiver uma explicação melhor, ou mais correta, que me passe. Estou louco para saber a resposta.
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sábado, 3 de junho de 2006
Para não falar mais besteira ainda
O blog não sofreu alteração nos últimos dias em virtude do meu estado febril.
Se são já escrevo um monte de baboseiras, com febre nem quero imaginar o que sairia.
Espero normalizar as postagens na próxima semana.
Se são já escrevo um monte de baboseiras, com febre nem quero imaginar o que sairia.
Espero normalizar as postagens na próxima semana.
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