Há uma coisa em que o Brasil é primeiro mundo, o futebol.
Esta idéia cansou de ser apresentada aos brasileiros nesta copa do mundo. Nada mais distante da verdade, ao menos no ver do técnico de nossa seleção (ou seria o head coach).
Para nosso comandante o primeiro mundo do futebol está sem dúvida alguma na Europa, e todas as concepções que temos sobre o modo de jogo por estas bandas não valem nada.
E daí se os brasileiros gostam de jogo bonito, se gostam de ver o time procurar o gol, se preferem que nossa seleção fazendo os adversários de bobo invés de ficar correndo atrás deles ou esperando que estes nos ataquem como fizeram os ganeses (tudo bem que a Globo os chamem de ganenses, deve estar certa, mas acho que ganês soa melhor). São todos uns bobos que não entendem nada de futebol mundial.
Como todos sabem, os livros mais avançados sobre futebol editados nos avançadíssimos Estados Unidos demonstram que o mais importante é defender, mesmo que os adversários estejam morrendo de medo do seu ataque estrelado e só queiram sair no contra-ataque. O gol é um mero detalhe, e a melhor vitória é a sofrida, nos pênaltis.
Tudo isso porque somos uma colônia, ou ao menos temos a mentalidade de uma.
Tudo que vem do estrangeiro tem uma qualidade que nunca poderemos alcançar, ou podemos, desde que os estrangeiros endossem.
Não seria por esta razão que Parreira se recusou a colocar Robinho como titular até que se armou uma operação de guerra para retirá-lo do Santos. E não seria por isso também que o Adriano (que foi considerado o novo fenômeno pela imprensa italiana, mas que eu defino como um grosso) é titular absoluto da seleção a mais de um ano, mesmo quando esteve amargando uma fase desgraçada na sua equipe.
Não sem razão o sonho de qualquer boleiro de 10 anos nas escolinhas e clubes país afora é se transferir para o exterior, nem que seja para a Índia, Vietnã ou Bulgária. Lá eles estarão mais próximos do primeiro mundo da bola.
Parreira é quem tem razão; se com cinco títulos de copa do mundo, o campeonato mais competitivo do mundo e uma nação de 180 milhões de pessoas apaixonadas pelo esporte não conseguimos fazer com que nossas crianças sonhem em fazer carreira nos nossos clubes, só podemos estar diante de uma colônia.
O primeiro passo para ser primeiro mundo é acreditar que é, se nem onde somos “benchmark” (eu sempre imaginei que ainda usaria esta palavra e como bom colonizado fiz, se bem que desconfio que escrevi errado) e exportadores de mão-de-obra qualificada e mesmo de marcas nos sentimos por cima da carne-seca.
O problema é que posso estar olhando pelo lado errado. Não estamos exportando mão-de-obra qualificada e sim matéria-prima de primeira qualidade para ser manufaturada e transformada em espetáculo na metrópole, ou metrópoles.
Como sempre, aliás.
Um comentário:
Grande Gian!
Benchmark está correto. E seu ângulo está também correto. Penso que seria mais vantajoso exportar craques e também camisetas pois esta parece ser a moeda corrente dos times europeus. Mas aí a vantagem econômica pode também ser ameaçada pois é sabido que o merchandising é fabricado em países com mão de obra quase escrava e e por empresas multinacionais.
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