segunda-feira, 3 de julho de 2006

Deformação de opinião

Se há um comentarista econômico que eu não recomendo, este é Alberto Tamer.
Ontem, comentando sobre a filantropia institucionalizada que existe nos Estados Unidos, foi publicado um texto dele no Estadão que continha o seguinte fragmento:
Com a doação de 85% de sua fortuna – 44 bilhões – para o fundo criado e gerido por Bill e Melinda Gates , Warren Buffett, 75 anos, supersaudável, criador e presidente da Wal-Mart, transformou-se no maior filantropo mundial. Melinda disse que ele nada mais estava fazendo do que devolver para os pobres, os miseráveis, os desnutridos e menos favorecidos, uma parte do que a sociedade lhe havia dado. Eles doaram 31% do P.I.B. brasileiro”.
Como pode alguém escrever tamanho despautério em tão pouco espaço.
Como podemos confiar em um articulista que retira todo o mérito do falecido Sam Walton, este sim fundador da rede Wal-Mart, e ainda reduz drasticamente o P.I.B. brasileiro.
Pois deve ter havido um espetáculo de empobrecimento da nação. Sendo o patrimônio da Fundação Bill e Melinda Gates por volta de 70 bilhões de dólares – cuja soma não foi toda doada pela trinca Bill, Melinda e Warren (que imagino são os “eles” citados no texto) – percebe-se que Tamer estima que a nossa riqueza é de, no máximo, 200 bilhões anuais.
Nunca vi nada menor do que 500 bilhões para o nosso P.I.B., por mais pessimista que seja a forma de arredondamento para baixo das projeções. Inclusive acaba de ser lançado uma projeção para ele que nos coloca entre os 15 maiores do mundo.
É o verdadeiro espetáculo do encolhimento.
Mas é claro que não é apenas por estes pequenos erros de informação que Tamer está na minha lista de não recomendáveis.
Erros acontecem e confundir alhos com bugalhos ou fulanos com cicranos demonstra apenas que o autor não deu a devida importância para ao dado (no mais apenas uma curiosidade em importância para o entendimento do tema), só que no engano a respeito do tamanho da economia brasileira aparece um fator importante.
De tudo que li escrito por Alberto Tamer até hoje, não me recordo de ter concordado com nada. Até aí tudo normal, afinal eu discordo mesmo, porém começo a desconfiar que não é apenas rabugice da minha parte.
Se ele não conhece um dado tão primário de seu objeto de análise, como confiar no que diz este especialista?
Se este é o nível da cobertura econômica a que estamos sujeitos no Brasil não me admira que a população ache normal que nosso governo pague taxas de juros reais de mais de 10% anuais ou até que não saiba disso.

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