quinta-feira, 6 de julho de 2006

Há males que vem para o bem

Não sou um entusiasta do endividamento a que boa parte da população brasileira está se submetendo, mas algo de bom pode vir daí.
E não digo que é o consumo que fortalece o comércio e sim o aumento do número de endividados e o conseqüente acréscimo de votantes nesta situação.
Isto pode fazer com que o maior problema de curto prazo do país atualmente venha a ser combatido com firmeza.
Este problema é a taxa de juros com que convivemos.
Não há nenhuma razão prática para que um país superavitário (primariamente) pague as maiores taxas de juros reais do mundo.
A desculpa esfarrapada que os defensores desta política pública é a de que é necessário conter o ímpeto gastador dos brasileiros - que só existe na cabeça de alguns economistas teóricos. Os investimentos estão muito baixos aqui e o consumo das famílias de um modo geral se resume ao essencial, para o que o preço do dinheiro acaba sendo pouco importante nas decisões de consumo.
Mesmo que houvesse este ímpeto; desconfio que a estratégia não funcionaria, tanto as pessoas físicas quanto as jurídicas são muito pouco endividadas no país.
Mas mesmo não cumprindo a sua função teórica, a taxa de juros ameaça a economia alimentando a inflação futura e deteriorando as contas públicas.
A inflação é alimentada pela falta de investimentos, o que faz com que a oferta futura de bens e serviços não acompanhe a demanda e criando pressão sobre os preços.
As contas públicas são atingidas pela diferença entre o dinheiro economizado primariamente e os juros pagos pela amortização da dívida, invariavelmente negativa.
Só que estas conseqüências não despertam a ira das massas que serão prejudicadas no futuro – que nem se dão conta do problema – e como os beneficiários do presente são muito poderosos (vide o lucro dos bancos e dos investidores financeiros) ninguém ataca o problema de frente.
Cada endividado a mais é um defensor em potencial da queda da taxa Selic, que funciona como uma espécie de piso para os demais, e eles estão entrando na ciranda financeira aos milhares; pelas portas do crédito consignado, dos cartões de crédito e das financeiras.
Se devemos atacar um problema de cada vez, este é um que merece estar entre os primeiros a ser enfrentado. Só espero que poucos percam seus bens no processo.
O país já está perdendo, e não é de hoje.

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