Diz-se por aí que o país está passando por um processo de desindustrialização; que seria a diminuição do peso da indústria manufatureira na economia do país.
Vamos aceitar que ela está ocorrendo, o que de fato não tenho elementos para confirmar ou negar (apesar de eu acredito que não esteja, pelo menos em níveis absolutos); carece de perguntar, e daí? O que perdemos ou ganhamos com isso?
E resposta das pessoas que ficam nos dizendo que isto está ocorrendo é que isso é ruim; escandalosamente ruim, contra os interesses nacionais.
Que transfere empregos de alta qualidade e melhor remunerados para outros países, enquanto temos que nos contentar com os maus empregos fornecidos pelos setores primários e terciários da economia.
Isto envolve uma série de preconceitos por parte de quem diz isso.
O primeiro é que o setor manufatureiro (ou segundo setor, de transformação) é mais nobre do que os demais.
Isto não é verdade, nem absoluta nem relativa. Todos os setores são igualmente necessários e nobres; pois igualmente servem para a mesma função, cobrir as necessidades humanas.
Sendo assim, os empregos de um setor não são necessariamente melhores do que os de outro. Nem na condição de trabalho e nem na remuneração oferecida.
Na verdade, os empregos mais valorizados e bem pagos costumam ser no terceiro setor; e mesmo quando nos demais setores, em atividades que se aproximam das características deste.
Portanto a qualidade dos empregos não é uma boa explicação para se lamentar uma possível desindustrialização.
Tampouco o é a transferência absoluta de empregos. Primeiro porque não está ocorrendo um comércio de uma única via nos itens manufaturados. Tanto as importações quanto as importações estão crescendo e as possíveis demissões provocados por uma podem ser compensadas pela outra.
E o segundo fato é que de modo geral as empresas estão transferindo suas plantas industriais dentro do Brasil e não para outros países.
A verdade é que os defensores de que o Brasil está vivendo uma crise de desindustrialização e de que é preciso fazer algo para impedi-la são lobistas, muitos involuntariamente, das empresas ineficientes que querem alguma compensação financeira para manter-se no mercado; ou seja, eles querem tornar más empresas economicamente viáveis com o dinheiro alheio – no caso dos contribuintes. Socializar o prejuízo, como é o costume por aqui.
Usar recursos públicos para defender empregos industriais em fábricas ineficientes não é mais produtivo para o país do que aplicá-los na defesa de ineficientes estabelecimentos rurais. Por que privilegiar um em detrimento de outros?
Não há dúvidas que precisamos de políticas que auxiliem a criação de empregos e que reforcem os que já existem, mas não é perpetuando estes artificialmente que faremos um Brasil melhor no futuro.
Temos que empregar os recursos do modo mais eficiente possível. E isto inclui debelar as ineficiências.
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