sexta-feira, 7 de julho de 2006

Há males que vêm para o bem – parte 2

Provavelmente ainda deve estar fresco na sua memória o discurso que o excelentíssimo Lula proferiu sobre como é bom fazer política para pobre (aquele que não tem dinheiro para fazer passeata - ou carreata ou ‘tratoreata’- em Brasília; a não ser que o governo os leve para lá, direta ou indiretamente, como fez com os arruaceiros que invadiram o Congresso).
Pois isto pode estar mudando muito rapidamente devido ao processo de empobrecimento da classe média brasileira.
Ela havia abandonado todos os serviços públicos passíveis de substituição por correspondentes privados (como a educação e a saúde) e está retornando, sufocada pela bitrubutação.
Bitributação é como chamo o fenômeno de o Estado cobrar impostos e não oferecer serviços de qualidade, que são substituídos pela iniciativa privada; tendo o usuário que pagar duas vezes pelo serviço. Deve haver um nome mais preciso, mas como não o conheço vou usando este mesmo.
Voltando ao assunto: a pressão política que antes fazia com que estes serviços equivalentes tenham leis especiais que beneficiam os usuários – como exemplo, neles há a possibilidade de que os inadimplentes obtenham a continuação de prestação de serviços enquanto nos demais se não pagar não leva nada – se deslocará para o ponto certo; o de cobrar serviços públicos de qualidade, compatíveis com a carga de impostos à qual a sociedade é submetida, que sejam distribuídos de maneira universal e uniforme pelo país.
A força desta pressão já começa a ser sentida. Está desaparecendo o velho discurso de construir sempre mais e aparecendo o de manter melhor o que já está construído.
Inclusive a grande novidade é que a educação é a vedete do momento na boca dos presidenciáveis.
Mantido o viés democrático no país, a qualidade dos serviços públicos deve melhorar a partir de agora. Está será uma melhora lenta e desigual – principalmente porque a formação de capital humano é cara e demorada – mas inexorável.
O Brasil já teve inúmeras chances de fazer esta transição de um Estado para poucas para um que contemple as massas, abortou todas. Este é um momento-chave e devemos aproveitá-lo; não nos deixemos cair na tentação de virar as costas à política somente porque nossos representantes atuais não vêm demonstrando estar à altura dos desafios à nossa evolução social.
Isto já aconteceu antes e agora temos muitas pontes, usinas e estradas; e uma sociedade fraturada.

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