Começou, e logo foi interrompido, o julgamento do assassinato do casal Von Richtofen. Se bem que poderíamos chamar de circo.
Foi bem assim que foi tratado o caso desde o princípio.
Em uma cidade que registra índices de homicídios de guerra civil, o assassinato de um casal de ricos foi veiculado como algo inconcebível e com um alcance de mídia totalmente desproporcional se comparado à cobertura que os demais assassinatos – inclusive chacinas – recebe.
A comoção aumentou quando se descobriu a identidade dos criminosos. A filha do casal, o namorado desta e o irmão deste. Foi a chave para que a imprensa fizesse a festa.
Principalmente pela personagem principal da trama. Rica, bonita, culta, (aparentemente) perversa –no sentido psicológico da coisa – e burra.
Tanto fez a imprensa que a transformou em uma celebridade. E com uma celebridade envolvida, o caso deixou de ser apenas mais um de violência extrema em família para ser um evento jurídico.
As indas e vindas dos réus por tribunais e presídios foram acompanhadas ao vivo. A ré teve direito de falar em horário nobre da emissora número 1, e para o próprio azar falou demais.
Pois as tevês pretendem encerrar esta cobertura magistralmente. Houve quem pensou em transmitir o julgamento ao vivo, idéia que foi abortada por decisão de tribunal superior, e justificava a pretensão apontando para os Estados Unidos e dizendo que lá há canais dedicados unicamente a isto.
Disseram até que seria muito educativo para a população e poderia coibir a violência, ainda mais por ser um divisor de águas no direito criminal nacional.
Oras, tenham dó. Este não foi o primeiro e não será o último homicídio julgado no Brasil. E certamente está longe de ser o mais complexo.
Se há ineditismo no caso foi a forma como a polícia o solucionou. Rapidamente e com provas claras contra os réus; que terminaram por confessar, e sem tortura, a participação no caso.
E o pior que são louros que nem podem ser exibidos, pois apenas amplifica o descaso com o qual é tratada a investigação criminal no país. Menos de 10% dos delitos registrados são resolvidos.
E quanto a dizer que a transmissão de julgamentos é educativa; só pode ser piada, e de mau-gosto.
Os únicos que podem se beneficiar disto são os advogados, que normalmente já participam da platéia, e outros bandidos, que poderão saber o que não fazer para não terminar atrás das grades de um presídio durante a ação criminal ou o que serve ou não como álibi.
Sabemos que o alimentador maior da criminalidade é a impunidade e nisso nossa é uma das melhores incubadoras que há. As chances de um criminoso ser eliminado por seus comparsas são infinitamente maiores do que de ser neutralizado pela ação conjunta das Polícias e do Judiciário.
Não é transformando julgamentos em entretenimento para as massas que a criminalidade será reduzida. O máximo que ocorrerá é que teremos advogados dando autógrafos e alguns bandidos terão fã-clube.
A criminalidade só baixará quando os órgãos públicos prevenção, combate e repressão estiverem funcionando efetivamente.
Não sou um pessimista convicto, mas fica difícil de acreditar que isso será breve.
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