terça-feira, 23 de junho de 2009

Responsáveis pela Crise


Chega a ser disparatada a campanha para responsabilizar o capitalismo pela crise que hora enfrentamos no mundo.
Capitalismo, aliás, é classificado em meu velho dicionário de economia como o sistema em que há "separação entre os trabalhadores juridicamente livres, que dispõem apenas da força de trabalho e a vendem em troca de salários, e capitalistas, que são proprietários dos meios de produção, e contratam os trabalhadores para produzir mercadorias (bem dirigidos para o mercado) visando a obtenção de lucros".
A crise não é, assim, de responsabilidade do capitalismo - mesmo porque não é possível que um sistema seja culpado por nada, as decisões são tomadas por pessoas em cargos chaves, cujos resultados influenciam-se mutuamente - embora muitos considerem que ele seja inerentemente propenso a episódios do tipo, mas foi amplificada por suas qualidades, tanto as negativas quanto as positivas.
Existindo indivíduos por trás das decisões, somos levados a conclusão que as consequências, portanto, têm seus culpados, sim. Mas, certamente, eles não são "o sistema"; são figuras de carne e osso instaladas em posições chaves.
Há múltiplas personalidades, entidades ou grupos com parcelas menores ou maiores de responsabilidade, mas, é claro, estes querem se livrar da peja. Transferem-na a outros ou, quando isso não é possível, coletivizam-na. Como escrevi recentemente, não há melhor estratagema para eximir-se das responsabilidades do que as diluir em um grande contingente de pessoas.
A comunidade especializada já repercutiu uma série de idéias sobre as razões que formaram as bolhas sucessivas que estouraram nas duas últimas décadas, chamadas respectivamente de crises da Ásia, das ponto.coms, das commodities (incluindo aumento muito grande dos preços da energia, que alguns disseram ter uma dinâmica própria e apelidaram de 3ª crise do petróleo), do subprime e, finalmente, grande financeira, a atual. O que todas tiveram em comum foi um incremento no nível de liquidez dos mercados de capital e a facilidade de transferência de recursos de uma aplicação para outra.
A procura pelos culpados deveria se concentrar, então, nestes dois fatores. O segundo, facilidade de mobilização dos recursos, é, na verdade, apontado com grande vilão mundial por uma grande quantidade de economistas, principalmente os ligados a governos despóticos. O controle de fluxos financeiros dá, a quem os possui, um poder discricionário bastante acentuado. Não por outra razão que os neoditadores, como Hugo Chávez, controlam o câmbio assim que assumem as rédeas de um governo. Esse controle, entretanto, não impede que as consequências das crises cheguem a esses países, o que o inocenta automaticamente.
O excesso de liquidez é o culpado então. Mas de onde surge esse facínora? Qual recurso excedente no mundo que está liberando dinheiro antes utilizado? A resposta é trabalho barato chinês. Expropriado pelos governantes e transformado em títulos do Tesouro dos Estados Unidos da América e daí redistribuído para as diversas modalidades financeiros através dos gastos dos cidadãos e governos desse país.
A raiz da crise não está, então, nem no capitalismo e nem nos capitalistas; está na manipulação de uma massa de trabalhadores por um governo despótico autodenominado comunista. É preciso desenhar para que os defensores do Estado forte percebam a barca furada na qual estão embarcando?

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