segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Um tal de Zakaria

Nas páginas da Época desta semana estreou com pompa o editor da revista norte-americana Neewsweek Fareed Zakaria.
Em seu primeiro artigo tenta demonstrar que a Europa está fadada ao desastre; entre outros motivos por não conseguir aumentar seu P.I.B. per capita ou atrair tantos imigrantes quanto os Estados Unidos da América.
Não concordo com os argumentos do articulista, mas isso não vem ao caso. O ponto aqui é que ele representa uma visão que está majoritária no mundo e que liga automaticamente tamanho do P.I.B., qualidade de vida e desenvolvimento social.
Nas páginas da mesma revista há uma matéria, sobre a Índia, e uma entrevista, com o economista suíço Stéphane Garelli, que enveredam pelo mesmo pensamento.
É essa corrente de pensamento que aponta os países do Bric (conjunto de países formado Brasil, Índia, Rússia e China) como os que devem ser acompanhados por terem potencial para virem a ser os grandes P.I.B.s do futuro próximo. É ela também que diz que o Brasil está jogando o seu futuro fora por não conseguir um crescimento comparável com o dos demais da sigla.
Esta visão norte-americana de mundo, apesar de generalizada entre nós, não deveria ser a seguida por nossa população ou incentivada por nossos meios de comunicação.
Ela assume que o resultado final é o enriquecimento em termos absolutos, mais dinheiro no banco – preferencialmente dólares -, e exclui da equação o processo pelo qual é conseguido.
Portanto o dólar da venda de barris de petróleo que enriquece xeiques árabes teria o mesmo impacto social daquele que paga ingresso no Scala de Milão, o dinheiro pago a uma família pela exploração do trabalho de suas crianças seria tão bom ao país quanto o pago para manter as mesmas crianças na escola. Sabemos que não o primeiro não tem e o segundo não é.
Ter acessos às benesses do consumo é bom. Enriquecer é melhor ainda. Mas centrar nossos esforços em buscar unicamente o crescimento do nosso P.I.B. não nos transformará em um país melhor.
Será o contrário, na verdade. Ao nos tornarmos uma sociedade melhor e mais justa nosso P.I.B. crescerá, por inclusão automática de consumidores.
Agora, se o fim é um Produto Interno Bruto maior, sugiro a Zakaria e outros admiradores de números que se mudem para a China, e se extasiem com a visão de seus sonhos em progresso.

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