sexta-feira, 2 de março de 2007

Juros

Quando comentam a ligação dos juros altos com a falta de investimentos não-financeiros, os analistas geralmente ligam esta a falta de linhas de crédito barato.
Não acho que resida aí o problema, mesmo porque elas existem.
O fator principal para a falta de investimento não-financeiro ao meu ver é que os investimentos financeiros, puxados pelo piso da taxa Selic, rendem mais e de maneira mais segura do que os demais.
Tomemos como exemplo um sujeito com 100 mil para aplicar e que pode optar entre emprestar para o governo a juros e comprar um apartamento. Supondo que o indivíduo esteja precisando de uma residência.
Supondo que escolha a compra, deverá separar no mínimo 10% para os custos de corretagem e transferência da escritura; ou seja, só poderá comprar um apartamento com valor máximo de 90 mil.
Depois de ficar dono, ganharia uma desvalorização de, digamos, 5% ao ano pela depreciação do capital. E se fosse previdente, faria um seguro contra sinistros pagando algo como 0,5% do valor do seu lar.
Ao final de um ano teria um apartamento no valor de 85,500 reais e teria gastado 450 em seguro.
Se optasse pelo empréstimo ao governo teria ao final de um ano 113250 reais, que descontada a depreciação da inflação, valeriam algo como 109 mil.
Contando-se que o sujeito tivesse alugado um imóvel semelhante ao que compraria, pagando a média de 0,5% de aluguel (450 reais), arcaria com um total de 9,9 mil, ficando no final com pouca coisa menos do que o poder de compra inicial.
Eu sei que um economista ou contador pode afirmar que estas contas que fiz são toscas, imprecisas e cobrem uma situação muito específica. É verdade, mas o quadro geral não é muito diferente.
Qualquer um que invista em algo não-financeiro no Brasil ou é dotado de uma fé imensa no negócio que está fazendo, ou está tentando se manter no negócio para evitar perdas maiores ou é insano.
Como insanos são poucos e está difícil ter fé em algo no Brasil, o investimento produtivo é praticamente todo em reposição.
Não é assim que caminha a humanidade, mas aqui – onde se plantando tudo dá – é assim que fazemos.
E viva o povo brasileiro.

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