quinta-feira, 30 de junho de 2005

Invencionices

Após o jogo de ontem, que foi uma vitória maravilhosa, soa até anti-patriótico que eu diga aqui que a seleção brasileira e o seu técnico não são perfeitos. Então vou pegar leve, mas ...
Houve uma época que gostava de jogar bola. Isto foi antes de ser apresentado à função tática.
Houve um tempo em que era divertido ver a seleção jogar. Isto foi antes desta ser dirigida por Carlos Alberto Parreira.
Tática e Parreira são quase sinônimos para uma boa parcela dos comentaristas esportivos nacionais. Acho que está aí o problema. Ambos me tiraram o prazer do futebol e, na personificação da tática, Parreira sofre com o ônus de ser o rei da tática. E precisa provar-nos, e provar-se, essa realeza a todo o instante.
A tática passou a ser encarada neste país como um outro nome para covardia. O defender-se antes e, quem sabe, fazer um golzinho e levar o resultado para casa. Ou não seria o gol um mero detalhe? Neste sentido, espera-se de Parreira que ele seja um retranqueiro, pois é tático, ao invés do ofensivo Luxemburgo, motivador.
É também vista, a tática, como algo rígido, com os jogadores se comportando como botões no jogo. E o técnico leva a culpa e a fama por tudo que acontece nas partidas.
E mais, como todo técnico tem que impor sua parcela de inovação. Parreira aparece com Zé Roberto.
Fica sobre a cabeça de Parreira sempre a espada do carrasco que a todos os “selecionadores” persegue, e mais ainda os “táticos”: o descrédito.
Para escapar da espada, ele necessita não apenas vencer, precisa fazê-lo a sua maneira. Não bastará ser campeão mundial, isto só será válido se conseguir o caneco com o Zé Roberto de volante.
Já desejei Zé Roberto na seleção. Isso foi na época em que ele e Zé Maria, cada um uma lateral da Portuguesa, eram responsáveis por pesadelos nas defesas e técnicos adversários na noite anterior aos jogos.
Toleraria o mesmo como meia ofensivo - nesta posição foi o melhor jogador do campeonato alemão durante algumas temporadas; o que não prova muito, é verdade, já que o campeonato alemão não é esta força toda – só que de volante não dá, é invencionice.
O Zé Roberto pode até cumprir a função, mas fica no meio termo, nem é um volante para auxiliar a defesa nem um meia para apoiar o ataque.
Essas invencionices subvertem um pouco a função do técnico de seleções. A invenção deveria ser feita por técnicos de clubes, aqueles que têm parcos recursos humanos, nos quais em certos momentos se tem dois meias e nenhum lateral, por exemplo.
Na seleção, o técnico pode pinçar jogadores das mais variadas “tendências”. Há o técnico, o raçudo, o indisciplinado, o craque, etc... pra que inventar?
Já sei, esta coluna está inconstante, meio sem pé nem cabeça. A seleção também está assim, espero que em um ano, a coluna esteja azeitada, assim como nosso time.

terça-feira, 28 de junho de 2005

Escorrendo pelos dedos

Em continuação ao texto anterior, tentarei explicar as razões pelas quais, na minha opinião, como areia, a o controle do processo de globalização está escorrendo por entre os dedos dos países ricos.
Este controle corre riscos, primeiramente, por razões demográficas. A população dos países ricos é de aproximadamente um sétimo da população global, com tendência decrescente de importância, e a medida que vão se acrescentando mais elos nas correntes de cada agente de globalização (empresas, organismos internacionais, etc) mais os interesses de outrem devem ser avaliados.
Com peso demográfico crescente, e também todos os ônus e bônus que isto traz, os países pobres aumentam sua importância tanto como consumidores como produtores, deslocando outros como mercado e ganhando espaço nos aclamados corações e mentes de quem decide realmente, os dirigentes corporativos.
Outro fator é o de custos. Os padrões exigidos das empresas nos países de primeiro mundo: ambientais, salariais e quaisquer outros ais que possamos procurar; tornam a produção muito mais barata em outras localidades. Apesar destes custos tenderem a se equiparar com o passar do tempo, tanto por pressões internas quanto internas, a simples existência destas diferenças provoca um aumento de importância dos países detentores de custos menores. Tanto econômica quanto política.
Um outro fator, e talvez o mais importante e incompreendido deles, é que a globalização acaba com velhas estruturas clientelistas entre países, e não os reforça – como costumam dizer os partidos de esquerda -, em alguns casos invertendo as relações de dependência que ocorrem a séculos.
Países de renda aumentada pela globalização (os imensos exemplos são Índia e China) tornam-se concorrentes dos países de primeiro mundo pelas reservas naturais Terra afora. Isto fortalece os exportadores líquidos de produtos primários (países da Opep, Brasil, entre outros) e enfraquece os importadores (adivinhe quem).
Apesar de ainda terem meios de contra-atacar, principalmente diminuindo a demanda pelos mesmos, os países de primeiro mundo vêem sua influência se esvair. Pelo menos por algum tempo não poderão ser os clientes cheios de razão.
Estes fatores acabarão por gerar mudanças radicais na geopolítica mundial, cabe a cada governante se adiantar a elas e tentar prosperar nelas.
Quanto aos nossos, creio que estão no caminho correto. Estão ao menos lendo, aparentemente, o quadro conjuntural da mesma maneira que eu. Se estamos certos? O futuro irá mostrar, mas a diversificação de mercados, diminuindo o peso dos países ricos, em nada nos atrapalhou até agora.

segunda-feira, 27 de junho de 2005

Preservem meus calos

A globalização foi evoluindo aos poucos, desde a II Segunda Guerra Mundial (momento em ela esteve em seu mais baixo nível na história) e muito lentamente, mas nos encontramos agora em um ponto muito importante da jornada.
Ela está afetando a uma parcela significativa, e sensível, das pessoas do mundo.
Talvez pela primeira vez na história, até as massas trabalhadoras perceberam que estão interligadas e que as conexões são mais fortes do que elas desejariam, para o bem e para o mal.
Não estou falando de discussões pontuais, como foi o medo dos peões de fábrica norte-americanos de perder seus empregos para um japonês a cerca de 20 anos. Agora é algo muito mais sistêmico.
Isto pode representar um grande risco para a globalização.
O certo é que, até o momento, os grandes vencedores do processo de globalização foram as populações dos países do dito primeiro mundo. Não por acaso, foram estes países que desenvolveram todo o arcabouço legal e comandaram todo o processo.
Só que do modo como as coisas estão se encaminhando, vai ser-lhes arrancado das mãos o controle proximamente. E eles ameaçam com retrocessos.
Os fatores que estão fazendo pender a balança do poder da globalização serão, por falta de espaço neste texto, apresentadas na coluna de amanhã, mas os que poderiam ser responsáveis pelo estancamento do processo globalizante estão relacionados a percepção do mesmo pelos eleitores dos ricos países democráticos.
Como foi dito à repórter Patrícia Campos Mello pelo pesquisador Jean-Pierre Lehmann em reportagem veiculada ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo, “Hoje, o europeu tem três pesadelos: perder o emprego para o encanador polonês, para o operário chinês ou para o criador de frango brasileiro”. Estes são também, com uma ou outra diferença na profissão ou no adjetivo pátrio, os pesadelos dos norte-americanos e japoneses.
Na mesma edição há um texto de Gilles Lapouge discutindo a PAC (Política agrícola comum) européia, que distorce totalmente o mercado agrícola mundial, dando, a título de exemplo, três dólares diários de subsídio para cada vaca francesa. Esta PAC, mais dia menos dia, terá que ser revogada, expondo os agricultores europeus a concorrência de outros nações com custos menores, como terão que ser revogados também os equivalentes norte-americanos e japoneses.
Coisas que os eleitores destes países não querem fazer.
A lógica então é: após dançar durante seis décadas a música da globalização, os países que mais se beneficiaram do baile pressionam pelo encerramento da festa agora que alguns novos dançarinos que acabaram de chegar, menos experientes e que podem responder por alguns pisões nos pés delicados - e também nos calos escondidos - daqueles.
Medidas demagógicas que em nada beneficiariam o mundo, porém agradariam em cheio os já citados eleitores, estão agora esperando por assinaturas nos países “civilizados”. Num contexto de civilização que significa, se eu me dou bem, a danação para o resto.

sexta-feira, 24 de junho de 2005

Desenvolvimento: que bicho é este?

Tornar-se um país desenvolvido é o que move o Brasil. Todos nós queremos que sejamos desenvolvidos. Só que há uma questão: o que é um país desenvolvido?
Pergunte ao seu vizinho o que é um país desenvolvido. Provavelmente a resposta será variação a respeito da riqueza. Apontar-se-ão muitos países como exemplo de desenvolvimento e o critério mais apontado será provavelmente o de renda per capita.
Só que este não é um indicador de desenvolvimento, apesar de haver uma imensa correlação. Tomando emprestado da biologia os significados: desenvolvimento é a mudança estrutural que muda a função que certo elemento exerce enquanto que crescimento é simplesmente o aumento das dimensões. Definições estas que perante o senso comum são sinônimos perfeitos.
Países com alta renda per capita tiveram no passado um grande crescimento econômico, não necessariamente desenvolvimento. Este seria uma mudança da predominância dos setores da economia perante o total do PIB de cada país. Do primário (extrativismo e agricultura) para o terciário (comércio e serviços).
Desta forma, o Brasil não é na realidade um país subdesenvolvido e sim um país pobre. Barbados e Emirados Árabes Unidos estariam entre os mais desenvolvidos do mundo, apesar de nunca serem colocados nesta lista, enquanto os nórdicos Finlândia e Noruega seriam menos desenvolvidos por retirarem uma grande fatia do seu PIB através do extrativismo, e eles são constantemente apontados como exemplos a serem seguidos.
A verdade é que o Brasil é um país extremamente desigual, em todos os quesitos. Existem bolsões desenvolvidos e áreas onde se pratica o extrativismo mais arcaico. Do ponto de vista de renda, há a Daslu e as favelas. Nossa economia é muito baseada em serviços e comércio, se pegarmos a foto panorâmica, porém está a neste momento passando por um processo de diminuição da importância destes setores no PIB.
O crescimento dos setores agropecuário e industrial poderia ser encarado como um processo de reversão de desenvolvimento, mas está sendo encarado como uma vitória.
É justo que queiramos um país mais desenvolvido, uma vez que, de um modo geral, podemos dizer que os que já o são têm taxas de bem-estar social melhores, porém não nos iludamos que teremos assim um país mais justo.
Justiças social e econômica não se alcançam automaticamente à medida que trafegamos na estrada do desenvolvimento. Tenho cá pra mim que é justamente o contrário, a justiça social traz mais demanda por serviços e ao conseqüente desenvolvimento.

quarta-feira, 22 de junho de 2005

Pois é

No maior país da América do Sul, nós temos um presidente da ética, que tudo faz para mantê-la e que não rouba ou deixa roubar.
No segundo maior país da América do Norte, nós temos um presidente que é o campeão da segurança mundial, combatente do terrorismo e grande artífice de uma nova ordem de paz e prosperidade, sem esta “irrelevante” Organização das Nações Unidas.
Não sei dizer qual é o maioral, primeiro porque são cruzadas diferentes e o do segundo tem uma escala maior para atuar, mas tenho um palpite: Bush é o maioral da incompetência.
Enquanto não há prova nenhuma de que o a ética do Planalto Central tenha decaído, apenas indícios, é mais do que documentado que a atividade terrorista mundo afora tornou-se muito mais fervilhante após a posse do nosso amigo do norte.
Claro, daremos o desconto para o marco zero do Presidente da guerra. Ele ainda não era preocupado com a segurança do “mundo” antes dos atentados de 11 setembro de 2001, sua cruzada era para cortar impostos. Mas desde aquela data, tudo para o qual se comprometeu deu errado.
Se propôs a prender aquele que consideraram o maior responsável pela série de atentados, Osama bin Laden, e para tanto não se furtou a mandar invadir o Afeganistão e mudar-lhe o regime político – o que até que não foi uma má idéia para um grande contingente de afegãos-, só que até onde se sabe bin Laden permanece livre, leve e solto.
Depois de feito o estrago no Afeganistão, e sem a cabeça de bin Laden, mudou-se o objetivo da empreitada; para a mudança do regime “terrorista” talebã para um outro mais “democrático”. E gostou-se tanto da idéia que Bush resolveu mudar um outro regime incomodo, o iraquiano.
Qual foi o resultado? Ontem a CIA soltou um comunicado dizendo que o território iraquiano tornou-se um centro de treinamento de terroristas. A instituição também vem relatando que, com o avanço da sofisticação dos insurgentes, corre-se o risco de que o possível fim da guerra seja um cenário ainda pior; com terroristas bem treinados nas artes do combate e de fabricação de bombas espalhados pelo mundo.
Em resumo, é outro presidente que pega um limão e planta um limoeiro.
Quem será o cruzado mais incompetente do momento? Tenho meu palpite, qual é o seu? Será o rei das bravatas do sul ou o príncipe das gafes do norte?

terça-feira, 21 de junho de 2005

Desmotivação?

O que você faria se um profissional que está em sua folha de pagamento lhe dissesse que não presta um bom serviço simplesmente por que está desmotivado?
E se este profissional fosse de um setor do qual depende o funcionamento de toda a sua empresa?
Mas do que isso, ele fosse parte do quadro das chamadas funções-fim, a razão de ser da sua empresa?
A maioria das pessoas diria que estes funcionários seriam demitidos imediatamente. Certo?
É, mas eles existem aos montes na sua folha de pagamento, são funcionários públicos. Comecemos do princípio. Qualquer um pode ficar desmotivado, vez ou outra, mas categorias?
Eles podem alegar que trabalham muito, que ganham pouco, que não são reconhecidos; alguns até que com muita razão, mas será que estes são motivos suficientes para prestar um mau serviço?
Os fatos são que apesar de tudo isto, os funcionários públicos ainda estão em situação média muito melhor do que a média dos funcionários da iniciativa privada.
Tomando o exemplo paulista, enquanto a renda média dos empregados da iniciativa privada é de cerca de mil reais, entre o funcionalismo público ela é de cerca de três vezes isso, e ainda há a estabilidade, que torna a incompetência um motivo muito brando para demissão.
Não é por outra razão que as greves entre estes servidores é tão impopular. É mais do que irônico, quase tragicômico, que os mesmo funcionários que estão parados a tanto tempo e deixando de prestar serviços aos segurados do INSS queiram reajustes que em valores brutos são maiores do que as pensões da grande maioria dos segurados. Como fazer com a grande massa aceite isto como justo?
A verdade é que a renda média de que nós, brasileiros, dispomos é ridícula, para ser brando. Mas não há como fazer com este valor deixe de ser ridículo apenas para os servidores públicos. Como em tudo, no serviço público há uma profusão de gargalos de eficiência. Fará muito mais para os seus futuros reajustes, o funcionário que comece a restringir estes gargalos. Alegar apenas que precisa de reajuste, pois não os recebeu como queria, apesar de perfeitamente coerente, não fará com que as sobras orçamentárias necessárias para os reajustes apareçam. Deixar de prestar os serviços essenciais para a população, que é na última instância quem assina o cheque, também não.
Só quando esta desculpa esfarrapada de desmotivação deixar de existir eles terão chances reais de verem seus pleitos atendidos. Quando o profissionalismo passar a ser enxergado como uma virtude do funcionalismo público e a população se sentir bem servida, e bom uso do dinheiro for uma marca de cada repartição, a simples menção de interrupção destes serviços fará com que os contribuintes apóiem as demandas do servidor.
Enquanto este for visto como um privilegiado que não trabalha como deveria, quando trabalha, poderá haver greves intermináveis. De nada adiantará. Só tornará a causa mais impopular.

segunda-feira, 20 de junho de 2005

Doença holandesa

Está sendo brandida uma nova ameaça por aqueles que querem um câmbio rígido e controlado: a doença holandesa.
Esta consiste da supervalorização da moeda local, devido a uma predominância avassaladora das exportações sobre as importações, em decorrência de super-oferta de recursos naturais; levaria a desindustrialização pelo encarecimento relativo dos produtos nacionais em relação aos possíveis produtos industrializados de outros países. Tem este nome porque foi verificada primeiramente naquele país, com o “boom” exportador provocado pela descoberta e exploração das reservas de gás natural do Mar do Norte.
Acredito que está ameaça é mais um daqueles pontos no qual se vê um paradoxo onde não existe nenhum.
Primeiramente, porque o Brasil, apesar de exportar uma grande gama de produtos primários, não está vivendo um “boom” na exploração destes recursos. Ele está exportando-os mais por escassez de mercado interno e pela fraqueza da moeda interna. Neste cenário, não estaria havendo uma supervalorização, mas apenas uma adequação da nossa moeda ao cenário externo.
Outro ponto que deve ser levado em conta é que nosso país é muito pouco aberto comercialmente. Apesar do crescimento acelerado do nosso comércio exterior, ele tem um peso relativo muito pequeno em nossa economia, se nos compararmos a economias de porte e grau de desenvolvimento semelhantes. Crescimento acelerado tende a trazer desequilíbrios momentâneos; não será a rigidez cambial que reequilibrará a balança cambial, mesmo porque nós precisamos de mais importações também, por mais que os industriais brasileiros digam o contrário.
E mais importante de tudo, a taxa de câmbio é apenas um dos fatores de competitividade de uma nação, e seguramente não é a mais importante. De nada adianta termos um câmbio ultra-competitivo se não acabarmos com os demais fatores limitantes que diminuem nossa competitividade. E o detalhe é que estes outros fatores são, ao contrário do cambial, oriundos de decisões internas e não da conjuntura internacional. São eles, entre outros, a qualidades de nossa educação, de nossa infra-estrutura, de nosso regime legal.
Enquanto se taxar a produção nacional com valores próximos de 50% e os produtos importados com algo em torno de 20%, será impossível fazer com que a industria nacional seja mais competitiva do que a estrangeira (e o erro obviamente não é na taxação do produto importado).
Se a única solução concebível é a demagógica desvalorização cambial, algo muito errado há com nossa economia com vistas as perspectivas para o futuro, mesmo porque desvalorização cambial rima com arrocho salarial, disfarçado, e faz dobradinha com concentração de renda.

domingo, 19 de junho de 2005

Escorrendo pelos dedos

Em continuação ao texto anterior, tentarei explicar as razões pelas quais, na minha opinião, como areia, a o controle do processo de globalização está escorrendo por entre os dedos dos países ricos.
Este controle corre riscos, primeiramente, por razões demográficas. A população dos países ricos é de aproximadamente um sétimo da população global, com tendência decrescente de importância, e a medida que vão se acrescentando mais elos nas correntes de cada agente de globalização )empresas, organismos internacionais, etc) mais os interesses de outrem devem ser avaliados.
Com peso demográfico crescente, e também todos os ônus e bônus que isto traz, os países pobres aumentam sua importância tanto como consumidores como produtores, deslocando outros como mercado e ganhando espaço nos aclamados corações e mentes de quem decide realmente, os dirigentes corporativos.
Outro fator é o de custos. Os padrões exigidos das empresas nos países de primeiro mundo: ambientais, salariais e quaisquer outros ais que possamos procurar; tornam a produção muito mais barata em outras localidades. Apesar destes custos tenderem a se equiparar com o passar do tempo, tanto por pressões internas quanto internas, a simples existência destas diferenças provoca um aumento de importância dos países detentores de custos menores. Tanto econômica quanto política.
Um outro fator, e talvez o mais importante e incompreendido deles, é que a globalização acaba com velhas estruturas clientelistas entre países, e não os reforça – como costumam dizer os partidos de esquerda -, em alguns casos invertendo as relações de dependência que ocorrem a séculos.
Países de renda aumentada pela globalização (os imensos exemplos são Índia e China) tornam-se concorrentes dos países de primeiro mundo pelas reservas naturais Terra afora. Isto fortalece os exportadores líquidos de produtos primários (países da Opep, Brasil, entre outros) e enfraquece os importadores (adivinhe quem).
Apesar de ainda terem meios de contra-atacar, principalmente diminuindo a demanda pelos mesmos, os países de primeiro mundo vêem sua influência se esvair. Pelo menos por algum tempo não poderão ser os clientes cheios de razão.
Estes fatores acabarão por gerar mudanças radicais na geopolítica mundial, cabe a cada governante se adiantar a elas e tentar prosperar nelas.
Quanto aos nossos, creio que estão no caminho correto. Estão ao menos lendo, aparentemente, o quadro conjuntural da mesma maneira que eu. Se estamos certos, o futuro irá mostrar, mas a diversificação de mercados, diminuindo o peso dos países ricos, em nada nos atrapalhou até agora.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

Me expliquem, por favor

Tento, tento, mas não consigo entender qual é a urgência de propósitos que torna tão necessário que, governo após governo, o congresso tenha que ser comprado, de um jeito ou de outro, para que ocorra a tal governabilidade.
Como o próprio nome diz, o Congresso faz parte do poder legislativo, ou seja, tem que legislar. Legislar trata-se de fazer algo que não é transitório, trata-se de fazer algo que durará por longos períodos, trata-se de pensar mandatos ou gerações além.
Uma lei é, no campo das ciências, algo que já está provado após várias e exaustivas experimentações de validade. É algo praticamente imutável, e está lá para mostrar-se faça chuva amazônica ou sol saárico.
Bem, parece que aqui o Congresso não é feito para criar leis, é feito para dar sustentação ao Poder Executivo. Como não há nada de graça (o verbo dar foi erroneamente colocado, se pensarmos bem), esta governabilidade é conquistada a base de troca. Um favorzinho aqui, um carguinho ali, dizem até que um dinheirinho acolá.
Mas será que isto é realmente necessário?
Na minha opinião não seria se, e existem sempre os ses, cada um fizesse a sua parte. Se o executivo executasse, o judiciário julgasse, e o legislativo legislasse - em causa alheia – tudo estaria resolvido. Porém o óbvio é sempre muito difícil de ser encontrado quando se trata da administração pública brasileira.
A princípio seria possível que os prefeitos, governadores e presidentes cumprissem seus mandatos sem ao menos entrar nos congressos e câmaras de seus respectivos domínios, mas isto nunca acontece.
Cada novo eleito que chega ao poder executivo quer revolucionar. Esbarra em empecilhos legais e, claro, procura mudar as leis; não os projetos que são, afinal, perfeitos. Não que seja errado o poder executivo mandar projetos de leis para o poder legislativo, isto é um direito constitucional de todo o cidadão, por que não seria de um ente federado. Só que o que está errada é a mentalidade.
Os que exercem o poder executivo deveriam se preocupar primeiro em fazer o que primeiro lhes foi conferido como tarefa, criar e gerir as políticas públicas para o bem-estar da população, com as regras que lhes são apresentadas. A mudança de regra deveria ser uma excepcionalidade, um verdadeiro caso digno de nota.
Neste caso caberiam às câmaras, assembléias e afins montar as regras do jogo. O famoso arcabouço legal. Adequar as leis às mudanças pelas quais a sociedade passa. E também aprovar (reparem no verbo) ou não o orçamento que o executivo apresenta.
Como tudo isso é ficção aqui no Brasil, cada governo que entra no poder quer ser o marco fundador e os legisladores querem apenas se ocupar das questões do momento (e nas horas vagas interferir nos rumos do executivo), é crise atrás de crise. Medidas-provisórias atrás de medidas-provisórias.CPI atrás de CPI.
Algum dia políticos corajosos quebrarão este círculo e farão o dever para o qual foi eleito, só nos resta saber quando.

quinta-feira, 9 de junho de 2005

Também sou

Neste país de 180 milhões de técnicos também quero meter meu bedelho na opção tática de nosso time por um, dois, três ou quatro atacantes.
Temo que a derrota de ontem faça Parreira retroceder e voltar a seu velho esqueminha de sempre, recuado e voltado aos contra-ataques. E o pior, com a anuência da mídia e da torcida, já que ficou “provado” que nós ficamos muito vulneráveis com o que era até ontem chamado de “quarteto mágico”; mesmo que ele não estivesse, a rigor, em campo.
Vamos primeiro aos fatos consumados. O time argentino foi melhor do que o brasileiro, é verdade, mas não foi um massacre. Todos os gols foram resultantes de falhas defensivas, porém nenhum foi diretamente ligado ao funcionamento, ou não, dos meio-campistas.
Foram duas falhas grotescas da defesa e um chute de fora, com desvio, quando estavam todos os jogadores argentinos marcados.
Aliás, o jogo não foi muito diferente do que o que ocorreu em Belo Horizonte, com vitória do Brasil pelo mesmo placar. O Brasil sofreu uma grande pressão, e antes de abrir o placar passou por várias ameaças de gol.
A grande falha, na minha opinião, é de desajuste de alguns jogadores do meio-de-campo à função pedida por Parreira. Zé Roberto, por exemplo, é um jogador que sempre atuou ofensivamente e nunca primou pelo poder de marcação, mesmo nos tempos de lateral-esquerda na Portuguesa. Para fazer a função que o técnico espera dele, tem que praticamente renunciar ao ataque, sua principal qualidade. E esta é a principal questão a ser resolvida pela comissão técnica.
Ou ela se fia em preferências por pessoas, e tenta encaixar o esquema ao que melhor convêm a elas, ou escolhe um esquema e tenta achar as pessoas mais apropriadas. Penso que a comissão está em dúvida sobre qual é o melhor caminho no momento.
Por sorte dela, estamos falando de seleção brasileira e, devido a profusão de jogadores, qualquer um dos caminhos pode funcionar.
De minha parte, ainda acredito que a melhor solução é a manutenção do “quadrado mágico”. Essa formação ainda pode fazer história.

Nota- De que adianta

Alguém poderia me explicar qual seria a utilidade da quebra dos sigilos fiscal e bancário do tesoureiro do PT para desvendar se ouve ou não o tal mensalão.
Qualquer um que tivesse movimentação de 3 milhões mensais na sua conta pessoal estaria na lista de pessoas mais ricas da Forbes, não atuando incognitamente na política. Ou então deveria ser preso por estupidez, vulga burrice, por fazer algo escondido tão às claras.
Essa onda de sempre brandir com quebra de sigilos deve parar. Sempre que alguém pede para ser investigado, desde que seja apenas em determinado quesito, deixa dúvidas se tem ou não algo escondido em outros.

quarta-feira, 8 de junho de 2005

Hora da colheita

Há algum tempo atrás, não me lembro bem por que razão, comecei a escrever um artigo que dizia que, ao contrário do que diz o conselho popular, o governo estava plantando limoeiros com os limões que apareciam e deixando-nos sedentos por sucos.
Bem, o artigo nem foi terminado e já chegou a época da colheita.
Dizem os analistas que a economia inverteu o sinal, mas isso ficou de lado nas coberturas midiáticas. Agora só se fala de Roberto Jefferson, Correios e IRB (vocês conheciam este instituto?). O chamado, pela Veja, “Homem-bomba” resolveu se detonar. Só não sabemos ainda se foi uma implosão controlada ou uma explosão que abalará tudo ao seu redor.
E a raiz de tudo isso não é nada menos que a incompetência do governo em transformar os problemas em oportunidades. Combate-se a doença simplesmente aumentando a dose de remédio (veneno?).
Quando do estouro da primeira crise do atual governo, Waldomirica, limitou-se a afastar o pivô e, imagino eu, aumentar os mimos para que congressistas deixassem estas coisas para lá. Estava plantada a primeira árvore.
E assim foi seguindo a conduta crise após crise. Prometia-se mundos e fundos. Algumas vezes se cumpria, outras não. Porém o mais importante; uma mudança sobre o modo de fazer política na nossa nação, nem pensar.
Agora temos o pior cenário possível se montando na nossa frente. As massas indignadas, um governo com culpa no cartório (ao menos de omissão) e um congresso totalmente desorientado. Por menos do que isso aprendemos, naquele passado que parece tão remoto, o significado da palavra impeachment.
Agora caberá aos mestres-cucas do planalto pesquisar todas as receitas possíveis com limões, pois apenas limonadas não darão conta da oferta. Da minha parte sugiro sobremesas: tortas, pavês, sorvetes...

segunda-feira, 6 de junho de 2005

E o cheque foi descontado

Sabe aquele cheque em branco que o Lula daria para o deputado, foi descontado. Pelo menos metaforicamente, como é do agrado do presidente.
A CPI que o governo estava fazendo de tudo para sufocar, está mais viva do que nunca agora. E acho que ao será fácil matá-la, seja em comissão de constituição e justiça, seja em plenário.
E parece que o homem não está com medo de jogar nada no ventilador, começando pelos nomes que, segundo a Veja, José Dirceu temia ver incriminados em uma cpi “minimamente bem feita”.
Ou o Roberto Jefferson não é tão culpado assim ou ele está jogando muito alto para ter mais aliados no processo de abafa; do tipo, se tá ligado, não tenho nada a perder mano. Será que vão pagar para ver?
Creio que não, tanto é que antes da entrevista se falava que o “murrinha” Palocci estava liberando verbas. Era o famoso pagar para não ver. E, caso queiram continuar pagando agora, o preço vai subir, e muito.
E dá-lhe troca de favores, e dá-lhe verbas e dá-lhe cargos
Parodiando a personagem Professor Raimundo: E a ética, ohhhh!!!!

quinta-feira, 2 de junho de 2005

A pátria e outras péssimas invenções

Ontem, revendo Doutor Jivago (Doctor Zhivago, 1965), fiquei matutando sobre a essa invenção moderna que tanto maus-feitos trouxe para o mundo: a pátria. Para não pensarem que estou louco, ao associar um filme que fala de amores a este tema, o pano de fundo para os romances de Jivago é a Rússia do período revolucionário do começo do século passado.
Até bem pouco tempo, a espécie humana tinha apenas as relações culturais a definir quem era quem. Assim, se eu nascesse em uma família cigana, seria cigano, não importava onde ocorresse o parto. E teria o mundo como lar, livre para me mover enquanto meus meios me permitissem.
Mas em algum ponto da idade moderna surgiram os estados-nação e com eles o patriotismo, as guerras territoriais, o colonialismo, etc, etc, etc.
Não que estas coisas tenham nascido todas juntas e que antes não ocorressem guerras, dominações e sentimentos de posse e pertencimento a certas localidades, porém os estados-nação potencializaram muito todas estas coisas. Antigas fronteiras territoriais incertas e porosas passaram a ser motivo para disputas sangrentas. Locais de nascimento passaram a dizer muito sobre o caráter das pessoas, ao menos nas visões de não compatriotas. Terras sem monarcas, ou sem os mesmos “fortes”, passaram a ser vistas como terras-de-ninguém.
Ou seja, os estados-nação, apesar de serem vistos hoje como uma coisa natural como o ar - ou a maconha, segundo alguns cantores – foram uma das muitas invenções que trouxeram o desastre ao homem como espécie.
Sem ela, seguramente não haveríamos alcançado nunca este estágio de desenvolvimento no que menos é necessário: a industria armamentista. E provavelmente não teríamos estas injustiças regionais que nos assolam neste início de milênio.
O certo é que a naturalidade deles está apenas na cabeça de alguns. Na nossa, com certeza, uma vez que a nação brasileira e a pátria brasileira foram criadas juntas, evitando a dualidade das idéias, e para nós nacionalismo e patriotismo são sinônimos perfeitos e devem ambos ser incentivados.
Mas pergunte a um tuareg do Saara, ou a um czágo morador da Moldávia, ou ainda a um txucarramãe da Amazônia qual é sua pátria. Se ele conseguir entender a questão, e utilizar o nosso conceito de pátria, provavelmente a resposta não será a esperada.
Nestes tempos de globalização que, descontando-se a tecnologia, já foi muito maior no passado, o desmonte das pátrias deveria ser o projeto mais buscado por todas as pessoas. Os votos não contra a constituição européia da França e da Holanda mostram que esta é uma idéia que ainda não foi encampada pelas maiorias.
Se algo pequeno como a constituição da Europa não consegue ser implementada, imaginem uma globalização de fato.