terça-feira, 28 de junho de 2005

Escorrendo pelos dedos

Em continuação ao texto anterior, tentarei explicar as razões pelas quais, na minha opinião, como areia, a o controle do processo de globalização está escorrendo por entre os dedos dos países ricos.
Este controle corre riscos, primeiramente, por razões demográficas. A população dos países ricos é de aproximadamente um sétimo da população global, com tendência decrescente de importância, e a medida que vão se acrescentando mais elos nas correntes de cada agente de globalização (empresas, organismos internacionais, etc) mais os interesses de outrem devem ser avaliados.
Com peso demográfico crescente, e também todos os ônus e bônus que isto traz, os países pobres aumentam sua importância tanto como consumidores como produtores, deslocando outros como mercado e ganhando espaço nos aclamados corações e mentes de quem decide realmente, os dirigentes corporativos.
Outro fator é o de custos. Os padrões exigidos das empresas nos países de primeiro mundo: ambientais, salariais e quaisquer outros ais que possamos procurar; tornam a produção muito mais barata em outras localidades. Apesar destes custos tenderem a se equiparar com o passar do tempo, tanto por pressões internas quanto internas, a simples existência destas diferenças provoca um aumento de importância dos países detentores de custos menores. Tanto econômica quanto política.
Um outro fator, e talvez o mais importante e incompreendido deles, é que a globalização acaba com velhas estruturas clientelistas entre países, e não os reforça – como costumam dizer os partidos de esquerda -, em alguns casos invertendo as relações de dependência que ocorrem a séculos.
Países de renda aumentada pela globalização (os imensos exemplos são Índia e China) tornam-se concorrentes dos países de primeiro mundo pelas reservas naturais Terra afora. Isto fortalece os exportadores líquidos de produtos primários (países da Opep, Brasil, entre outros) e enfraquece os importadores (adivinhe quem).
Apesar de ainda terem meios de contra-atacar, principalmente diminuindo a demanda pelos mesmos, os países de primeiro mundo vêem sua influência se esvair. Pelo menos por algum tempo não poderão ser os clientes cheios de razão.
Estes fatores acabarão por gerar mudanças radicais na geopolítica mundial, cabe a cada governante se adiantar a elas e tentar prosperar nelas.
Quanto aos nossos, creio que estão no caminho correto. Estão ao menos lendo, aparentemente, o quadro conjuntural da mesma maneira que eu. Se estamos certos? O futuro irá mostrar, mas a diversificação de mercados, diminuindo o peso dos países ricos, em nada nos atrapalhou até agora.

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