sexta-feira, 24 de junho de 2005

Desenvolvimento: que bicho é este?

Tornar-se um país desenvolvido é o que move o Brasil. Todos nós queremos que sejamos desenvolvidos. Só que há uma questão: o que é um país desenvolvido?
Pergunte ao seu vizinho o que é um país desenvolvido. Provavelmente a resposta será variação a respeito da riqueza. Apontar-se-ão muitos países como exemplo de desenvolvimento e o critério mais apontado será provavelmente o de renda per capita.
Só que este não é um indicador de desenvolvimento, apesar de haver uma imensa correlação. Tomando emprestado da biologia os significados: desenvolvimento é a mudança estrutural que muda a função que certo elemento exerce enquanto que crescimento é simplesmente o aumento das dimensões. Definições estas que perante o senso comum são sinônimos perfeitos.
Países com alta renda per capita tiveram no passado um grande crescimento econômico, não necessariamente desenvolvimento. Este seria uma mudança da predominância dos setores da economia perante o total do PIB de cada país. Do primário (extrativismo e agricultura) para o terciário (comércio e serviços).
Desta forma, o Brasil não é na realidade um país subdesenvolvido e sim um país pobre. Barbados e Emirados Árabes Unidos estariam entre os mais desenvolvidos do mundo, apesar de nunca serem colocados nesta lista, enquanto os nórdicos Finlândia e Noruega seriam menos desenvolvidos por retirarem uma grande fatia do seu PIB através do extrativismo, e eles são constantemente apontados como exemplos a serem seguidos.
A verdade é que o Brasil é um país extremamente desigual, em todos os quesitos. Existem bolsões desenvolvidos e áreas onde se pratica o extrativismo mais arcaico. Do ponto de vista de renda, há a Daslu e as favelas. Nossa economia é muito baseada em serviços e comércio, se pegarmos a foto panorâmica, porém está a neste momento passando por um processo de diminuição da importância destes setores no PIB.
O crescimento dos setores agropecuário e industrial poderia ser encarado como um processo de reversão de desenvolvimento, mas está sendo encarado como uma vitória.
É justo que queiramos um país mais desenvolvido, uma vez que, de um modo geral, podemos dizer que os que já o são têm taxas de bem-estar social melhores, porém não nos iludamos que teremos assim um país mais justo.
Justiças social e econômica não se alcançam automaticamente à medida que trafegamos na estrada do desenvolvimento. Tenho cá pra mim que é justamente o contrário, a justiça social traz mais demanda por serviços e ao conseqüente desenvolvimento.

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