A globalização foi evoluindo aos poucos, desde a II Segunda Guerra Mundial (momento em ela esteve em seu mais baixo nível na história) e muito lentamente, mas nos encontramos agora em um ponto muito importante da jornada.
Ela está afetando a uma parcela significativa, e sensível, das pessoas do mundo.
Talvez pela primeira vez na história, até as massas trabalhadoras perceberam que estão interligadas e que as conexões são mais fortes do que elas desejariam, para o bem e para o mal.
Não estou falando de discussões pontuais, como foi o medo dos peões de fábrica norte-americanos de perder seus empregos para um japonês a cerca de 20 anos. Agora é algo muito mais sistêmico.
Isto pode representar um grande risco para a globalização.
O certo é que, até o momento, os grandes vencedores do processo de globalização foram as populações dos países do dito primeiro mundo. Não por acaso, foram estes países que desenvolveram todo o arcabouço legal e comandaram todo o processo.
Só que do modo como as coisas estão se encaminhando, vai ser-lhes arrancado das mãos o controle proximamente. E eles ameaçam com retrocessos.
Os fatores que estão fazendo pender a balança do poder da globalização serão, por falta de espaço neste texto, apresentadas na coluna de amanhã, mas os que poderiam ser responsáveis pelo estancamento do processo globalizante estão relacionados a percepção do mesmo pelos eleitores dos ricos países democráticos.
Como foi dito à repórter Patrícia Campos Mello pelo pesquisador Jean-Pierre Lehmann em reportagem veiculada ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo, “Hoje, o europeu tem três pesadelos: perder o emprego para o encanador polonês, para o operário chinês ou para o criador de frango brasileiro”. Estes são também, com uma ou outra diferença na profissão ou no adjetivo pátrio, os pesadelos dos norte-americanos e japoneses.
Na mesma edição há um texto de Gilles Lapouge discutindo a PAC (Política agrícola comum) européia, que distorce totalmente o mercado agrícola mundial, dando, a título de exemplo, três dólares diários de subsídio para cada vaca francesa. Esta PAC, mais dia menos dia, terá que ser revogada, expondo os agricultores europeus a concorrência de outros nações com custos menores, como terão que ser revogados também os equivalentes norte-americanos e japoneses.
Coisas que os eleitores destes países não querem fazer.
A lógica então é: após dançar durante seis décadas a música da globalização, os países que mais se beneficiaram do baile pressionam pelo encerramento da festa agora que alguns novos dançarinos que acabaram de chegar, menos experientes e que podem responder por alguns pisões nos pés delicados - e também nos calos escondidos - daqueles.
Medidas demagógicas que em nada beneficiariam o mundo, porém agradariam em cheio os já citados eleitores, estão agora esperando por assinaturas nos países “civilizados”. Num contexto de civilização que significa, se eu me dou bem, a danação para o resto.
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