Está sendo brandida uma nova ameaça por aqueles que querem um câmbio rígido e controlado: a doença holandesa.
Esta consiste da supervalorização da moeda local, devido a uma predominância avassaladora das exportações sobre as importações, em decorrência de super-oferta de recursos naturais; levaria a desindustrialização pelo encarecimento relativo dos produtos nacionais em relação aos possíveis produtos industrializados de outros países. Tem este nome porque foi verificada primeiramente naquele país, com o “boom” exportador provocado pela descoberta e exploração das reservas de gás natural do Mar do Norte.
Acredito que está ameaça é mais um daqueles pontos no qual se vê um paradoxo onde não existe nenhum.
Primeiramente, porque o Brasil, apesar de exportar uma grande gama de produtos primários, não está vivendo um “boom” na exploração destes recursos. Ele está exportando-os mais por escassez de mercado interno e pela fraqueza da moeda interna. Neste cenário, não estaria havendo uma supervalorização, mas apenas uma adequação da nossa moeda ao cenário externo.
Outro ponto que deve ser levado em conta é que nosso país é muito pouco aberto comercialmente. Apesar do crescimento acelerado do nosso comércio exterior, ele tem um peso relativo muito pequeno em nossa economia, se nos compararmos a economias de porte e grau de desenvolvimento semelhantes. Crescimento acelerado tende a trazer desequilíbrios momentâneos; não será a rigidez cambial que reequilibrará a balança cambial, mesmo porque nós precisamos de mais importações também, por mais que os industriais brasileiros digam o contrário.
E mais importante de tudo, a taxa de câmbio é apenas um dos fatores de competitividade de uma nação, e seguramente não é a mais importante. De nada adianta termos um câmbio ultra-competitivo se não acabarmos com os demais fatores limitantes que diminuem nossa competitividade. E o detalhe é que estes outros fatores são, ao contrário do cambial, oriundos de decisões internas e não da conjuntura internacional. São eles, entre outros, a qualidades de nossa educação, de nossa infra-estrutura, de nosso regime legal.
Enquanto se taxar a produção nacional com valores próximos de 50% e os produtos importados com algo em torno de 20%, será impossível fazer com que a industria nacional seja mais competitiva do que a estrangeira (e o erro obviamente não é na taxação do produto importado).
Se a única solução concebível é a demagógica desvalorização cambial, algo muito errado há com nossa economia com vistas as perspectivas para o futuro, mesmo porque desvalorização cambial rima com arrocho salarial, disfarçado, e faz dobradinha com concentração de renda.
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