terça-feira, 23 de agosto de 2005

Alhos, bugalhos e outros semelhantes

Virou moda ficar comparando Brasil com China, Coréia e Irlanda. Será que isso faz sentido?
É óbvio que não, são países com nada em comum, tanto na cultura, como na geografia, quanto em qualquer outra coisa que se tentar comparar.
A China é um país que está passando por uma “revolução” na economia, está passando de uma economia marcadamente agrária para uma economia industrial sustentando-se nos pilares de financiamento externo e tecnologia estrangeira. É surpresa que seja o país que mais cresce no mundo?
No início do século passado houve um país que fez exatamente isso e durante as sete primeiras décadas daquele século foi a economia que mais cresceu no mundo. Esse país era o Brasil. Como podemos sentir na própria carne, este receituário não nos transformou em uma potência, pois claramente tem seus limitantes. Talvez a China tenha descoberto uma maneira de romper estas limitações, eu francamente duvido.
A única maneira de perpetuar-se como uma potência econômica madura é incluindo a maioria da população no mercado de consumo, e isso a China não parece estar fazendo. Depender de compradores externos é sempre uma receita para o litígio, como já vem ocorrendo, ou para a catástrofe, já que estes compradores sempre podem sumir de uma hora para a outra.
Um mercado interno forte é um seguro quanto a esta possível perda de clientes estrangeiros e um grande meio de se alcançar escala para tentar o mercado externo.
Este é o desafio da China, transformar seu imenso mercado interno potencial em um mercado real, mesmo porque o resto do mundo não conseguirá arcar com uma China produtora nos moldes da atual. Imagine 1 bilhão e meio de pessoas produzindo artigos industriais baratos, quem vai comprar esta avalanche de bugingangas?
A Coréia do Sul é um exemplo parecido com o da China, só que em uma escala muito menor, o que permitiu que ela se desenvolvesse mais. Agora já produz tecnologia própria e pode concorrer de igual para igual com os grandões.
E a Irlanda, é um país minúsculo quando comparado com os outros três (menos de 5 milhões de habitantes), com um mercado interno imenso (a própria União Européia) e investimentos externos diretos e subsídios gigantescos. Seria necessária muita incompetência para que o país não crescesse a taxas gigantescas e se não equiparasse aos seus demais parceiros. Eles não tiveram, talvez a tivéssemos, mas quem sabe?
Cada país é um país, podemos ficar procurando similaridades e tentar adaptar casos de sucessos de outros países onde estas similaridades se encontram, mas tentar pegar índices de crescimento e falar; vamos seguir o que aqueles caras fazem, simples assim, não funciona. E não tem como funcionar algum dia.

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