Para ser médico é necessário estudar medicina, para ser engenheiro é necessário estudar engenharia, para ser motorista é necessário freqüentar auto-escola. Tudo faz sentido, não? Não.
A princípio para exercer qualquer função seria necessário apenas saber conhecer o ofício, mas as corporações conseguiram encutir no inconsciente de nossa sociedade que para toda a função existe um diploma equivalente que permite ao portador que a exerça. Seria uma forma de proteger a sociedade de má-prática, só que acaba sendo uma forma de reserva de mercado; em suma, um meio de beneficiar economicamente uns escolhidos.
Tomemos, por exemplo, a função de motorista; para não entrar no jardim de corporações poderosas, porém para as quais o raciocínio é o mesmo.
Exige-se de alguém eu queira dirigir veículos automotores terrestres, quando em via pública, a posse de uma licença de motorista. Para consegui-la é necessário um número x de aulas, teóricas e práticas, em instituições especializadas de ensino e a realização de provas em um órgão público específico.
Qual é a justificativa? Proteger a sociedade de maus motoristas, assegurando que só se habilitem ao exercício da função os que passarem por um rigoroso processo de treinamento e de testes de capacidade.
Além do ridículo de ser inabilitado quem não está de posse de sua CNH (carteira nacional de habilitação) – é o mesmo que dizer um médico que não está carregando sua carteira do CRM (Conselho Regional de Medicina) não pode salvar vidas, isto é uma justificativa claramente falsa.
Os dados da violência no trânsito brasileiro demonstram que esta forma de capacitação não está funcionando. Seria muito mais eficiente se a educação para o trânsito fosse ensinada desde a primeira infância durante a educação obrigatória a que todas as crianças do país precisam se submeter. Se fosse feita de maneira correta, esta educação precoce e continuada formaria um exército de pessoas mais capacitadas do que as que hoje estão aos volantes e guidões Brasil afora.
Por não confiar no discernimento da população a legislação cria uma indústria da “instrução” de motoristas. Por não confiar na educação que dá ao povo a sociedade exige provas de habilitação.
E é assim em todas as funções tradicionais que já conseguiram atiçar a sede das corporações.
A existência desta infinidade de corporações e de especificações de profissões é apenas mais uma das engrenagens da máquina de atraso brasileira; uma das mais importantes, aliás. Basta verificar que o auge deste tipo de sociedade de escolhidos foi na antiga idade média, pela qual nossa sociedade nem passou diretamente, se bem que, principalmente, manufatureiras, ao contrário da nossa que é focada nas profissões de prestação de serviços.
Uma justiça crível e rápida poderia dar cabo deste atraso; responsabilizando aqueles que cometessem má-prática profissional ou pessoal, atentando contra a vida ou patrimonial – de todo tipo, do financeiro ao moral – de outrem.
Como esta justiça não existe, as corporações vicejam.
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