Moramos em um país esquizofrênico, não há dúvida, mas o grau parece estar se acentuando.
Sempre que dou uma olhada nos periódicos, seja em qual meio seja, me espanto com as discrepâncias entre a realidade e o discurso.
Não quero nem citar o nosso autista do planalto – é bom que ele fique com as barbas de molho - mas quero me ater a coisas mais simples, prosaicas; como a economia, por exemplo.
Mais precisamente o nosso súbito impulso exportador. Se tudo está errado, como dizem analistas e jornalistas especializados que resolvem opinar sobre o assunto, como podem mês após mês nossas exportações quebrarem recordes, assim como nosso saldo comercial.
Eu, como não sou nem analista nem especializado – e, portanto, não tenho um nome a zelar – posso dar meus pitacos.
Vamos por partes.
Primeiro, o câmbio. Será que ele está realmente tão desvalorizado assim? Pra quem se lembra dos 4 reais que um dólar comprava três anos atrás, estes 2,3 são realmente muito caros, só que não contam toda a história.
Dizem os especialistas que se levarmos em conta a inflação acumulada no período o dólar está mais valorizado do que em 1995, mais do que no século passado então.Mas pergunto aos especialistas, estamos levando em conta que grande parte desta já citada inflação ocorreu devido a valorização do já citado dólar em relação ao real?
Estamos, eu pergunto também, computando o fato de que faz três anos eram necessários 1,2 euros para comprar 1 dólar e hoje a relação se inverteu?
E pergunto ainda mais, seriam propaganda enganosa os dois estudos que foram lançados este ano e mostraram que Rio de Janeiro e São Paulo são das cidades grandes mais baratas para se morar no mundo? Só pode, já que nelas circula a super-ultra-hiper-valorizada moeda chamada real.
Quanto a infra-estrutura.
Há duas coisas a serem ditas sobre ela.
Que influencia o lucro do exportador não há dúvida. Só que também o faz com o importador. Os portos são os mesmos para ambas as partes, as estradas também, como qualquer outra forma de transporte dentro do nosso território.
Poderemos melhorá-los, e acredito que devemos, só que isto não significará necessariamente que nosso saldo comercial aumentará. Minha aposta é que aconteceria justamente o contrário. Nossa carga tributária passaria a ter um papel mais preponderante nos custos caso a infra-estrutura melhorasse. Quem vocês acham que sairia ganhando?
Ainda sobre a infra-estrutura, quero dizer que o dinheiro que é gasto devido a falta deste não é, digamos, “vaporizado”. Mas é isso que as análises fazem parecer, por exemplo, quando dizem que os produtores de soja norte-americanos ou argentinos são mais competitivos por terem um frete médio mais barato que os brasileiros. Primeiro porque este não é o único custo e segundo porque o dinheiro não desaparece, simplesmente.
Todo o dinheiro gasto a mais com transporte rodoviário em detrimento a tão sonhada matriz sobre trilhos ou sobre barcaças alimenta uma grande cadeia que vai dos caminhoneiros e passa pelos frentistas de posto de beira-de-estrada, passando por concessionárias, mecânicos, indústrias de auto-peças, etc. Muitas das engrenagens desta cadeia inclusive ganharam escala que as credenciaram a competir pelo mercado externo devida a grande escala destes negócios no Brasil.
Desta forma, a mudança da matriz de transporte poderá trazer grandes vantagens ao exportador - e ao importador – só que não significará também uma grande perda para toda esta cadeia.
Dizer que o país sairá ganhando é uma generalização que não me atrevo a fazer de sopetão.
É certo que os analistas devem tentar antecipar os acontecimentos, só que as análises parecem deslocadas d realidade. Em um país esquizofrênico faz todo o sentido.
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