sábado, 6 de agosto de 2005

Muito a lamentar

A crise política que nos enlameia a vista, traz a tona problemas administrativos maiores do que parecem.
Dia após dia, percebemos que a crise apenas ocorre devido à ineficiência fiscalizatória das instâncias de governo.
O estado das coisas só chegou até este vexame geral porque órgão após órgão, instituição após instituição, deixou de cumprir seu papel. Agora nós somos informados de que Marcos Valério tem posses e movimentação financeira incompatíveis com o que está registrado em sua declaração de bens; que um sem-número de contratos foram super-faturados; que as contas de campanha de todos (isto mesmo, todos) os políticos utilizam de caixa 2 em suas campanhas; que os tribunais eleitorais são ficção pura; etc, etc e etc.
Àqueles órgãos atrelados diretamente ao governo, poder-se-ia dar o desconto, indesejável, da crença na boa-fé de seus superiores ou da inépcia inquisitória por pressão dos mesmos. Mas o que dizer do Ministério Público e da mídia independente?
A eles esta desculpa esfarrapada não serve, uma vez que nem ao menos o esquema que envolvia o, não sei sinceramente como descrever a sua (dele) função, ilustre Marcos Valério era um primor de sofisticação ou um intrincado sistema que escondesse as evidências do ilícito.
O modo como o esquema despencou, um castelo de cartas não o faria de modo mais rápido, e o quase inimaginável número de “impressões digitais” espalhadas por aí revelam o quão tosco este era.
Desde as mudanças de partido até as vitórias de medidas impopulares no Congresso (marcadamente na Câmara, que se rebelou primeiro ao controle do Executivo), passando pela rápida mudança de padrão de vida de agora ilustres - e infames - figuras nacionais, tudo levava a crer que algo de muito errado havia pelos lados do planalto.
De modo que, o maior escândalo desta sucessão deles foi o de nada ter vindo a público antes.
A infinidade de auto-elogios sobre a atuação da mídia após as denúncias apresentadas por Roberto “Homem-bomba” Jefferson não espiam o pecado original da falta de apuração prévia. Podemos até dizer; antes tarde do que nunca, quando este tarde só acontece por intriguinhas palacianas, algo de podre há.

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